VIII.

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NARRADOR

O vento frio corta a pele de Arthur enquanto ele permanece imóvel na ponte.

Suas mãos estão firmes nas costas, os dedos trêmulos apenas de leve, embora não fosse apenas o clima que o perturbasse. Ao seu lado, o conselheiro de Drakar, um homem de expressão séria e olhos calculistas, mantém-se quieto, com o rolo de pergaminho ainda fechado em suas mãos.

— Arthur, irmão de Eleanor Syndarion — começa o conselheiro, sua voz baixa e grave rasgando o silêncio como o primeiro golpe de uma lâmina.

— Não se deve chamar a Rainha pelo nome. — interrompe o moreno, com firmeza cortante, os olhos brilhando em desafio, como brasas prestes a incendiar.

O conselheiro ergue uma sobrancelha, o rosto impassível como pedra.

— Drakar é o rei, não Eleanor.

Arthur dá um passo à frente, os ombros tensos, o maxilar travado.

— Talvez você devesse lembrar quem realmente tem o sangue Syndarion correndo nas veias. Quem é a última de seu nome. Quem nasceu para governar.

A tensão no ar se torna palpável, mas o conselheiro permanece inabalável, inclinando a cabeça ligeiramente, como um predador avaliando a presa.

— Sangue não faz um rei, Arthur. Nem um governante. O trono pertence àqueles que sabem usá-lo. Talvez seja por isso que sua irmã reina com medo e força... enquanto você, bom... — Ele pausa, o tom carregado de desprezo. — Se contenta em se esconder na sombra dela.

Arthur avança, cada palavra cuspida como veneno.

— A sombra dela? Minha irmã governa porque ela tem algo que os Drakaris jamais terão: legitimidade. O sangue dos Syndarion é poder. Poder verdadeiro, algo que o trono roubado de vocês nunca foi capaz de substituir.

O conselheiro estreita os olhos, um sorriso frio se formando em seus lábios.

— Legitimidade? Eleanor pode ser a última de seu nome, mas mesmo ela entende que o sangue por si só é inútil. Poder não se herda, Arthur. Ele é tomado, moldado e... temido.

O conselheiro dá um passo à frente, agora tão próximo de Arthur que sua voz parece perfurar o ar como um sussurro afiado.

— Sua irmã sabe disso melhor que ninguém. Afinal, ela não é apenas uma Syndarion. Ela é Eleanor. A mulher mais temida que este mundo já conheceu.

Arthur não recua, os punhos se fechando ao lado do corpo, mas não em raiva cega – havia algo perigoso em seus olhos, um brilho gélido que denunciava controle calculado. Ele inclina a cabeça, como se estivesse avaliando o homem à sua frente, antes de falar, a voz baixa e cortante:

— E você, conselheiro? Prefere ser lembrado como o cão fiel dos usurpadores ou como o homem que subestimou a última Syndarion?

O sorriso do conselheiro vacila por um instante, mas Arthur avança, a proximidade agora invertida, o tom mais baixo, quase íntimo, carregado de ameaça velada.

— Eleanor governa porque é temida, e com razão. Mas enquanto ela ergue exércitos e faz os reinos tremerem, eu a observo. Eu espero. Porque o poder que vocês tanto exaltam, o poder tomado, moldado, eu conheço melhor do que qualquer um de vocês.

Arthur dá um leve sorriso, que não alcança os olhos, cada palavra afiada como uma lâmina.

— Esquecido? Talvez. Mas eu prefiro ser a sombra que se move no silêncio... do que o tolo que ignora o que ela esconde.

Hydrazar: Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora