CAPÍTULO 4

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— Como assim, Andrey? — Balancei o envelope desesperada, as mãos trêmulas. — O que eu fiz de errado?
Ele tirou os óculos do rosto com a calma que sempre o acompanhava e os colocou sobre o balcão. Sua expressão era quase neutra.

— Eu sinto muito, Yelena. — Ele suspirou, evitando o meu olhar. — Minha sobrinha está vindo da Sibéria e precisa de um emprego.

A indignação subiu à minha garganta como um fogo ardente. Como ele podia fazer isso comigo? Eu precisava daquele emprego. Sem ele, tudo desmoronaria. Não podíamos nos dar ao luxo de atrasar mais as contas, não quando finalmente parecia que as coisas poderiam dar certo.

— Só mais alguns meses! — Implorei, minha voz falhando. — Eu começo a procurar outro emprego e deixo assim que conseguir qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, Andrey.

Ele continuou sem me olhar, apenas balançando a cabeça, como se já tivesse tomado sua decisão há muito tempo. Seus dedos tamborilaram no balcão de forma impaciente, como se quisesse encerrar aquela conversa o mais rápido possível.

— Sinto muito, Yelena. — Ele falou, finalmente levantando os cílios ruivos por um breve segundo. — A partir de hoje, você não faz mais parte dessa cafeteria.

Aquelas palavras atingiram. Meu coração parecia estar batendo mais rápido, a respiração curta. A partir de hoje... não faço mais parte. A frase ecoava na minha mente, trazendo consigo o pânico. Eu tentei pensar em algo para dizer, em algum argumento que pudesse fazê-lo mudar de ideia, mas não havia nada. Eu não tinha o poder de lutar contra o favoritismo familiar, e Andrey estava decidido.
A sensação de desespero me tomou por completo. Não havia para onde correr.

— Vou fazer uma carta de recomendação para você, mesmo que não tenha sido a melhor das funcionárias.

O que esse pau no cu disse?
Congelei por um momento. Não fui das melhores funcionárias? A indignação queimou dentro de mim tão rápido que quase não conseguia respirar. Eu deveria jogar uma jarra de café na cabeça dele. Me matei por três anos seguidos, sozinha naquele balcão, segurando as pontas em todos os momentos difíceis, e é isso que ele tem para me dizer?

Dias e dias suportando o mau humor insuportável de Andrey. Dois acidentes de trabalho com vapor de água quente que quase me queimaram inteira, e eu nunca levei nada ao Ministério do Trabalho, mesmo sabendo que tinha todo o direito. Passei por dois episódios de Burnout tão intensos que me faziam chorar por não conseguir fechar uma gaveta direito. E ainda assim, eu continuava. Sempre continuava.

E ele me vem com essa?

Senti as lágrimas de raiva acumulando nos meus olhos, mas segurei. Ele não merecia nem isso. Não merecia saber o quanto aquelas palavras doeram, o quanto me feriram depois de tudo que passei para manter aquele emprego, para manter a dignidade. Andrey foi um pesadelo diário, mas eu resisti. E ele me descartou assim.

— Obrigada. As palavras saíram duras e frias, meus lábios apertados, minha respiração pesada. Não importava o que ele dissesse, eu não lhe daria o prazer de me ver quebrar.

Andrey voltou a se concentrar no que estava fazendo, ignorando completamente o impacto de suas palavras. Para ele, eu já estava fora, descartada. Mas para mim, essa luta estava apenas começando.

— Espero que tenha aprendido muito aqui, Yelena. Nós, empreendedores, fazemos o melhor para pessoas como você.

Pessoas como eu? O sangue ferveu nas minhas veias ao ouvir aquilo. A condescendência na voz dele, o jeito como me colocava abaixo, como se estivesse me fazendo um favor, quando a verdade é que eu me matei de trabalhar para ele.

Respirei fundo, mas a raiva já estava transbordando, e eu não ia mais segurar.

— Eu espero que essa merda feche qualquer dia desses — disparei. — Mas torço muito para que você tenha que sair dessa sua roupinha de super empresário e comece a trabalhar de verdade, para sentir o que todo mundo que passou por aqui sentiu.

Red Snowfall: Edição em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora