Capítulo 03_ Claúdiooo!

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— Nina! — Ouvi minha mãe falar assim que abriu a porta da casa dela para que eu entrasse. — Achei que você tinha se esquecido que tinha pai e mãe.

— Não exagera, mãe! — Falei sorrindo. Estava com saudades dela e do meu pai. Realmente fazia algum tempo que eu não os visitava. — Bom te ver!

— Claúdiooo! — Ela gritou e logo em seguida olhou para mim com um sorriso no rosto. — Venha ver quem veio nos visitar. — Ficamos ali nos olhando e não demorou muito para meu pai aparecer na porta vestindo uma bermuda vermelha e uma camiseta azul, a roupa que ele sempre usava, desde que eu me conheço por gente.

— Meu bebê! — Disse ele enquanto vinha me abraçar com um sorriso de orelha à orelha. — Estava morrendo de saudades. E sua irmã? Tem notícias da Carol?

— Falei com ela esse dias, ela está em semana de provas na faculdade. — Falei. Era verdade. Minha irmã estava terminando a faculdade de medicina e estava cheia de trabalhos para fazer e também tinha que estudar para algumas provas. Não devia ser nem um pouco fácil ter que enfrentar um professor falar sobre doenças e tudo mais por 7 anos! Coragem!

— Que pena, assim estaríamos com a família toda reunida. — Disse minha mãe. Passei pela porta e me sentei no sofá da sala enquanto minha mãe fechava a porta.

Observei a sala de estar dos meus pais. Tudo estava da mesma forma, exceto o clima bom que estava na casa deles. Acho que a mudança minha e da Carol fez com que eles tirassem mais tempo para os dois. Me lembro até hoje do dia em que eu os avisei que iria morar sozinha, assim que completei meus 18 anos...

— Mãe? Pai? — Os chamei da sala. Já era hora de eu seguir com a minha vida e conquistar as minhas próprias coisas. Desde quando eu era mais nova eu já sonhava em morar sozinha, embora quisesse me casar um dia, mas como eu nem namorado tinha, precisava seguir com a minha vida sozinha mesmo.

— Fala, Nina! — Meu pai disse enquanto chegava na sala sem tirar os olhos da tela do celular. logo atrás dele vinha minha mãe, com um pano de prato no ombro e um prato de maionese nas mãos.

— O que foi, filha? — Ela perguntou um pouco impaciente.

Meu Deus, é agora!

— Eu vim avisar vocês que de agora em diante quero morar sozinha. — Falei tudo de uma vez e logo fechei os olhos com medo da reação deles. Desde criança eu era assim, morria de medo de perguntar as coisas para meus pais, com medo de receber um não como resposta, como seu eu fosse morrer por ser contrariada. Juro que eu não era mimada, só era...receosa.

Silêncio, era tudo o que eu escutava. Ou melhor, não escutava. Arrisquei e abri os meus olhos. Meus pais se olhavam um para o outro com um sorriso no rosto. Inesperado? Talvez. Tá, eu não faço ideia do que estava acontecendo, mas meus pais continuavam olhando um para o outro e eu ali sem entender nada.

— Mãe? — Perguntei ainda confusa, mas sem tirar os olhos deles. — Pai?

Os dois olharam para mim ainda sorrindo e eu já estava começando a ficar desconfiada. Eu esperava que eles fossem me xingar, dizer que eu era ingrata e não amava eles, mas eles estavam sorrindo?

— Filha, me doe o coração saber que você vai seguir o seu caminho, mas eu sei que é necessário. Por mais que eu quisesse proteger você debaixo das minhas asas, assim eu não iria permitir que você voasse. — Minha mãe falou com um sorriso um pouco mais fraco e com os olhos cheios de água. Putz, já vi que hoje é dia de "chororo".

— Desde que você nasceu, eu e sua mãe te criamos, te educamos e te ensinamos a andar pelos caminhos do Senhor para que um dia você fosse casar, formar a sua família e educar seus filhos da mesma forma que Deus nos ordenou. Por mais que você ainda não seja casada, em breve eu tenho certeza que vai encontrar o homem certo que vai cuidar de ti, vai te proteger e vocês terão filhos lindos! — Meu pai chegou mais perto de mim e pegou em minhas mãos. — Eu tenho muito orgulho da mulher que estás se formando, de tudo o que tem e vai conquistar, e nunca se esqueça que se algo der errado, será sempre bem-vinda para voltar pra casa da mamãe e do papai.

Não queria chorar, mas era meio inevitável. Nem senti as lágrimas escorrendo, quando vi, meu rosto já estava úmido e estava abraçada com meus pais. Tudo tinha dado certo até então. A minha liberdade finalmente foi conquistada...

[...]

— Carol me contou que você já fez a capa do seu livro novo. — Minha mãe falou enquanto estávamos lavando a louça. Já tínhamos almoçado e eu estava com tanta saudade de comer aqui. Por mais que eu trabalhe de casa, eu não tenho tanto tempo para visitá-los, pois a escrita acaba me deixando sem tempo, tendo que dedicar todo o meu dia para a escrita e quando eu chego em casa, estou morta de tanto olhar para uma tela. Claro que tinham dias que eu não conseguia ter muita criatividade e acabava escrevendo menos de 2000 palavras, mas em compensação, tinham dias que eu consegui escrever quase 5000. Não é muita coisa perto do tanto de palavras que um livro tem, mas para quem não tem taaanta experiência, até que estou indo bem. Não sou uma escritora há muitos anos, como a maioria dos escritores de sucesso, então acho que estou em um bom ritmo.

— Na verdade foi ela quem fez a capa pra mim, eu só fiz o rascunho. — Fiz uma pausa enquanto pegava o prato e começava a secar. — Carol é muito talentosa quando o assunto é desenho. Me surpreende que ela não tenha cursado moda ou algo que envolva design.

— Acho que estudar medicina fez muito bem pra ela. — Minha mãe disse — Ela vai ser uma excelente médica.

— Não tenho dúvidas.

Terminamos de lavar e secar as louças que tínhamos sujado e fomos para a sala, onde meu pai estava deitado no sofá assistindo televisão. Estava com tanta saudade de passar um tempo com meus velhos. O tempo passou muito rápido desde que saí da casa deles. Ser adulta não é nem um pouco fácil. Trabalhar, ganhar uma mixaria de salário e ainda ter que dar conta de cuidar de casa. Pra quem tem um marido deve ser bem mais fácil, poder dividir as contas, mas pra mim, que sou sozinha é bem difícil.

Não sou de me queixar, até porque tenho muitos motivos para agradecer à Deus, porém, teve muitas noites eu tive que sobreviver de cereal e leite. Já fazia algum tempo que eu estava desempregada e estava esperando algum comércio aceitar meu currículo, mas enquanto não tinha resposta, não poderia ficar parada sem fazer nada. Claro que como eu não sou uma escritora de grandes obras, não recebo uma grande quantia de dinheiro, mas é bem melhor do que ficar parada.

É, a vida adulta não é nem um pouco fácil!

Continua...

Nina e Hugo: Entre olhares, sussurros e leituras - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora