Como criar um bom Shizun

Tudo o que vejo é sangue

Shen Jiu conseguiu se livrar de todos os demônios que estavam naquela área, embora tenha sido mais demorado por não poder usar sua espada por causa de Luo Binghe. O chefe da cidade insistiu em fazer uma festa para comemorar que todos estavam seguros e não restou escolha a não ser aceitar. Jiu apenas ficou bebendo no canto sob o olhar de julgamento de Luo enquanto todos dançavam e festejavam.

— Se vai ficar me olhando emburrado assim, é melhor voltar para o quarto — Jiu disse, bebendo mais um copo. 

— Se vier comigo, eu volto agora mesmo — Luo respondeu com um sorriso malicioso, o que fez Jiu virar outro copo, estava sóbrio demais para as cantadas dele.

E estava sóbrio demais para outra coisa.

Bebeu duas garrafas antes de começar a sentir sua mente mais leve. Olhou para Luo Binghe, que estava com a cabeça deitada no seu ombro com uma expressão tranquila no rosto.

Seu coração vacilou com essa visão pacífica.

Mas assim que abaixou a guarda, sentiu Xiu Ya forçar o selo, tentando se libertar da bainha.

Manter Luo Binghe por perto era perigoso demais. Um pequeno vacilo e ele seria ferido novamente e a próxima vez poderia ser fatal.

Não podia se deixar levar pelo rosto dele ou qualquer sentimento, precisava se concentrar no que tinha que fazer naquele dia para afastar Luo e mantê-lo seguro.

— Luo Binghe.

Ele levantou a cabeça e o olhou com um brilho nos olhos. Ele com certeza sabia como fazer alguém se sentir culpado.

— O que foi, A-Jiu? — Luo Binghe perguntou, desencostando dele para olhá-lo melhor.

— Tenho um presente para você — Jiu respondeu e viu o brilho nos olhos dele aumentar e ele sorrir lindamente.

Seu estômago se revirou, não sabia se era de medo ou de culpa por arruinar aquilo, mas precisava focar no seu objetivo.

— Fique de pé.

Jiu o puxou para longe da mesa. Como as estrelas da festa haviam finalmente se mexido, a atenção acabou voltada para eles. O povo da vila esperava que eles aproveitassem a festa também.

Um público, ótimo.

— Feche os olhos — Jiu pediu. — Nada de espiar.

Luo fechou os olhos obedientemente. O sorriso dele transformava seus olhos em pequenas luas minguantes.

Jiu abriu sua bolsa e precisou ficar na ponta dos pés para alcançar o topo da cabeça de Luo Binghe e despejou todo o conteúdo da bolsa nele.

Luo estava animado em receber um presente de Jiu, mas toda sua felicidade se foi quando tudo o recebeu foi um banho de cabeças e sangue em seu corpo.

Eram as cabeças de todos os demônios que Jiu já matou desde que aceitou aquela missão falsa. Elas caíram e se empilharam aos seus pés junto de todo o sangue que ainda restava nela.

Tudo estava vermelho. Era por conta do sangue que cobria seus olhos, ou seria por conta da raiva?

Foi como voltar ao passado, onde tudo que via era sangue e corpos. Estava de volta ao momento em que ficou cara a cara com Shen Qingqiu depois de voltar do Abismo Sem Fim. Ele tinha um olhar afiado e suas sobrancelhas estavam franzidas em uma cara séria. No passado, aquela expressão teria inflado a sua fúria e ele despejaria dor e sangue pelo mundo.

Mas, mesmo com todo aquele sangue cobrindo seus olhos, ainda podia ver Jiu a sua frente, o olhando daquela mesma forma. E tudo o que conseguiu lembrar foi que era mesma cara que ele usava quando pequeno para fingir que não estava com medo. Aquilo foi a única coisa que esfriou sua raiva. Ele estava com medo, permanecia com medo dele durante todo esse tempo e estava tentando afasta-lo, o irritando.