CAPÍTULO 7

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O farol piscava ao longe, sua luz intermitente cortava a escuridão e arderam meus olhos. Eu estava encolhida na esquina da mansão, abraçando meu corpo para tentar afastar o frio que penetrava até os ossos. Fazia dez minutos que esperava, e o vento gelado, junto com a ansiedade, me fazia questionar se deveria simplesmente voltar para casa. Minha mente estava em conflito. E se minha mãe me encontrasse aqui, sozinha, seria um caos.

A simples ideia fez meu estômago revirar. Cada segundo parecia uma eternidade, e a mansão, imponente atrás de mim, era um lembrete do que eu estava arriscando.

De repente, o ronco grave de uma moto quebrou o silêncio da rua deserta. Meu coração disparou, o medo se transformando em uma mistura de alívio e pânico. A moto parou a centímetros de mim, e o cheiro forte de gasolina queimou minhas narinas. Eu dei um passo para trás, observando com olhos arregalados enquanto Polina tirava o capacete preto fosco.

Ela sacudiu a cabeça, e seus longos cabelos pretos, molhados pela neve, se esparramaram ao vento, jogando pequenos flocos no meu rosto. Pisquei rapidamente, tentando limpar a neve dos olhos, enquanto meu coração martelava no peito.

Polina me encarou com seus olhos verdes intensos, a sobrancelha marcada por dois piercings se elevando em uma expressão de desconfiança que congelou meu sangue. Ela sempre tinha aquela aura de autoridade, algo que me fazia sentir pequena e exposta sob seu olhar.

Eu tentei manter a compostura, mas por dentro meu corpo tremia, não só pelo frio, mas pela pressão de sua presença. Ela estava esperando uma explicação... e eu não tinha uma boa.
As palavras ficaram presas na minha garganta, enquanto Polina continuava me observando, como se pudesse ver além da fachada que eu tentava manter. Eu queria ser tão corajosa quanto ela parecia, mas no fundo, me sentia.

— Precisamos conversar. — Foi tudo o que consegui dizer, minha voz saindo mais fraca do que eu esperava. Meus olhos vasculharam os arredores, buscando alguma segurança, mas tudo o que encontrei foi o vazio da rua e a sombra pesada da mansão.
Ela sorriu, brincando com o piercing da língua.

— Acho que está um pouco tarde para você resolver que eu existo, Yelena. — Polina cruzou os braços, os olhos verdes afiados, e o sarcasmo gotejou de cada palavra. O frio não parecia afetá-la; ela era tão impenetrável quanto o gelo à nossa volta.

Ela tinha razão. Me senti culpada. Eu queria responder e as palavras simplesmente... não vinham. Minha mente girava em torno do passado, da época em que nossa relação era diferente, mais leve, mais fácil. A verdade era amarga: não era Polina quem havia mudado. Era eu.

Nem sempre tivemos desavenças, na verdade... nunca tivemos uma de fato. Era tudo culpa minha. Por mais que tentasse, não conseguia desfazer o que fiz. Meus pensamentos se embaralhavam, buscando justificar a distância que criei entre nós, a realidade era que eu simplesmente a apaguei da minha vida, junto com Sergey. Não por maldade, mas por medo. Medo do que ela significava, medo de quem eu era quando estava com ela.

O silêncio entre nós se alongou, e cada segundo parecia uma acusação. Polina não precisava dizer mais nada — sua presença já me condenava. Eu queria me defender, queria explicar tudo o que estava acontecendo na minha cabeça, mas sabia que seria inútil.

— Vai ficar só me olhando? — Polina soltou o capacete que estava no braço, empurrando-o para as minhas mãos. O toque frio do objeto despertou uma memória distante, lembrando-me de que fazia anos desde a última vez que usei um.

Engoli em seco, tentando parecer despreocupada, a verdade era que meu coração estava acelerado.

— Aonde vamos? — perguntei, mesmo sabendo que, com Polina, a resposta nunca era simples. Ela sempre foi imprevisível. Excêntrica. O medo e a expectativa se juntaram no meu peito, mas eu não podia mostrar isso a ela. Não agora.

Red Snowfall: Edição em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora