"Oh, how shit changes, we're in love and now we're strangers."

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Um ano depois, no meu aniversário de dezoito, eu já estava tão cheia de saudade que divulguei minha festa de aniversário onde pude, na esperança de que ela aparecesse. Falei no grupo, postei nas redes sociais, comentei com todo mundo e, principalmente, com quem tínhamos de contato em comum. Eu estava com a expectativa alta, queria tanto que ela fosse. Ensaiei diversas vezes um discurso para fazer quando a encontrasse. Era quase como se ela tivesse saído da cidade. Ninguém tinha notícias dela. Não ia mais aos mesmos lugares, não falava mais com as mesmas pessoas, e ouvi boatos de que estava indo muito mal na faculdade e frequentava toda e qualquer festa que aparecia. Olivia parecia... outra pessoa. Ela não morava mais com os pais, e Deus sabe onde estava. Cheguei na minha festa, de certa forma, esperançosa.

Eu tinha fé que, em algum momento, eu iria ouvir o maldito ronco da moto old-school dela, que ela chegaria com alguma camiseta de banda ou com o All Star com um novo furo. Talvez agora ela tivesse outro jeans preto que não tirava do corpo. Eu esperava vê-la entrar, com os olhos felinos me caçando na multidão. E então me achasse. Me encarasse naquela incrível profundidade e me entendesse. E fizesse eu entender seu silêncio.

Me sentei, vendo a galera chegar e se amontoar na casa que Louis me cedeu para a festa. Falando nele, ele se aproximou, me deu um beijo no topo da cabeça, pegou uma garrafa de cerveja para ele e saiu, calmo. Louis estava levemente mudado. Firme em suas ideias, participava de debates políticos na faculdade. Sua retórica estava invejável. Eu sentia falta do garotinho que conheci no meu condomínio, que pronunciava errado palavras com mais de três sílabas.

Depois que Conan começou a voltar a frequentar a igreja, ele passou a ser mais compromissado com sua religião. Por esse motivo, minha festa era num sábado à noite, para que ele pudesse participar. Ele não seguia à risca as leis como os pais, mas se privava de coisas mundanas no dia sagrado. No máximo, se reunia na casa de um amigo para jogar videogame. Não frequentava locais públicos. Louis, que sempre se emocionava ao me ver completar mais um ano de vida, hoje já era praticamente um homem formado. Me permiti emocionar por alguns segundos, vendo ele se sentar no sofá, não tão mais festeiro quanto antes, mas se divertindo entre seu grupo de amigos.

Conan se aproximou da geladeira, abrindo o freezer e descendo algumas latinhas de refrigerante e colocando as que a galera havia trazido. Era como o "ingresso" da festa. Quem bebia cerveja, trazia cerveja, quem bebia refrigerante, trazia refrigerante, e quem bebia suco, trazia suco. Encarei os fios escuros que ele havia deixado um pouco grandes novamente. Os fios voltaram a fazer cachinhos, que antigamente ele escovava para mantê-los lisos. No dedo, a aliança de namoro brilhava. Usava um colar de crucifixo por baixo da camiseta branca lisa, a bandana vermelha, a jaqueta jeans da mesma cor da calça e os incríveis tênis de cano médio da Nike. Conan era a própria definição de estilo. Sorri, vendo ele ajeitar cada latinha uma ao lado da outra e marcar no relógio de pulso digital, para não deixar congelar ou estourar. Ele realmente trancou a faculdade, cortou a relação com todos os amigos do ensino médio que eram tão tóxicos para ele, e me prometeu ser o último a sair da festa, mesmo tendo que ir à missa amanhã cedo. Por sorte, ele só assistiria amanhã, então ele se permitiria estar sonolento, e sabia que Deus não iria ficar chateado porque foi por uma boa causa. Conan fez cursinho por um tempo e fez o concurso para entrar no corpo de bombeiros no fim do ano passado. O resultado saiu semana passada, ele passou em segundo lugar. Ah, ele ficou tão feliz que me ligou de madrugada, assim que o resultado saiu. Ele chorou de felicidade me contando no FaceTime e disse que só ligou porque precisava falar com alguém e Talita o mataria se ele a acordasse. Conan era o garoto mais doce que eu conhecia.

Com outro engradado de refrigerante, chegou Matheus, meu primeiro namoradinho. Os cabelos cacheadinhos estavam meio úmidos; ele havia acabado de chegar. Me deu um beijo estalado na bochecha e abraçou Conan, parabenizando-o pelo concurso e dizendo que estava ansioso, porque o resultado do concurso para policial dele sairia na terça. Conan o tranquilizou, dizendo que a vaga já era dele. Matheus também estava diferente depois de tantos anos. Havia começado a namorar Gabriela; os dois eram tão fofos juntos. Era irônico pensar que meu ex agora namorava a ex da Olivia, mas era só uma incrível coincidência. Falando em Gabi, ela chegou com sua jaqueta aveludada mágica que mudava conforme você passava a mão. Eles deram um beijinho e saíram. Céus, o tempo passa. Conan se aproximou, me beijou na testa demoradamente, disse que me amava e saiu, sentando-se ao lado de Louis, que sorriu abertamente ao vê-lo.

Kairós - salivia.Onde histórias criam vida. Descubra agora