CAPÍTULO 3

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Na noite seguinte, ao retornar exausta do trabalho, a batida estridente de "Bad Girls" quase estourou meus tímpanos ao abrir o portão. A música terrivelmente alta vibrava nas paredes da mansão, o que só podia significar uma coisa: os patrões da minha mãe tinham viajado, deixando os filhos para transformar o lugar em um caos quase incendiário. Típico. De onde estava pude ver que luzes piscavam pelas janelas e me deu uma ideia clara do que estava acontecendo lá dentro.

O frio cortante congelava meu rosto enquanto eu me dirigia para minha casa, fechando o pequeno portão com cuidado para evitar que a neve caísse sobre mim. Cada passo era pesado, meus músculos já cansados do dia. O beco até minha casa estava mergulhado em uma escuridão absoluta — a luz da entrada, que normalmente oferecia algum alívio, certamente havia queimado, e só poderia trocá-la no dia seguinte. Que sorte, mais uma coisa para resolver.

Com uma sacola cheia de stolítchni, meu pão preferido, quentinho, meu único desejo era chegar logo e me esconder embaixo de um cobertor, longe daquele caos. O calor dos pães ainda atravessava o plástico da sacola, aquecendo minhas mãos geladas, e por um breve momento, isso me deu um pequeno conforto. Mas, logo que olhei para a escuridão à frente, aquele breve consolo foi substituído pelo peso da rotina, o cansaço de sempre.

Só mais um dia, pensei, enquanto o som da música se distanciava, pensei que no próximo dia começaria tudo de novo.

Meus pés deslizaram de repente, e só me safei de uma queda agarrando as plantas do muro ao lado. Maldita falta de coordenação. Meu coração batia forte com o susto, e precisei de alguns segundos para recuperar o fôlego antes de seguir em frente. Mas, à medida que avançava, uma sensação desconfortável tomou conta de mim. Como se eu não estivesse sozinha.

Olhei para todos os não vi nada.
Droga. Sabia que dormir seria um desafio com todo aquele barulho infernal vindo da mansão. Gente gritando, garrafas quebrando a todo instante, a música insuportavelmente alta... Como se eles fossem os únicos no mundo. Eu continuei, tentando não escorregar de novo no tapete traiçoeiro de neve que cobria o chão. Andar era um desafio, e a escuridão à minha volta tornava tudo ainda mais difícil. Me guiei pelo tato, segurando as sacolas com força, pé por pé.

Lentamente, finalmente alcancei o final do corredor, me deparando com minha casa, que também estava mergulhada na escuridão. Lá estava ela, no topo de uma pequena colina — minha casinha de madeira de quatro cômodos. Simples, mas com privacidade. Subir a escada gasta e enferrujada até a entrada era o último obstáculo entre mim e o tão desejado descanso. As tábuas rangiam sob meus pés enquanto eu subia, e cada degrau escorregava mais que o corredor.

Mas, ao invés de paz, minha janela, como sempre, me oferecia uma vista indesejada: o quintal dos insuportáveis dos Pavlova, exceto Yvan, é claro. Era um lembrete constante de que, mesmo quando eu estava em casa, não havia como fugir completamente da presença deles. As luzes da mansão ainda brilhavam ao longe, a música alta alcançava meus ouvidos como um irritante eco. A noite seria longa.

Soltei um suspiro cansado, abrindo a porta com a expectativa de me enfiar debaixo do cobertor após um bom banho, contudo, sabendo que o barulho provavelmente tornaria isso quase impossível, não fiquei tão animada.

Ao entrar, passei pela sala pequena e pelo sofá coberto por uma manta vermelha e pela TV esquecida ligada. Mais a frente, passei pelo quarto da minha mãe, encontrando-a dormindo com um livro caído ao lado. A luz fraca da luminária iluminava seu rosto cansado. Ela parecia tão pequena ali, quase frágil. Ela sempre dormia assim, o cansaço levando-a embora no meio de uma leitura que, eu sabia, ela nem tinha interesse de verdade. Ler era uma distração, uma fuga de uma realidade que nunca a deixou ir completamente. Deixei os pães na cozinha, o calor deles contrastando com o frio que impregnava o ar da casa sem calefação. Caminhei até o banheiro para tomar um banho rápido, na esperança de lavar o desânimo do dia junto com a sujeira.

Red Snowfall: Edição em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora