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CAPÍTULO SETE
Xiao Zhan
OBSERVEI COM ADMIRAÇÃO enquanto Yibo devorava seu sanduíche de frango e salada de frutas cítricas da Califórnia.
— Onde você coloca tudo isso? — Tínhamos pegado uma mesa externa no Hennessey’s e estávamos sentados à sombra do mar para ter uma vista.
Ele sorriu. — Nadei duas horas ontem antes do trabalho. Enquanto eu continuar queimando, os centímetros também permanecerão apagados. — Ele olhou para o nosso entorno. — Este é outro bom lugar para comer. Dei uma olhada no cardápio do café da manhã. Podemos vir aqui uma manhã? Quero experimentar a mistura de espinafre.
Eu ri. — Acredite em mim, viremos aqui com tanta frequência que você estará enjoado do Hennessey’s quando sair.
Mas isso ainda estava muito longe.
Quem eu estava enganando? Agosto chegaria antes que eu pudesse piscar. Eu não era mais uma adolescente, na época em que os verões pareciam durar para sempre. Uma das coisas que mais odiava em envelhecer era como o tempo parecia acelerar a cada ano que passava. A distância do Ano Novo ao Natal parecia cada vez mais curta.
Bebi um pouco de água.
— Alguma ideia do que você quer fazer depois da faculdade?
Seus olhos brilharam.
— Deixe-me terminar  a faculdade primeiro? Então vou conseguir um emprego. Embora eu não tenha certeza de onde. — Ele olhou para o oceano.
— Talvez em algum lugar na costa.
Eu ri de novo. — Isso restringe tudo. Qual costa?
Yibo encolheu os ombros. — Nenhuma ideia. — Ele enfiou o garfo no último pedaço de frango grelhado e depois espetou uma fatia de tomate. Quando ele engoliu, ele sorriu. — Não que eu esteja pensando nisso agora. Meu foco está na faculdade e na natação. — Ele sorriu. — E já falamos sobre foco, certo?
Eu estava tentando não pensar nisso.
Ele inclinou a cabeça para um lado. — E você?
— E quanto a mim?
— Onde você se vê daqui a cinco anos, digamos? Ainda vivendo uma boa vida com Yizhou?
Eu bufei. — Você acha que compartilhar com seu irmão é uma vida boa?
Yibo olhou para a praia.
— Parece muito perfeito de onde estou sentado.
— Suponho que seja o que parece.  — Porra.  Eu não queria dizer isso, mas simplesmente escapou.
Claro, ele percebeu.
— Parece que não é. — Yibo me olhou pensativamente. — Você está feliz, não está?
— Adoro meu trabalho, o lugar é incrível e adoro tudo isso. — Estendi meu braço para abranger a cena diante de nós.
Ele me deu um sorriso adoravelmente tímido.
— Parece que você também tem caras gostosos disponíveis.
E isso deveria ter tornado tudo perfeito, certo? Mas não era, eu não tinha certeza do porquê e não queria pensar nisso.
Mudei de assunto. — Então, como foi o primeiro dia de trabalho?
Yibo enfiou o garfo no resto da alface e do queijo feta. — Bom. Gemma, a gerente da piscina, é ótima. Você sabe como você tem um bom pressentimento sobre algumas pessoas?
Eu balancei a cabeça.
— A gerente da piscina na faculdade é uma vadia. Veja, posso dizer isso porque estou muito longe para que os ouvidos dela captem.
Seus olhos brilharam.
— Embora eu não apostasse nisso. Dito isto, ela deve ter dito coisas boas sobre mim para Gemma, então talvez eu esteja prestando um péssimo serviço a ela. — Aquele brilho novamente. — Mas eu duvido.
— Havia muitas crianças na piscina ontem?
Ele assentiu. — Felizmente estava quente demais para travessuras. — Então ele me olhou novamente, um olhar intenso que me fez pensar que ele conseguia ver através de mim.
Deus, espero que não.
— Vocês vão me deixar assistindo TV na sexta à noite?
Eu fiz uma careta. — Por que faríamos isso?
— Eu sei o que vocês dois fazem toda sexta-feira. Vocês vão a um bar, bebem algumas cervejas, Yizhou encontra uma linda garota, você encontra um cara fofo…
— Acho que vou ficar em casa nesta sexta-feira.
— Eu disse rapidamente.
Yibo fez uma careta.
— Não, você não precisa fazer isso por minha causa. Apenas siga sua vida como se eu não estivesse aqui.
Mas você  está aqui.  Seu sabonete líquido deixou um cheiro de esponja no banheiro, um aroma sedutor que mexeu com os sentidos. Para onde quer que eu olhasse no apartamento havia lembranças de sua presença. Seus chinelos estavam embaixo da mesa de centro. O fio do carregador do telefone serpenteava pelo chão.
