CAPÍTULO 5

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— Eu quero que você me conte, com detalhes, o que aconteceu.

A voz da minha mãe soava calma, mas havia um fio de tensão ali, o tipo de tensão que não se desfazia até que ela ouvisse o que queria. Ela já tinha me perguntado três vezes e, ao invés de esperar que eu relaxasse, continuava me cercando. Sabia como me desgastar, com aquele jeito sutil de insistir.

Escovei os dentes no banheiro do corredor, tentando ignorar o aperto no peito. Não queria brigar, mas sentia a impaciência subindo pela minha cabeça. Ela me fazia sentir como se eu estivesse escondendo algo, quando, na verdade, só queria que me deixasse em paz.

— O que mais você quer saber? — perguntei, deixando escapar um tom mais duro do que pretendia.

Ela se aproximou, parando na porta do banheiro, o olhar fixo em mim através do espelho, deixando os cabelos bem curtos para trás da orelha. A expressão dela era serena, e eu sabia que aquela calmaria era um disfarce.

— Você sabe que precisamos desse emprego, não sabe? — Ela disse, num tom afetuoso, com as palavras pesando mais que o necessário. — E você não pode trabalhar na Mansão.

Parei de escovar os dentes, o gosto da pasta ficou amargo de repente. Encarando meu reflexo no espelho, na tentativa de entender o que ela estava insinuando. Estreitei as sobrancelhas, ela sempre falava como se soubesse de algo que eu não sabia.

— Não entendi. Hoje mesmo estava faltando gente lá.

A resposta saiu mais ríspida do que eu gostaria, não conseguia evitar. A mansão dos Pavlova não era o lugar dos sonhos, era uma solução temporária. Eu precisava de algo, qualquer coisa para ganhar dinheiro.

Ela suspirou, com uma leve inclinação da cabeça, prestes a me dar uma lição.

— Ah, Yelena... Você ainda é muito jovem para entender certas coisas. Mas ouça, nem tudo que parece uma boa oportunidade é de fato bom para você.

— Mãe, eu não sou criança — resmunguei, cuspindo a pasta na pia. — Se você quer dizer alguma coisa, diz logo. Você acha que eu não deveria ir pra mansão, por quê?

Ela permaneceu em silêncio por um momento, observando-me pelo reflexo do espelho, antes de falar, com aquela voz doce que me deixava ainda mais nervosa.

— Sergey proibiu.

A frustração dentro de mim passou a ferver. Senti minhas mãos apertarem a toalha com mais força do que eu percebera.

— Ele o quê?

Minha mãe cruzou os braços e deu dois passos na minha direção, o olhar carregado de intenções ocultas. A tensão no ar ficou incomoda, e eu sabia que, a qualquer momento, viriam perguntas, muitas perguntas. Ela nunca aceitava uma resposta simples.

— Isso mesmo que você ouviu. Foi uma ordem. Os patrões estão viajando, e ele está no controle de tudo agora.

Ela se aproximou ainda mais, quase me encurralando contra o box, o olhar fixo em mim como se quisesse arrancar algo que eu nem sabia estar escondendo.

— O que você fez a ele? — As palavras dela saíram afiadas, carregadas de uma suspeita.

Meus olhos se arregalaram, um nó subindo pela minha garganta. Eu esperava apoio, solidariedade, mas claro, isso era pedir demais. Ela nunca ficava do meu lado. Não quando podia insinuar que eu, de alguma forma, era a culpada.

— Eu não fiz nada. — Minha voz soou seca, qualquer traço de paciência tivesse evaporado. — Ele só não gosta de mim. — Passei por ela, saindo do banheiro com passos duros, enxugando a boca apressadamente com a toalha. — Ele é um bosta.

Red Snowfall: Edição em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora