Percebi as folhas secas caindo perto dos meus pés enquanto caminhava pela rua. O outono havia chegado e junto com ele a paz em mim. Desde criança essa sempre fora a minha estação preferida do ano, quando as folhas caiam, quando não precisava usar tantas camadas de roupas e nem roupas tão finas.
O céu estava maravilhoso quando saí para ir à biblioteca, meu lugar favorito do mundo. Era lá de onde eu tirava as ideias para os meus livros e onde eu escrevia a maior parte deles. Quando estava em uma sala rodeada de livros, minha criatividade era muito maior. Não era todos os dias que eu ia, mas podia afirmar que passava mais tempo na biblioteca pública da cidade do que na minha própria casa.
Ao entrar na biblioteca, me deparei com Cíntia, a bibliotecária, que de certo não aguentava mais olhar para minha cara todas as semanas. Subi a escadaria e fui em direção à minha sala favorita, onde tinha uma janela enorme. Eu amo ficar escrevendo e admirando a vista do andar de cima.
Tirei o notebook da mochila e abri o Word. Estava quase terminando de escrever um novo livro, mais ainda não tinha encontrado um título, uma capa e um final surpreendente que fizesse com que os leitores se apaixonassem pela minha obra. Meus outros livros que publiquei na internet eram lidos por algumas pessoas, nada que tenha muito sucesso de vendas, mas era o suficiente para que eu me sentisse notada por alguém. Desde que terminei o ensino médio, criei coragem e comecei a publicá-los, até porque agora que não vou mais à escola, não preciso me preocupar com a opinião de meus colegas. Eu sabia que se publicasse um livro, nem que fosse o melhor livro do mundo, todos iriam rir de mim. Era a natureza deles. A liberdade que eu sentia ao poder escrever o que quisesse era uma sensação inexplicável.
Comecei a digitar no notebook e me surpreendi com a maneira em que as palavras surgiam em minha mente. Eu precisava escrever com muita frequência se quisesse ganhar mais dinheiro para me sustentar. Não ganhava muita coisa, cerca de 70% do valor das vendas, que já não eram muitas. Porém, de certa forma, dava para comprar as coisas básicas para sobreviver enquanto eu não arrumava um emprego fixo. Já havia enviado meu currículo para alguns estabelecimentos, mas não tinha recebido o retorno de nenhum.
— Nina! — Ouvi Cíntia me chamar — Sexta-feira vai ter um evento aqui na biblioteca. O prefeito pediu para mim escolher alguns autores locais para participar e divulgar seus livros. Você quer participar?
— É sério? — Cíntia assentiu com a cabeça enquanto eu tentava digerir as palavras que ela havia acabado de falar. — Claro que eu quero participar. Vai ser uma honra.
— Fico feliz. — Ela fez uma pausa — Vou te inscrever e te mando uma mensagem com as regras que você precisa seguir para participar.
— Tá bom, obrigada! — Cíntia deu um sorrisinho de leve e se retirou da sala. Não era sempre que ela estava de bom humor, como hoje.
A ideia de ter meus livros expostos aqui ia ser incrível. Eu tinha cerca de 5 livros físicos publicados por editora, mas a maioria dos que eu havia escrito eram e-books publicados de forma independente.
Voltei para o "trabalho" e fiquei ali escrevendo por no mínimo umas 2 horas. Resolvi fazer uma pausa e fui passear pela biblioteca enquanto descansava os olhos. Enquanto passava pelas prateleiras, um livro me chamou a atenção; era uma edição de luxo do livro Orgulho e Preconceito, da Jane Austen. Tentei pegar, mas eles estava em uma prateleira muito alta para que os meus 1,58 de altura pudessem alcançar. Continuei tentando, na expectativa de um milagre acontecer e eu conseguir pegar, quando senti um braço encostar no meu ombro. Me virei para trás e lá estava um homem que eu nunca havia visto na vida.
— Eu pego pra você! — Ele disse. Só então eu pude notar o quão lindo era seu rosto. Seus olhos eram verdes, os cabelos loiros caindo por cima dos olhos e o rosto corado. Ele era lindo! Mas muita areia para o meu caminhãozinho. — Aqui está. — Ele estendeu o livro para que eu pegasse e assim eu fiz.
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Nina e Hugo: Entre olhares, sussurros e leituras - DEGUSTAÇÃO
RomansaLavínia, ou melhor, Nina, é uma escritora de romances muito fofinhos que mexem com suas leitoras, sendo elas quase todas adolescentes. Nina mora sozinha, passa grande parte dos dias na biblioteca da cidade e ama seu cachorrinho Cheddar. Para quem nã...