Capítulo 20

172 16 0
                                    

Capítulo 20

Francesco entrou na mansão Romero com passos firmes, mas o peso das revelações que trazia tornava cada movimento mais difícil do que o anterior. O clima leve e acolhedor que preenchia o lugar contrastava com a tempestade que se agitava dentro dele. Na sala, Graziela, a pequena luz da família, rodopiava alegremente ao som de uma música suave, seus risos infantis enchendo o ar de uma felicidade inocente. Todos a observavam, os sorrisos estampados nos rostos, embalados pela alegria simples daquele momento.

Por um instante, Francesco hesitou na entrada. Seus olhos percorreram a sala, observando os detalhes familiares que deveriam oferecer conforto, mas que agora pareciam distantes. A lareira crepitava ao fundo, lançando um brilho quente sobre os rostos dos familiares que ele tanto amava. Salvatore, seu irmão mais velho, estava ali, de pé, assistindo a filha com um sorriso discreto. Thamy, ao seu lado, riu enquanto aplaudia a pequena performance. Marco estava sentado no sofá, uma taça de vinho nas mãos, relaxado e sem qualquer ideia do que estava por vir.

Francesco deixou o som dos risos e da música o envolver enquanto se perdia em memórias. Lembrou-se de quando eram todos mais jovens, de um tempo em que as responsabilidades e os segredos sombrios da organização não pesavam sobre seus ombros. Lembrou-se do pai, um homem duro, mas justo, que liderava a família com força implacável. As tardes ensolaradas no jardim, onde ele e seus irmãos brincavam despreocupados, ainda estavam vivas em sua memória.

Então, uma lembrança em particular emergiu. Ele era apenas um menino, pequeno e indefeso, quando o cachorro da família, um grande rottweiler, o atacou. Não havia feito nada para provocar o animal, mas o cão, agitado, avançou sobre ele com ferocidade. Francesco lembrava-se do pânico, de como seus pés pareciam congelados no chão enquanto os dentes do animal vinham em sua direção. Foi Salvatore quem o salvou naquele dia. Seu irmão mais velho se jogou entre ele e o cachorro, recebendo uma mordida no braço enquanto empurrava Francesco para longe. A cicatriz que Salvatore ainda carregava era um lembrete daquele dia, um símbolo silencioso do sacrifício que o irmão fizera por ele.

Francesco desviou os olhos para o braço de Salvatore, onde sabia que a marca ainda estava. A cicatriz parecia uma metáfora para tudo o que Salvatore sempre fora para ele: o protetor, o líder, o irmão que sempre o resgatava, mesmo quando o preço era alto.

Seu peito se apertou com a lembrança. Havia tanto que ele devia a Salvatore, e agora trazia uma verdade que poderia despedaçar o equilíbrio frágil que construíram. "Como eu vou contar isso?", pensou Francesco, sua mente oscilando entre o amor por sua família e o fardo da revelação que tinha que fazer.

Enquanto seus pensamentos se agitavam, Marco o percebeu, mudando ligeiramente a expressão ao notar a seriedade no rosto do irmão. Marco ergueu uma sobrancelha, curioso, mas tentou suavizar o momento, como sempre fazia quando as tensões surgiam.

— Ei, Francesco! — chamou Marco, erguendo a taça de vinho com um sorriso descontraído. — Chegou a tempo de ver a bailarina da família em ação!

Francesco forçou um sorriso, mas a gravidade da situação ainda pesava em sua mente. Seus olhos suavizaram quando Graziela, ao ver o tio, correu em sua direção com os braços estendidos.

— Tio Francesco! — gritou a menina, saltando em seus braços com a energia inocente que só as crianças possuem.

Ele a pegou no colo, sentindo o calor do pequeno corpo, e por um momento, o peso da revelação que trazia recuou. Graziela o abraçou com força, e ele a segurou com carinho, o coração dividido entre a alegria daquele momento familiar e o turbilhão de pensamentos que o assombravam.

— Como minha bailarina está dançando tão bem hoje? — perguntou Francesco, tentando se concentrar no presente, sua voz suave e carinhosa enquanto sorria para a sobrinha.

Salvatore Romero: Dançado com o perigoOnde histórias criam vida. Descubra agora