A cafeteria Gridd's tinha um ar nostálgico, com suas paredes cobertas de quadros antigos e um cheiro de café recém-passado que preenchia o ambiente. Jessie e Cinco entraram juntos, com um homem de aparência desgastada, talvez na casa dos cinquenta, acompanhando-os em silêncio. Os três se dirigiram à bancada, onde se acomodaram lado a lado - o homem no meio, Cinco à sua esquerda e Jessie à direita.
Uma senhora apareceu atrás do balcão, usando um uniforme rosa com um crachá que dizia "Agnes". Ela sorriu para eles, embora parecesse um pouco cansada.
- Desculpem a demora, a pia estava entupida. O que vão querer? - Ela olhou para Cinco, vendo apenas uma criança. - O garoto quer um copo de leite ou algo do tipo?
O homem, sem perder tempo, pediu com uma voz grave:
- Uma bomba de chocolate.
Cinco forçou um sorriso, claramente irritado, e respondeu:
- Um café puro.
Jessie, que tentava disfarçar uma risada, virou o rosto, mas não conseguiu conter o riso suave que escapou.
Agnes olhou para Jessie, sem entender o motivo da risada.
- E a moça, o que deseja?
Jessie se recompôs o suficiente para responder, ainda com um leve sorriso.
- O mesmo que o "garoto", e uma fatia daquela torta de maçã. - disse Jessie, ainda contendo uma risada.
A atendente assentiu e foi preparar os pedidos, deixando-os sozinhos.
Jessie quebrou o silêncio, olhando para Cinco com um olhar de curiosidade misturado com ceticismo.
- Então... vai me explicar como você ficou assim? - Ela gesticulou com as mãos, apontando para ele de cima a baixo.
Cinco suspirou, percebendo que aquela seria uma longa conversa.
- Bem... eu tive que projetar minha consciência numa versão suspensa em estado quântico que existe em todas as instâncias possíveis do tempo.
Jessie levantou uma sobrancelha, a expressão de quem não entendeu metade do que ele disse.
- E você ficou quanto tempo no futuro?
- Quarenta e cinco anos. Mais ou menos. - respondeu Cinco, com uma naturalidade que parecia contrariar o absurdo da frase.
Jessie franziu o cenho, tentando fazer as contas na cabeça.
- Tá dizendo que... tem 58 anos?
- Não, minha consciência tem 58 anos. - Cinco fez uma pausa, levantando as mãos e mostrando o corpo de adolescente. - Pelo visto, estou no meu corpo de 15 anos de novo.
Jessie não conseguiu segurar o riso. Um riso sincero e alto que ecoou pela cafeteria. Cinco a observou com irritação crescente.
- Tá rindo do quê?!
- Nada, é que... - Jessie se esforçou para conter a risada, limpando uma lágrima que escorria do canto do olho. - É meio difícil acreditar que você tem 58 anos.
Cinco, sem perder o ritmo, retrucou.
- Também é difícil acreditar que você tem 30, então estamos quites.
Jessie balançou a cabeça, ainda sorrindo, mas seu sorriso começou a desvanecer à medida que a conversa ficava mais séria.
Cinco continuou, tentando mudar o rumo da conversa.
- Você... lembra de quando a gente ia naquela cafeteria antiga quando éramos crianças? Você sempre pedia torta de maçã.
Jessie se recostou na cadeira, um olhar distante passando por seus olhos.
- É, eu lembro... - Ela fez uma pausa, como se estivesse revivendo aqueles momentos em sua mente. - Infelizmente, ela fechou já faz uns 4 anos.
Cinco assentiu, sentindo um misto de nostalgia e tristeza. Eles tinham perdido tanto, inclusive esses pequenos momentos que pareciam insignificantes, mas que significavam tanto.
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Jessie deu de ombros, tentando afastar a nostalgia. Mas Cinco parecia determinado a não deixar a conversa morrer.
- É por isso que eu voltei, Jessie - ele disse, a voz mais firme do que antes. - Há coisas que precisam ser feitas, problemas que precisam ser resolvidos.
Jessie estreitou os olhos, captando o tom evasivo de Cinco.
- Que tipo de problemas? - ela perguntou, cruzando os braços. Cinco sempre fora direto com ela, então essa evasão parecia um sinal de alerta.