Nada disso era um aborrecimento, porque eram dele.
Dei de ombros. — Mesmo assim, eu poderia ficar em casa.
— E fazer o que? Assistir TV? Fins de semana são para diversão. Você e Yizhou me dizem isso desde que eu era criança.
Eu sorri. — Ficar em casa não significa que não podemos nos divertir. Apenas...
Um tipo diferente  de diversão.
Do tipo que não acontecia na cama.
Seus olhos se arregalaram levemente. — Você tem algo em mente?
Recostei-me na cadeira.
— Sempre poderíamos ver se o seu vocabulário melhorou.
Yibo olhou para mim por um momento e então me lançou um olhar incrédulo. — Scrab? Vocês ainda não jogam isso, não é?
Deus, as memórias. Eu e Yizhou no quarto dele, deitados no chão com um tabuleiro de Scrabble colocado entre nós. Yibo sendo um idiota e andando por cima dele, rindo. É verdade que ele tinha cerca de quatro anos na época. À medida que envelhecíamos, os jogos se tornaram mais competitivos e Yibo costumava nos intrometer com sugestões.
Depois houve uma vez em que eu e Yibo consertamos tudo de modo que tudo que Yizhou tirou do saco de azulejos foi uma pilha de consoantes.
Bons tempos.
— Claro que sim. Geralmente quando estamos bêbados. Bebo algumas cervejas no pescoço e invento todo  tipo de palavras. Drunk Scrabble é um dos nossos favoritos. O objetivo é ver quantas palavras conseguimos inventar numa noite. Acho que o recorde é dez.
Yibo riu. — Dez não parece muitos.
— Você esqueceu que o nome desse jogo é Drunk  Scrabble? Nenhum de nós costuma estar sóbrio o suficiente para ser capaz de escrever tudo.
Ele olhou furioso. — Ei, isso não é justo. Um  de nós não pode beber, lembra?
Eu sorri. — Você acha mesmo que Yizhou não vai deixar você tomar uma cerveja?
— Levantei um único dedo. — Uma  cerveja. Dessa forma, poderemos inventar todas as palavras novas e você poderá anotá-las, porque será o único sóbrio o suficiente para fazê-lo. — Deixei escapar uma risada alegre. — Vamos quebrar esse recorde. Especialmente porque você também estará jogando. — Eu estava começando a gostar da ideia. As barras não iriam a lugar nenhum e Yibo não ficaria conosco para sempre, certo?
— Ok, admito que parece divertido.
Limpei meus lábios com meu guardanapo. — Então, pronto para ir à praia novamente – ou você já tomou sol o suficiente por um dia?
Ele me deu aquele sorriso preguiçoso que sempre parecia dar um nó no meu estômago.
— Você nunca pode ter sol suficiente. Mas vou ter que fazer com que você aplique mais protetor solar. Eu não quero queimar.
Eu bufei. — Você fica com queimaduras de sol e Yizhou vai chutar minha bunda.
— Então está resolvido. Voltando às toalhas, só que desta vez posso manter a cabeça na sombra. — Seus olhos brilharam. — Talvez até o final deste verão eu tenha um bronzeado tão bom quanto o seu.
— Talvez. Só que é aqui que aponto que fico bronzeado o ano todo e ele cobre a maior parte de mim. Não desaparece muito. — Apontei para meu short.
— Essa é a única parte mais pálida que o resto de mim. E isso é só porque não vou à Sacred Cove com a frequência que gostaria.
Yibo olhou para mim com interesse. — Sacred Cove?
— É uma praia que faz parte de Palos Verdes. Você não teria ouvido falar disso.
Uma espécie de lugar afastado, nada como esta praia.
— Parece que a roupa é opcional.
Eu sorri. — Isso é porque é. Eu descobri isso no ano passado. Você poderia passar direto por Palos Verdes e não saber o que está perdendo. Existem grutas marinhas e, mais adiante, uma falésia onde se pode mergulhar numa piscina profunda. As praias são acidentadas e nadar não é realmente uma opção. Não há restaurantes. E  é preciso usar calça comprida para caminhar até lá, porque as trilhas são ladeadas de cactos e todo tipo de planta que vai te cutucar.
— Plantas esquisitas, hein? — Yibo sorriu.
Eu sorri. — É um dos poucos lugares onde posso ir e onde posso ficar completamente sozinho.
— Com apenas o som do vento e das ondas batendo nas rochas.
Os lábios de Yibo se separaram e seus olhos brilharam. — Quando podemos ir para lá?
— Realmente?
— Claro. Parece ótimo. Eu adoraria se você pudesse me levar lá um dia. — Ele corou. — Nunca estive em uma praia onde roupas eram opcionais.
