CAPÍTULO 10

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Assim que cruzamos o portão da mansão, uma sensação incômoda me tomou. A decoração era inteiramente dedicada ao terror, mas não do tipo festivo e divertido como no Halloween. Não havia abóboras ou adereços caricatos. Era algo mais profundo, mais macabro. O cheiro de látex misturado ao perfume pesado de algum incenso barato chegou nas minhas narinas, enquanto meus olhos percorriam as paredes manchadas de sangue falso, que escorria em gotas tão realistas que por um momento prendi a respiração.

Sergey apertou a minha mão e me guiou pela casa gigantesca, completamente feita de vidro no meio daquela floresta.

As pessoas que trabalhavam na festa estavam transformadas em criaturas grotescas, com máscaras de sorrisos deformados e perturbadores. Seus olhares — a ausência deles por trás das máscaras — me seguiam enquanto eu caminhava, cada passo fazendo meu estômago revirar. Me senti sendo observada, mas sem a menor ideia de quem ou o quê estava por trás daqueles sorrisos monstruosos.

Bonecos nus de fantasmas pendiam do teto e das paredes, suas formas humanas grotescamente detalhadas, tão realistas que quase senti a necessidade de desviar o olhar, parecia estar invadindo a privacidade de alguém. A sensação de inquietude crescia a cada segundo, um nó apertando meu peito. Algo naquela mansão gritava perigo, mas por alguma razão, meus pés continuavam avançando, teimosos, presos a um no carpete caro.

— Senhor e senhora Pavlova — a voz suave de uma mulher loira, com ares de aeromoça, nos interrompeu. Seu sorriso era ensaiado, formal, mas havia algo nos olhos dela que parecia saber mais do que deixava transparecer. Meu estômago se revirou ao ouvir o sobrenome que ela usou para nos dois.
Como ele conseguiu o convite dos pais? Fiquei quieta, engolindo o incômodo.

— Senhor Pavlova. A pulseira verde — continuou ela, com a calma de quem explica um menu de restaurante — quer dizer que sua companheira gosta de ser observada, mas só pode ser tocada pelo senhor.
O ar desapareceu dos meus pulmões no mesmo instante em que senti meu rosto queimar. O que ela disse? Arregalei os olhos, sentindo um desconforto avassalador tomar conta de mim. Ela estava falando de mim, como se eu fosse um item à venda. Apontou diretamente para mim, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Meu olhar se movia pelo ambiente, tentando entender onde eu havia me metido. Homens de terno, mulheres de vestidos justos e olhares curiosos, como predadores à espreita.

— A laranja — prosseguiu ela. — indica que sua companheira está livre para satisfazer outros casais.

Meu coração acelerou, e o ar ficou pesado. Olhei para Sergey, buscando alguma explicação, mas ele mantinha-se impassível. Meus pensamentos giravam, confusos. Eu sabia que a festa era algo esquisito, uma daquelas extravagâncias que só os ricos podiam se dar ao luxo de participar, mas... isso? Eu não estava pronta para isso. Eu não iria me exibir, não para ninguém, muito menos para estranhos. Era como se o chão estivesse se desfazendo sob meus pés.

— E a pulseira preta — ela concluiu, com a mesma neutralidade. — Indica que ela pertence exclusivamente ao senhor.

Abri a boca para protestar, para dizer que não queria participar de nada disso, que havia algo terrivelmente errado. Antes que qualquer palavra escapasse, Sergey respondeu, com uma tranquilidade assustadora:

— Duas pretas, por favor. Minha esposa só pertence a mim e eu a ela.

Fui tomada por alívio e uma sensação desconcertante. Esposa? Minhas pernas tremiam enquanto processava o que acabara de acontecer. Eu estava protegida, sim, mas ao mesmo tempo, sentia o peso das palavras dele. Eu "pertencia" a ele. Sergey me colocara numa posição segura... e ao mesmo tempo completamente sob seu controle.

O nó no meu estômago apertava ainda mais. Isso tudo não podia estar acontecendo.

As pulseiras foram firmemente presas aos nossos pulsos, e, por mais estranho que parecesse, uma onda de euforia percorreu meu corpo. Talvez fosse a adrenalina, ou o fato de que eu estava prestes a me jogar em algo desconhecido e perigoso. O ritmo pulsante da música reverberava em mim, uma batida que fazia o chão vibrar sob meus pés. As luzes do lado de fora projetavam padrões pelas paredes de vidro dos corredores, criando um espetáculo luminoso que dançava com as sombras dos casais que se misturavam pelo salão.

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⏰ Última atualização: Oct 13 ⏰

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