- Nada que você precise se preocupar - respondeu Cinco, tentando desviar da pergunta.
Isso só fez com que Jessie ficasse mais irritada. Ela se inclinou para frente, os olhos fixos em Cinco, como se tentasse ler seus pensamentos.
- Você está escondendo alguma coisa de novo, não está? - a frustração em sua voz era palpável. - Depois de todo esse tempo, você ainda acha que pode me proteger ao me manter no escuro? Como se eu fosse uma criança!
Cinco revirou os olhos, a paciência começando a se esgotar.
- Não é isso, Jessie. Eu só... - Ele hesitou, escolhendo as palavras com cuidado. - Eu só não quero te envolver em algo que pode ser perigoso.
Jessie soltou uma risada amarga.
- Perigoso? Cinco, a nossa vida inteira foi cheia de perigo! Crescemos numa casa onde nossa única utilidade era sermos armas! Não me venha com essa de me proteger, porque eu já estou cansada disso!
A tensão entre eles aumentava a cada palavra. Cinco sentiu a pressão em seu peito aumentar. Ele sabia que Jessie tinha razão, mas também sabia que não podia contar a ela sobre o fim do mundo, pelo menos, não ainda.
- Eu não posso te contar tudo agora, Jessie. Confia em mim, eu estou tentando fazer o que é certo.
Jessie balançou a cabeça, descrente.
- Confiar em você? Depois de tudo que passamos, você ainda acha que pode decidir o que é ou não certo para mim? Eu não sou mais aquela garotinha assustada que precisa da sua proteção, Cinco!
Cinco tentou se manter calmo, mas as palavras de Jessie o atingiram em cheio.
- Não se trata de te tratar como uma criança, Jessie! Eu só estou tentando evitar que você se machuque mais do que já foi!
- E quem disse que você tem esse direito?! - Jessie rebateu, a voz subindo um tom. - Eu tenho o direito de saber a verdade, seja ela qual for. Eu cansei de ser manipulada e mantida no escuro!
A frustração de Cinco se transformou em raiva, e ele se levantou abruptamente da bancada, encarando Jessie com uma intensidade que fez o ar entre eles parecer mais pesado.
- Eu estou tentando salvar o mundo, Jessie! E você aí, preocupada em como eu estou te tratando!
O silêncio que se seguiu foi sufocante. Jessie sentiu o impacto das palavras de Cinco como um soco no estômago. Por um momento, ela ficou sem palavras, os olhos brilhando com uma mistura de mágoa e raiva.
Jessie se levantou bruscamente da bancada, deixando algumas notas para cobrir sua torta e o café intocado. Com passos rápidos, ela começou a se dirigir para a porta da Gridd's. Cinco, ainda fervendo de frustração, não estava disposto a deixar a discussão terminar assim.
Em um piscar de olhos, ele se teletransportou para a frente dela, bloqueando a saída.
- Aonde pensa que você vai?! - Cinco perguntou, o tom afiado e os olhos fixos nos dela.
Jessie parou abruptamente, quase esbarrando nele, e lançou um olhar de puro desdém. - Para a casa da Vanya, onde não preciso ouvir sermão de quem pensa que sabe o que é melhor para todo mundo. Aliás, desde quando eu devo satisfação para você?
Cinco, visivelmente irritado, tentou replicar, mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, Jessie desapareceu diante dos seus olhos, usando seu poder de invisibilidade. Ele girou o corpo, olhando ao redor, mas ela já havia saído, deixando-o sozinho na porta da cafeteria, encarando o vazio e a raiva borbulhando.
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𝕿𝖍𝖊 𝖀𝖒𝖇𝖗𝖊𝖑𝖑𝖆 𝕬𝖈𝖆𝖉𝖊𝖒𝖞 • ℕ𝕦𝕞𝕓𝕖𝕣 𝕊𝕖𝕧𝕖𝕟
FanfictionPara todas as iludidas que sonham com um par romântico para Cinco e que ficaram furiosas com a 4ª temporada, é melhor se preparar para uma dose de realidade. Sério, o que foi aquilo? Se você esperava algo que não fosse um desastre absoluto, talvez s...