11.

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Pessoas quebradas podem acabar quebrando outras pessoas que não tem nada a ver com nada. Algumas, com intenção. Outras, por não saberem controlar o caos da própria mente.

Amaury não era uma pessoa ruim. Longe disso, completamente o oposto. Ele era gentil, bondoso, engraçado, pensava na sociedade e no indivíduo. Era um porto seguro para quem precisasse, bom para seus alunos, leal aos amigos, um filho amoroso. Sempre bem humorado, sempre sorridente, sempre querendo o melhor de tudo e todos, para todos.

Mas, no fundo, Amaury era quebrado. Um cristal translúcido, onde não escondia sua essência, mas podia cortar quem chegasse perto da forma errada. Para ele, ficar na superfície dos sentimentos era muito mais seguro. Não desenvolver e nem se envolver. Não deixar que vissem as ranhuras do cristal.

Se via como uma pessoa mediana, sem nada especial. E não de um jeito trágico, mas sim, acreditava, realista. E como uma pessoa mediana, nada extraordinário aconteceria em sua vida; nem de bom, nem de ruim. Ficava na mesma, boiando, seguindo o fluxo em mares sem emoção.

Diego foi a única coisa especial que aconteceu na vida dele, mas não pegava esse mérito para si. Era especial, porque Diego era assim. Era iluminado como um grande farol. Brilhava, esquentava, era visto de todos os lugares e tinha um magnetismo que o puxava para ele, para admirá-lo.

Era como se Diego fosse o sol, na visão de Amaury, o astro maior. E ele próprio era a lua. Tinha sua beleza, tinha seu valor, mas brilhava porque refletia a luz do sol.

E o sol, não se apagaria.

A verdade é que Amaury não acreditava ser merecedor de nada extraordinário, muito menos de Diego. Teve essa certeza logo de cara, quando, ao acordarem juntos pela primeira vez em 2017, Diego pediu que fossem apenas amigos. Ele aceitou, comprou a ideia, porque não importava a forma, depois de uma única noite, já não se imaginava longe daquele pequetito.

Quando Diego saiu do carro, com a clara decepção nos olhos, Amaury entendeu, mais uma vez, que ele não era o bastante para entregar tudo o que o ruivo merecia. Desde o início, ele soube, Diego era muito para ele. Se iludiu com a ideia de que isso não fosse notado, não viesse à tona, mas as pontas da sua mente quebrada como um cristal podiam machucar a pessoa mais importante da vida dele. E ele precisava colocar um fim em tudo.

Afinal, para que dar murro em ponta de faca,? Uma hora ou outra, independente do quanto se empenhasse, Diego notaria, como notou na primeira noite, que era muito mais, muito maior, e deveriam seguir caminhos diferentes. Juntos na vida um do outro, mas diferentes.

Amaury chegou à conclusão de que não vale a pena um início que vai ter fim.

Por isso, tomou uma decisão.

E tudo mudou a partir daí.

Ele se arrependeria muito dessa decisão.

🍃

A noite de Diego não foi tão confortável. Se virou na cama várias vezes, buscando a melhor posição para dormir, mas algo faltava.

Um corpo de mais de 1,80 fazia falta ao seu lado. Um braço enorme o abraçando pela cintura, uma respiração pesada e sonolenta ao pé do ouvido, resmungos sempre que ele ameaçava se levantar. Tudo isso fazia falta.

Pensou algumas vezes em cruzar o corredor e encontrar Amaury, mas não queria dar o braço a torcer. Não de forma orgulhosa, mas no lugar de se valorizar. Como o outro entenderia o risco de perdê-lo se ele mesmo não acreditasse nisso? Mostrasse que estaria disposto a aceitar tudo?

Ele aceitaria tudo?

Não. Definitivamente, não.

Mas sua mente girava com esse pensamento, doía, porque, em algum canto de si, ele já sabia onde tudo ia terminar. Viu nos olhos de Amaury ao deixar o carro na noite passada. Enxergou no semblante no preto que a resposta já havia sido dada, e mesmo que o ruivo tivesse jogado uma chance à mesa, entendeu como tudo terminaria: Diego teria o coração partido.

don't say yes to him Onde histórias criam vida. Descubra agora