Eu ri. — Muitas pessoas que vejo lá ficam vestidas. — Eu sorri. — Galinhas. —
Inclinei a cabeça. — Tem certeza que quer experimentar?
— Ei, se você  puder fazer isso... — Yibo olhou para mim. — Por favor?
Como se eu pudesse resistir a ele. — Tudo bem. Iremos para lá um dia, quando nenhum de nós tiver trabalho.
— E quanto a Yizhou? Ele não vai lá com você?
Eu bufei. — Não há um bar perto, não há areia fofa e definitivamente não é  o lugar para andar descalço. O que significa que ele não seria pego morto lá. Então, se eu levar você lá, seremos só você e eu. — Meu coração disparou com a perspectiva.
Não pense nisso.
Não pense em Yibo nu.
Pare com isso.
Talvez esses pensamentos torturantes desaparecessem depois que ele estivesse conosco por algumas semanas.
Deus, espero que sim.
Yibo tirou a carteira do short e eu parei o movimento com a mão.
— E o que você pensa que está  fazendo?
— Pagando pelo almoço.
— Ah, não, você não está.
Ele olhou para mim. — Oh vamos lá.  Yizhou não me deixou contribuir com as compras, você  me comprou o café da manhã, ele  me comprou o jantar... por favor,  Xiao Zhan ? Certamente posso pagar por uma refeição ruim? — Ele mordeu o lábio. — Não que tenha sido  ruim, você entende, mas...
Retirei meu braço. — Tudo bem. Só desta vez. — Se isso o fazia se sentir bem, quem era eu para negar isso a ele?
Yibo sorriu. — Obrigado. — Ele contou as notas e as deixou debaixo do copo.
— Agora vamos voltar a melhorar meu bronzeado.
— Que bronzeado? — Eu provoquei enquanto me levantava da cadeira.
— Ei, eu apenas comecei. Me dê uma chance.
Eu ri. — Se você for como Yizhou, você vai se bronzear rapidamente.
Enquanto caminhávamos para a praia, eu fazia o possível para não pensar em Yibo, de pele dourada, estirado e nu sobre uma toalha.
Aparentemente meu cérebro não estava pronto para desistir de me torturar.
• ∫ *
ESGUICHEI PROTETOR SOLAR com cheiro de coco na palma da mão e coloquei o frasco sobre a toalha. Yibo estava deitado de bruços, a cabeça apoiada nos braços cruzados.
Cobri ambas as palmas das mãos com o creme e depois apliquei-as em seus ombros, movendo-as suavemente sobre as omoplatas e descendo pela coluna.
Yibo suspirou. — Isso é bom.
Fiquei feliz por ele não poder me ver. Meu pau evidentemente também achou que era bom. Continuei até que todo o protetor solar tivesse sido aplicado na pele, depois apliquei mais e desci para a curva da parte inferior de suas costas, logo antes do inchaço de sua bunda.
— Você já fez suas pernas?
— Hum-hmm.
Eu ri. — Você está adormecendo?
Ele riu. — Eu não posso evitar. Adam, aquele nadador de quem falei, faz uma ótima massagem, e isso sempre me faz dormir.
— Bem, se eu ouvir você roncando, vou te dar uma cutucada.
— Eu não ronco. — Declarou ele com óbvia indignação.
Eu ri. — Você esqueceu. Há apenas uma porta entre nós à noite. Eu ouço tudo. Incluindo aquela vez que algo me acordou algumas noites atrás. Não demorei muito para descobrir o que Yibo estava fazendo do outro lado daquela porta, e Deus me ajude, tentei não  ouvir, mas não consegui evitar. A audível falta de ar me disse o momento em que ele gozaria.
Foi então que percebi que se pudesse ouvi -lo. ..
Disse a mim mesmo que era natural, nada do que me envergonhar. E para ser honesto, não foi o pensamento de Yibo me ouvindo me masturbar que enviou calor através de mim.
Foi o pensamento de que eu tinha acabado de me impedir de dizer o nome dele enquanto disparava minha carga.
Que porra ele teria pensado disso?
— Está tudo esfregado?
Sua pergunta me trouxe de volta ao momento. — Sim, você terminou.
— Quer que eu coloque protetor solar nas suas costas?
Jesus, o pensamento de suas mãos sobre mim...
— Não, vou brindar um pouco a minha frente.
— Hum-hmm.
Eu tive que sorrir. — Vou acordar você quando chegar a hora de virar. — Deitei de costas na toalha, certificando-me de que minha cabeça estava na sombra, e fechei os olhos, meus ouvidos cheios do som das ondas, das risadas das crianças, dos pais gritando com os filhos, dos gritos fracos dos caras jogando vôlei mais adiante ao longo da praia e o zumbido de um avião voando baixo acima.
Minha cabeça estava cheia de Yibo.

(...)

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora