CAPÍTULO 1

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Atualmente

Atrás do balcão, eu enfrentava sozinha uma avalanche de pedidos de sexta-feira. O aroma gostoso do café recém-preparado pairava no ar, oferecendo uma sensação de conforto que só existia nos sorrisos dos clientes. Para mim, era um caos controlado.

— Um cappuccino, por favor — solicitou alguém, interrompendo minha tentativa de concentração.

— Claro, um momento. — Por acidente, derrubei um pacote de açúcar, espalhando-o no chão e ao lado da máquina. — Droga.

— Uau, tá uma correria hoje, hein — brincou o homem de cabelos grisalhos ao observar meu desastre completo.

— Nem me fale. Deve ser o encanto do Natal — respondi ao disfarçar a frustração enquanto pegava uma das xícaras brancas do aquecedor. O calor quase queimou meus dedos.

Deslizei a mão pelas válvulas e observei a moagem dos grãos. Esperei o vapor subir, enquanto o cheiro preenchia a cafeteria com a promessa de alívio e tranquilidade.

— Aqui está o seu cappuccino, senhor. Espero que goste. Tenha uma ótima noite. — Entreguei a xícara, forçando um sorriso educado.

— Obrigada! — ao sair, levou consigo, um pouco da minha boa vontade.

Derrubei uma colher no exato momento em que acenei, provocando risos nas mesas ao lado. Era mais uma noite de distração causada pelo cansaço, só mais um expediente.

Enquanto limpava o açúcar derramado, pensava em como aquele emprego era essencial para ajudar minha mãe. Eu não podia me dar ao luxo de perder a paciência ou cometer erros, por mais exausta que estivesse. Pensar nela me dava forças; ela era minha maior motivação. Ela fazia o mesmo por mim.

— Andrey, por favor — chamei, abaixada atrás do balcão. Meu chefe estava enclausurado na sala da contabilidade e só saía de lá quando a calmaria reinava. — Preciso de você aqui.

Outro cliente se aproximou assim que o sino da porta tocou, sem me dar tempo de respirar.

— Um chocolate quente, por favor.

Parei de passar o pano no chão e de respirar, exatamente nessa ordem.

— Claro... só um segundo — tentei me recompor. Não havia possibilidade de...

Ao me levantar, bati a mão em uma caneca vazia. A porcelana estalou alto no piso de madeira e espatifou. — Sviatye bozhe — murmurei.

Meu estômago se apertou em um nó sufocante. Olhei ao redor, desesperada, vendo pessoas conversando, rindo e comendo, mas suas vozes soavam como um zumbido distante, um barulho de um enxame de abelhas. Meu coração martelava no peito, e meus olhos se recusavam a focar em qualquer coisa.

Tudo ficou embaçado, um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Meu corpo tremia, e um suor frio começava a se formar na testa. Sentia que, a qualquer momento, desmoronaria ali mesmo. Não podia deixar isso acontecer. Se desmaiasse ou causasse uma cena, certamente perderia meu emprego. Essa ideia corroeu minha mente e intensificava o medo que me consumia.

— Você ainda é desastrada — zombou.

Sergey Pavlova. Meus dedos se agitaram involuntariamente, e não tive coragem de encarar seus olhos. Meu ex-namorado, o homem que me abandonou há cinco anos. Não podia olhar para ele; encarar seu rosto seria impossível sem querer cuspir nele.

Não podia fazer isso, não ali, pelo menos. Antes de dizer qualquer coisa, pensei no que eu representava para ele. Eu era apenas a garota que cresceu na cozinha enquanto ele mergulhava na piscina gigantesca com seus amigos. Um completo idiota que fugiu das responsabilidades.

Red Snowfall: Edição em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora