Capítulo 10
Thamy caminhou lentamente até seu apartamento, as luzes da cidade piscando ao seu redor, mas sua mente estava em outro lugar. Ela se lembrava de como se sentiu no palco, de como seus movimentos fluíam de forma natural, de como a música a envolvia e a fazia esquecer de todas as preocupações. Dançar era sua paixão, sua fuga. Mas agora, parecia que até isso estava sendo tirado dela.
Chegando em casa, encontrou Kira na sala, assistindo a algo na televisão. Sua amiga a olhou com curiosidade, percebendo imediatamente que algo estava errado.
— O que aconteceu? — Kira perguntou, preocupada, enquanto abaixava o volume da TV.
Thamy jogou a bolsa no sofá e se sentou ao lado dela, soltando um longo suspiro.
— Salvatore me encontrou, — ela respondeu, cansada.
Kira arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— O que? Como? Ele te seguiu?
— Não sei. Ele apareceu na boate, me tirou do palco e disse que eu não ia dançar mais lá.
Kira ficou em silêncio por um momento, processando a informação. Então, balançou a cabeça, irritada.
— Ele não pode controlar sua vida assim! Quem ele pensa que é?
— Ele é... Salvatore Romero,— respondeu, com amargura. — E homens como ele sempre têm o poder de controlar tudo ao seu redor. Mas eu não vou deixar que ele faça isso comigo. Eu preciso do dinheiro, Kira. Não posso simplesmente parar de dançar.
Kira olhou para a amiga com empatia. Sabia das dificuldades que Thamy enfrentava, e de como ela lutava todos os dias para se manter firme, apesar das adversidades.
— Thamy, você sabe que pode contar comigo,— Kira disse, com seriedade. — Eu sei que minha situação não é a melhor, mas a gente pode dar um jeito. Sempre damos.
Thamy olhou para sua amiga, sabendo que ela falava com o coração, mas a realidade era mais dura. Kira lutava contra sua diabetes, e mesmo que tentasse ajudar, Thamy não poderia colocá-la ainda mais em risco. O trabalho em lanchonetes e pequenos bicos já era suficiente para deixá-la exausta e vulnerável.
— Eu sei, Kira. Mas você tem seus próprios problemas para lidar,— Thamy respondeu, com um sorriso triste. — Não quero que você se sobrecarregue por minha causa.
Kira segurou a mão dela com firmeza.
— Você é minha amiga. A gente cuida uma da outra. Vamos encontrar um jeito, juntas.
Thamy assentiu, apreciando a lealdade da amiga, mas ainda assim sentia o peso da responsabilidade em seus ombros. Ela precisava encontrar uma solução para sua situação, e rápido.
— Eu vou dar um jeito, Kira,— disse Thamy, determinada. — Vou encontrar outro lugar para dançar. Não vou deixar Salvatore ou qualquer outra pessoa me impedir de seguir em frente.—
Com essa decisão tomada, Thamy sabia que o caminho à frente seria árduo, mas não poderia desistir agora. Ela era forte, e por mais que os desafios continuassem a surgir, não deixaria que nada a derrubasse.
No fundo de sua mente, entretanto, ela não conseguia afastar os pensamentos sobre Salvatore. A maneira como ele a olhou, a raiva em seus olhos, e, acima de tudo, a sensação de que havia algo mais por trás de sua atitude protetora. Mas, por mais que o quisesse longe de sua vida, sabia que aquilo não seria fácil. Salvatore era como uma tempestade que a cercava, e fugir dela parecia cada vez mais impossível.
[...]
Salvatore saiu da sala com os punhos cerrados e o maxilar tenso. O ar noturno estava frio, mas a raiva fervia dentro dele, aquecendo seu corpo. Ele não conseguia apagar a imagem de Thamy dançando no palco, exposta aos olhares famintos daqueles homens. A ideia de que ela estava se arriscando desse jeito o deixava louco.
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Salvatore Romero: Dançado com o perigo
Ficção GeralMartina Moretti sempre encontrou na dança sua maior paixão e liberdade. Raptada ainda bebê e levada da Itália para o Brasil, foi criada com o nome de Thamy Costa por uma família adotiva que jamais lhe deu amor. Crescendo em um ambiente de desprezo e...