Capítulo 10_ Preparada?

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Fui andando pela rua com um sorriso enorme no rosto. A Nina de alguns meses atrás não iria acreditar se a Nina de agora contasse que ela está TRABALHANDO. Na verdade, indo trabalhar, né?

A livraria não era tão longe da minha casa, dava cerca de uns 15 minutos andando, então eu tive que sair um pouco mais cedo de casa. No caminho, encontrei a dona Sandra, a senhora que vive na rua cuidando das plantas. Ela é um amor de pessoa, sempre me cumprimenta. Eu acho que ela é muito solitária, principalmente depois que os filhos dela foram embora.

Continuei andando e quando vi, já estava na porta da livraria. Olhei no relógio dourado que estava no meu pulso e eram 08:23 da manhã. Ótimo, nada mal para o primeiro dia. Só que me falta eu chegar atrasada no primeiro dia trabalhando. A porta estava trancada, ou seja, a Thaís ainda não tinha chegado, então eu teria que ficar esperando até que ela viesse abrir a livraria. Ai, meu Deus!!! Eu vou começar a trabalhar hoje, HOJEEEE!!!! Calma, Nina! Não te anima muito! E se ela for uma sequestradora? E se ela fizer parte de uma família de canibais com a marca S no peito??? Não, espera. Isso é "O massacre da serra elétrica". Não viaja, voz da minha cabeça!

Não devo ter esperado muito tempo quando vi Thaís e a sua irmã vindo em um carro. Seus cabelos ruivos, que ontem estavam presos em um rabo de cavalo, hoje estavam soltos. Devo admitir, senti até que o meu cabelo era sem graça depois de ver as duas, que por sinal eram ruivas. Thaís, que estava dirigindo, estacionou o carro em minha frente e desceu, acompanhada de sua irmã, a qual eu ainda não sabia o nome.

— Nina! Chegou cedo, ein? — Thaís disse sorrindo vindo em minha direção e abrindo os braços para me abraçar.

— Não podia me atrasar, né? — Falei sorrindo. Já vi que arrumei mais uma amiga aqui na cidade, ou melhor, uma das únicas.

— Bom, esqueci de apresentá-la antes, mas essa é minha irmã mais nova, Tiana. — Ela apresentou sua irmã, que não parecia ser mais nova do que ela. Se me dissessem que eram gêmeas, eu acreditava, pois elas eram muito parecidas.

— Prazer! — Falei ao cumprimentar ela com um abraço. Ela não disse nada, mas pelo menos sorriu.

— Vou abrir a livraria aqui e já começo a te explicar como que tudo funciona. — Thaís falou enquanto pegava uma chave e abria a porta de vidro.

— Certo! — Falei enquanto segurava minha bolsa com as duas mãos. Estava muito ansiosa para começar a trabalhar, mas também com medo de não gostarem do meu trabalho, ou de fazer alguma coisa errada.

Thaís entrou na livraria e fez sinal para que eu entrasse. Assim que eu entrei, Tiana se despediu e disse que iria trabalhar na padaria, a qual eu já tinha ido algumas vezes. Thaís fechou a porta e trancou, dizendo que iria primeiro me ensinar como tudo funcionava e depois iria abrir para que as pessoas pudessem entrar.

— Vem comigo que eu vou te mostrar onde você pode guardar suas coisas. — Ela disse indo em direção à uma porta que ficava escondida atrás da última estante, que estava posicionada de frente para quem via da porta. Segui ela e assim que ela destrancou a porta, vi uma salinha com algumas mesinhas de madeira pintada de branco, uma cadeiras, tinha um espelho de corpo inteiro e ao lado tinha uma porta com uma plaquinha identificando que era um banheiro. — Aqui é onde você vai poder ficar no seu horário de intervalo, que é das 16h até às 16:30. Quando der esse horário e não tiver nenhum cliente, você pode chavear a porta e pendurar uma plaquinha que diz já volto, que está no balcão. Nessa sala você pode comer um lanche, escrever um pouco, pode ir ao banheiro e ainda se olhar no espelho. Fiz essa sala quando ainda tinha alguns funcionários, antes deles me abandonarem. — Ela pôs as mãos no peito, fingindo um drama.

— Te abandonarem? — Perguntei franzindo o cenho.

— Eles não me abandonaram, eu os demiti. — Continuei com uma expressão confusa. Pra ela demitir os funcionários, eles deviam ter feito algo bem grave. Vendo a minha expressão, ela respondeu a pergunta que eu iria fazer. — Descobri que eles estavam me roubando. Eles pegavam o dinheiro dos clientes, fingiam que colocariam no caixa e botavam no bolso. Descobri isso quando vi o prejuízo que tinham me causado. Eu tinha colocado câmeras na loja e eles não viram. Peguei as imagens e denunciei na polícia, eles até foram presos, mas saíram no dia seguinte.

— Meu Deus!

— Pois é. — Ela fez uma pausa e pareceu se lembrar de algo. — Vamos voltar comigo para o balcão, vou te ensinar como que tudo funciona.

Saímos da sala e fomos até o balcão, onde tinha um computador, um caixa, como aqueles de supermercado, que é onde fica os trocos, algumas pilhas de livros e alguns cadernos e canetas.

— Aqui neste computador, você vai ligar, entrar neste aplicativo e aqui tem uma lista com todos os livros que temos aqui, o preço, o autor e o gênero que ele pertence. Pra facilitar e não precisar passar toda essa lista até encontrar o título que o cliente deseja, é só clicar nessa lupa e digitar o nome do livro. — Ela me explicou fazendo exatamente o que tinha acabado de me dizer. Pelo visto não era tão difícil. — Aqui, nestas pilhas são os livros que precisam ser registrados. Pra registrar é só por o título, nome do autor, gênero e estipular um preço.

— Como eu vou saber o preço que devo dar para o livro? — Perguntei.

— É simples. — Ela disse enquanto saía do aplicativo e entrava no Google. — Vem aqui e pesquisa o nome do livro. Vai aparecer algumas lojas online e você baseia o preço neles, depois é só ver o estado do livro, por exemplo, esse aqui, — Ela pegou um livro aleatório de uma das pilhas. — ele é usado, mas está em bom estado, então o preço pode ser 75% do valor dele se fosse novo.

— Entendi. — Falei. Ela continuou me explicando tudo, o que devia fazer, como estipular o preço para quem quisesse trocar livros, pra quem quisesse comprar livros novos e tudo mais. Realmente não era difícil e era um trabalho que eu gostaria muito.

Ela terminou de me explicar, pediu para que eu esperasse ali atrás do balcão e foi para uma outra sala, que ficava ao lado da sala do intervalo. Não demorou muito para que ela voltasse com uma camiseta preta nas mãos, onde tinha o logotipo da livraria.

— Esse é o uniforme que você vai usar aqui. — Ela me entregou e eu agradeci. Fui até a salinha e vesti a blusa, que ficou um pouco larga em mim, mas do jeitinho que eu gosto, e ainda combinou com a calça jeans bege que eu estava usando. Voltei para o balcão e percebi que ela não estava mais atrás dele, e sim parada na frente da porta com as duas mãos nela.

— Preparada? — Ela disse olhando para mim.

— Sim!

Continua...

Nina e Hugo: Entre olhares, sussurros e leituras - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora