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Gabriel suspira baixo encarando Filipe deitado na cama do hospital, com a sopa, em cima da bandeja, intocada no colo dele. Já era de noite quando Gabriel decidiu visitá-lo, a cirurgia da retirada das balas alojadas no corpo de Filipe durou algumas horas. Como mais velho e líder no momento, Gabriel era o total responsável por Filipe e os outros olheiros.

— Dondoca me contou sobre sua cirurgia... você está bem? Bolacha conseguiu...trazer para casa os manos. — Gabriel fala tomando o cuidado para não deixar escapar nenhuma informação que poderá ser usada contra ele.

— Ainda dói quando levanto os braços...eu não entendi...como eles sabiam que Dan e eu não estávamos em nossos postos? — Filipe pergunta fechando os olhos lentamente, a dor latejando arrepia sua coluna. Ele range os dentes apertando a colher.

Gabriel olha ao redor da sala branca, ele se aproxima da porta e encosta ela. Não querendo que ninguém entrasse enquanto conversassem. Gabriel caminha para perto da janela aberta e encosta as costas no peitoril. Seus olhos desviam-se para o corpo sem regata de Filipe. As ataduras envolto nos ombros e axilas. — Você acha que temos um x9?

— Não, não é um x9. É um policial disfarçado, à paisana...se fosse um x9 ele não saberia onde Dan e eu estávamos...mas é alguém que tem total controle sobre nossas vidas, alguém que sabe muito sobre nós. Como se fosse um dos nossos, sabe? Eu vi o capitão da ROTA, ele estava sozinho. Eu não queria que ele machucasse ninguém, então decidi pegar a sniper para afastar ele, não sabia que era uma armadilha. Eu fui burro. — Filipe explica ainda de olhos fechados. Ele solta um suspiro pesado, arrependido de sua imprudência.

— Você não sabia...aquele homem é sádico. Então suas suspeitas é que um dos nossos é o policial. Alguma suspeita? — Gabriel pergunta com uma voz calma, refletindo nas próximas palavras de Filipe.

— Não, eu confio demais no Bruno e no Daniel. Não acredito que eles possam ser. É alguém com muita perspicácia, com uma capacidade de manipulação perfeitamente elaborada para isso. Bruno é sincero demais, ele fala tudo o que vem na cabeça dele, sem filtro. Enquanto Dan é cabeça quente, irritado por tudo e parece odiar todos. As meninas, não imagina que elas possam trair a gente, elas sabem que você e Dan não terão piedade em julgá-las. Não...com certeza alguém está mentindo...

Gabriel olha para o tênis, refletindo nas suspeitas e na análise plausível de Filipe. Assim como Dan, Gabriel confiava em Filipe para fazer as melhores estratégias e até mesmo julgar os crimes. Naquele momento eles se encontravam em um grande quebra-cabeça, onde as peças não se encaixam, deixando tudo mais confuso e desconfiado de todos à sua volta.

Gabriel desencosta do peitoril e se aproxima de Filipe, com um olhar calmo, mas apreensivo. — Qual seu plano? Você sabe que confio muito em você, nenhum dos seus planos deram errado, até os mais absurdos. Você é leal a quebrada...essas feridas só mostram o quanto você é leal a mim e aos outros rapazes. — Gabriel sussurra a última parte analisando o corpo com cicatrizes de Filipe.

— Já falei, Ratão...nenhum policial irá me matar, só aceito morrer pelas mãos do Daniel. — Filipe diz abrindo os olhos lentamente encarando a parede branca em sua frente. Gabriel acena com a cabeça, não se importando com a declaração vaga de Filipe. Não querendo uma explicação clara sobre esse juramento estúpido que ele parecia ter com Daniel em questão da sua morte.

— Quando o fogo abaixar, estarei conversando com Bolacha para que possamos pensar em algo sobre esse suposto policial. — Gabriel se afasta, mas é parado por Filipe segurando seu pulso. O homem olha para o moreno, esperando ele dizer alguma coisa.

— Temos um Judas no nosso meio, marque todos que são leais a você, Ratão. Por favor, Ratão...ordene para o Bolacha tatuador todos os nossos homens, coloque um código neles, apenas naqueles que são realmente confiáveis. Marque eles como num matadouro. — Filipe fala apertando de leve o pulso de Gabriel. O homem franziu as sobrancelhas pela ideia absurda.

— Qual sua ideia, Caipira? Deixar exposto para a polícia quem são os traficantes e olheiros? — Gabriel riu de forma sarcástica. Era óbvio que isso só trará destaque ainda mais.

— Dondoca estava conversando por telefone com RJ, e parece que o capitão estava procurando no corpo de x9 algum código do crime que ele cometeu. Vamos fazer o seguinte: Marque todos os que são leais com o código de Traidor. Se o capitão vier até nós, saberemos que o policial está entre os leais. Então vamos colocar dois códigos diferentes em cada um deles, o primeiro será igual para todos, mas escondido numa parte que ninguém poderá vê. E o outro ficará tatuado no braço ou perna, lugares visíveis. Cada um terá esse segundo código diferente, um terá do julgamento de morte, outro de sequestro, e outro de latrocínio; então o capitão virá novamente, mas em busca do número específico. Pois tenho certeza que ele não deixará um policial morrer nas mãos do tribunal.

Gabriel encara Filipe abismado, a capacidade de raciocínio rápido em uma solução que parecia impossível assombra a mente de Gabriel. Ele abre um sorriso satisfeito com a ideia imposta a ele. — Você é sem dúvidas incrível, Caipira...sua capacidade mental é exuberante.

— Agora que sei que o capitão da ROTA quer minha cabeça pendurada no camburão, tenho que usar toda minha capacidade para proteger nossa família. Sem nenhum defeito… — Filipe solta o pulso de Gabriel e mergulha a colher na sopa de abóbora, ele sorri e leva a colher até os lábios. — Que tal fazermos uma bagunça em São Paulo? Aricanduva, Ibirapuera ou Vila Olímpia? Qual shopping você quer roubar?

— Você está doido, caipira. Esses lugares… — Gabriel para de falar vendo o rosto determinado de Filipe.

— Ninguém poderá nos prender no dia das eleições estaduais...vamos esperar até Outubro para o meu grande plano. Escolha um shopping, Ratão...e eu lhe darei todo o poder necessário. — Filipe sussurra a última parte tomando a sopa quente. Ele solta um chiado pelo calor e balança a mão livre no rosto, tentando diminuir a queimadura na língua e garganta.

— Sou filho da Leste... Aricanduva. Surpreenda-me, Caipira. — Gabriel abre um sorriso esnobe e se afasta, ele abre a porta do quarto e sai, deixando Filipe sozinho. O moreno olha para a sopa e volta a comer tomando mais cuidado com as colheradas.

[+18] Códigos do CrimeOnde histórias criam vida. Descubra agora