8.

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Uma coisa que era muito natural entre Diego e Amaury, era a conversa. Juntos, desenvolveram a habilidade de nunca perder o assunto, de sempre terem sobre o que falar, arrancando risadas um do outro até a barriga doer e os olhos lacrimejarem.

Mas uma coisa que os dois tinham grande dificuldade, era conversar sobre eles. Ao longo dos anos, tudo isso ficou em segundo plano. Não tinham o que acrescentar, não havia a necessidade de dizer qualquer coisa. Não parecia uma questão a ser tratada.

Os dois viviam uma dinâmica que pouco era entendida, e eles mesmos não se esforçavam para compreender. Ultimamente, porém, era quase que uma evitação.

O pequeno elefante na sala que sempre existiu, agora era alimentado por sentimentos e questionamentos que se engasgavam em suas gargantas, e estava gigante, ocupando tanto espaço que era um trabalho árduo e, vamos combinar, em conjunto, para deixá-lo no canto, ignorado.

Era como se falar em voz alta fizesse a magia acabar, como quando se desperta de um sonho. Ou melhor, falar em voz alta era trazer à consciência, era tornar real.

Tornar real é ter que lidar.

Eles também não eram bons em lidar.

Lidavam um com o outro de forma tão gostosa como a sensação de beber água gelada em dia quente, mas lidar com os sentimentos pelo outro era basicamente como serem jogados em uma banheira de agulhas.

Ninguém gosta de agulhas, não é?

Amaury havia saído do banho e estava com a toalha envolta na cintura, se olhando no espelho enquanto passava creme com cheiro de coco em seus cabelos. Ouviu o celular apitar e sorriu ao ver a foto de Diego brilhar na tela.

[Diego / 17:05]: quero comer alguma coisa

[Amaury / 17:05]: Prazer. Alguma coisa.

[Diego / 17:05]: kkkkkk
idiota
tô falando sério
tô com fomeeeee :(((

[Amaury / 17:06]: Que tal a gente pedir hambúrguer?

[Diego / 17:06]: eu AMO quando você acerta!!!

[Amaury / 17:06]: Eu sempre acerto, Diego.
Em 15 minutos estou aí, ok?

[Diego / 17:07]: pq 15 minutos?
vem logo
vou morrer de fome hein
e a culpa vai ser sua
explique isso para minha mãe depois

[Amaury / 17:07]: Quanto drama!
Credo!
Estou me vestindo, acabei de sair do banho.
Já, já estou aí.

[Diego / 17:07]: ah não precisa se vestir
vem pelado

[Amaury / 17:08]: Você é muito safado, Diego.
Logo tô aí.

Ainda com um sorriso no rosto e a empolgação no peito, que era muito específica e só aparecia quando tinha a ver com Diego, falar com Diego, ver Diego, Amaury soltou o celular sobre a cômoda e foi procurar roupas leves para passar o resto do dia no apartamento 12.

O sorriso se apagou ao pegar o celular em mãos de novo, após ouvir uma notificação chegando, dando lugar à uma expressão de confusão. Se sentiu estranho lendo a mensagem nova, que não era de Diego.

Era Agatha. Uma ex ficante, ou algo assim, que havia se mudado da cidade e sempre o procurava ao retornar. Havia um acordo silencioso entre os dois sobre essa procura, e como era bem aceita.

[Agatha / 17:12]: Advinha quem vai ficar na cidade umas semanas? Euzinha!
Tô louca de vontade de te ver.
Está livre hoje?
Me avisa!

Amaury se viu em conflito.

🍃

Diego olhava para o relógio do celular impaciente. Já passava dos 15 minutos ditos e nada de Amaury chegar. Pensou em mandar outra mensagem, mas já conseguia ouvir a voz do maior o zombando, falando sobre a ansiedade e o desejo incontrolável de vê-lo. Revirou os olhos, irritado só com o pensamento, mesmo sabendo que era verdade.

don't say yes to him Onde histórias criam vida. Descubra agora