"But I think I lost my chance..."

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  Férias de meio de ano, 15 anos atrás. Provavelmente, esse foi o dia que mais mexeu comigo.

Meu avô chegou e disse que faria uma noite de pizzas no dia seguinte (ele chegou ontem). Acordou antes do sol, foi a um mercado vinte quatro horas, comprou trigo, ovos, presuntos, queijos, calabresa, azeitonas, tomates. Ele gostava de fazer tudo, da massa até o molho. Quando o galo pensou em cantar, seu Bartolo já estava a cantarolar uma de suas músicas de infância italiana e misturar a massa. Seu bigode estava curvado nas pontas, grisalhos. Apesar da idade, nunca vi um homem tão disposto. Avental, chapéu de chef. Misturava a massa com suas mãos experientes na casa da pracinha, era a dele, afinal, com o forno a lenha e tudo. A casa não era grande, tinha uma cozinha e um quarto com banheiro. Do lado de fora a churrasqueira e o forno com enormes mesas de piquenique com bancos compridos. Sem falar que os banheiros da praça era logo atrás da casa. Quando eu acordei, ele já estava colocando a última massa para descansar.  Dia da pizza era sempre os melhores dias do condomínios. Assim que acordamos, todos fomos para a praça.

Madison amava ajudar Bartolo. Logo pegou um pedaço do queijo e se pôs a ralar enquanto eles papeavam sobre culinária e a Itália. Louis, por outro lado, gostava de ouvir as histórias que ele tinha a contar sobre quando ele era mais moço. Eu gostava das histórias de amor dele com minha avó. Barry gostava de comer tudo que ele preparava e Billie achava que nas horas vagas ele era o papai Noel. Conan adorava perguntar sobre a viagem deles para o Brasil. Olivia, por outro lado, assim que o conheceu, se viu imediatamente encantada para ouvir e aprender italiano, isso porque já era fluente em francês. Meu avô era um super-idoso: ele conseguia manter todos nós entretidos e ainda sim, não perder o ponto das massas.

- E então? — Louis perguntou, enquanto pegava outra fatia de queijo para ralar.

- Então eu peguei a espingarda... — Contou, fingindo segurar a arma.

- Onde ponho isso? — Gracie perguntou, pegando a primeira vasilha de queijo já cheia. Meu avô gostava de fazer várias coisas ao mesmo tempo, ele estava dando atenção para todos nós, ao mesmo tempo. Olivia, por outro lado, não se sentia bem interrompendo a conversa.

- Deixa ali. — Ele apontou pro balcão. Olhou pro Conan. — Acho que éramos cerca de 80 pessoas no navio, a guerra fria estava em seu auge, toda a história de espiões, embarcamos na Inglaterra. Estados Unidos estava com um regimento pouco mais rígido de entrada de pessoa no país e foi mais fácil já tendo passado pela revista em Londres. — Então, foi até o fogão onde preparava a grande panela de molho com sua colher de madeira, provou pingando um pouco na mão. — Barry, venha cá! — Chamou, e pingou um pouco de molho na mão do pequeno Keoglan, que provou.

- Diga-me, ragazzino, está bom? — Seus olhos claros típicos de europeu se voltou aos de Olivia que estava sentada na bancada, ao lado de Louis. — Ragazzino é rapazinho, menininho.

- Acho que falta sal, capocuoco. — Barry fez o famoso gesto italiano com a mão.

- Capocuoco é cozinheiro chefe. — Ele sorriu para Olivia e então olhou para Louis. — Então, eu peguei a espingarda, mirei bem na corrente... — Ele fingiu mirar. — Pow! A corrente arrebentou e a gaiola veio ao chão. O pássaro, então, aproveitou a portinhola agora quebrada e voou. O vizinho até hoje não sabe que fim levou seu pássaro.

- E cachorro, o senhor já salvou algum? — Louis perguntou, empolgado. Ele era um claro amante de bichos. Talvez, sua família adventista e vegetariana tenha certa influência nisso. Começou não comendo carne suína, então vermelha, daí a branca... Quando viu, comia hambúrguer de grão de bico.

- Se salvei algum?? — Revirei os olhos, eu sabia o que meu avô diria. — Eu era o salvador de cães mais conhecido da Itália!

- Mas e o barco?? — Conan perguntou.

Kairós - salivia.Onde histórias criam vida. Descubra agora