Andei de um lado para o outro pelo quarto, meus pensamentos se embaralhavam a cada passo. Minha mãe tinha saído para acompanhar uma amiga no bingo, deixando a casa mergulhada em um silêncio que só fazia o peso da situação crescer ainda mais dentro de mim. O cartão que Sergey me deu estava bem ali, em cima da cama, como um lembrete de tudo o que eu não conseguia entender.
Mais cedo, eu conferi o saldo. E sim, o dinheiro estava lá. Todo ele. Um milhão de rublos. Meu Deus, que enrascada era essa? Eu não podia me afundar mais do que já estava, e, no entanto, era exatamente como eu me sentia: afundando em algo muito maior do que eu. O que Sergey ganharia me prejudicando? Eu não era nada comparado à vida de luxo que ele tinha. Por que ele me envolveria?
Mas não era só o cartão que estava ali, em cima da cama. Ao lado dele, estavam as cartas. Todas elas. Aquelas malditas cartas que eu nunca abri, que eu achava que não faziam mais sentido. Meu estômago se revirou só de olhar para elas.
Me perguntei a todos instante do porque abri-las após tantos anos. Já havia seguido em frente, ou pelo menos era o que eu dizia a mim mesma. Mas... e se as cartas tivessem algo a ver com aquele segredo? E se elas contivessem as respostas para o que Sergey estava tentando esconder? Eu precisava saber, não podia mais viver na ignorância.
Droga, droga! Eu me odiava quando estava perto dele, sempre cedia demais e me perdia no meio do caminho. Pensei na Sibéria, em como morar com a minha avó em um apartamento menor do que a minha casa poderia ser uma salvação. Não seria, era só mais um lugar para viver na pobreza e sem perspectiva.
Olhei para as cartas, e a indecisão me esmagou. Parte de mim queria jogá-las no fogo e acabar com aquilo de uma vez por todas. Mas outra parte, a parte que ainda sentia aquela pontada de esperança e curiosidade, me dizia que eu tinha que abrir. Que, talvez, as respostas que eu tanto temia estivessem ali dentro, à minha espera.
O telefone tocou, e o som abrupto me tirou do meu transe enquanto olhava para as cartas. Um número desconhecido apareceu na tela, e, por um instante, pensei que fosse minha mãe, talvez ligando do celular de alguma amiga.— Alô? — Atendi distraída, meus olhos ainda fixos nas cartas.
— Você vai abri-las ou não vai? — A voz de Sergey disparou pelo telefone, causando um arrepio instantâneo que percorreu minha espinha.
Minha raiva explodiu no mesmo instante.
— A janela está fechada, por onde você anda me espiando agora, Sergey?
— Talvez eu ainda te conheça o suficiente — respondeu ele, com aquele tom casual e irritante que sempre conseguia mexer comigo.
— Vá para as suas festas e me deixe em paz. — Apertei o telefone com mais força. — Nem vou perguntar como conseguiu meu número, porque sei que você não vai responder.
Ele riu, uma risada baixa e calculada, que me fez querer atirar o celular contra a parede.
— Amor.
Meu coração gelou. Não, ele não podia fazer isso comigo. Não naquele instante. Não depois de tudo. Eu não era o "amor" dele. Nunca fui, nunca seria. Para ele, tudo não passava de um jogo, um controle que ele achava que ainda tinha sobre mim.
— O que você quer? — Minha voz saiu seca, cortante, como uma defesa instintiva.
— Abra a primeira carta. — O tom dele ficou mais sério. — Só a primeira, mas abra logo. Você vai precisar sair de casa para ir ao centro ainda hoje.
Fiquei imóvel, segurando o telefone com tanta força que meus dedos começaram a doer.
Olhei para as cartas espalhadas sobre a cama. Aquelas cartas, que eu pensava serem apenas vestígios de um passado morto, pareciam carregar um mistério que eu não havia imaginado.
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Red Snowfall: Edição em Português
RomanceYelena vive uma vida comum e sem grandes emoções desde que Sergey, seu antigo amor, partiu há cinco anos. Acostumada com a rotina monótona, ela se resignou à ausência de paixão que marcou sua juventude. Tudo muda quando Sergey reaparece inesperadame...