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Rafael treme de medo encarando o delegado na frente dele, o rosto estóico encarando o moreno sentado na cadeira, a blusa larga cobrindo até o meio das coxas. O policial ao lado olha para o homem, esperando ele dizer algo com relação ao interrogatório. Passos pesados ecoam na delegacia, os olhos castanhos olhando para as pernas de Rafael.

— Boa tarde, senhores. As ordens do capitão, tenho que levá-los para a base da ROTA na Luz. — A voz forçada arrepia a pele de Rafael, o moreno levanta a cabeça, seus olhos dilatam vendo Daniel disfarçado de policial. O coração acelera admirando o quão belo estava o mais velho, os olhos deslizam pelo uniforme apertado no corpo de Daniel.

O delegado vira, seus olhos mostrando nenhuma surpresa ou apreensão. Ele analisa de cima para baixo Daniel, esperando o mesmo continuar a falar. Rafael morde os lábios tentando segurar a vontade de abraçar Daniel naquele momento. — Identidade? — O delegado pergunta ao pressentir que Daniel não falaria mais.

Bruno arregala os olhos não conseguindo segurar a risada, ele ri alto pegando Daniel desprevenido. O mais velho range os dentes querendo espancar Bruno. O delegado olha para Bruno e depois para Daniel, analisando a linguagem corporal de ambos. Rafael abaixa a cabeça agarrando a blusa, ele cora de leve balançando as pernas.

— Senhor delegado, encontrou drogas com eles? — Daniel pergunta disfarçando a vontade insaciável de espancar Bruno até ele desmaiar. O delegado volta sua atenção a Bruno rindo sem fôlego, ele balança a cabeça, indicando que ambos não estavam drogados.

— Não, o capitão falou que eles vieram de Paraisópolis, esse daqui estava do moto enquanto o outro estava na casa de um olheiro...ele citou o fato do último não ser alguém do crime, mas um garoto de programa — O delegado explica gesticulando com a mão, apontando entre Bruno e Rafael, conforme falava.

Daniel coloca a mão dominante no bolso, procurando a identidade. Seus olhos estavam focados em Rafael, em como ele estava tão belo usando aquela blusa longa, mas ao mesmo tempo existia um sentimento de ciúmes por alguém ter entregue tal roupa para ele. Daniel tira a identidade, a outra mão segurando com firmeza a pistola, levantando lentamente, sem levantar suspeitas.

— São ordens que recebi, tenho que levá-los. Mesmo que não tenha começado o interrogatório. — Daniel fala com uma voz calma e indiferente. Ao estender a mão, o policial pegou a identidade, era o estímulo necessário para Daniel levantar a pistola e atirar. Acertando de raspão a bochecha do policial. O delegado saca a pistola, apontando para a cabeça de Daniel.

Bruno para de rir olhando assustado para os três, Rafael bate as mãos na boca olhando preocupado para Daniel, o medo do mais velho ser morto em sua frente arrepia a pele de Rafael. Daniel desvia o olhar para o moreno, vendo sua preocupação e medo.

— Talvez você queira explicar porquê fez isso. Ou prefere que sua família reconheça seu corpo no Cemitério da Consolação? — O delegado brinca puxando o gatilho devagar, atento a qualquer mudança repentina. Daniel abaixa a arma, ele levanta as mãos em rendição. O delegado abaixa a pistola, enquanto o policial permanece segurando a arma, ainda desconfiado que possa ser uma armadilha.

— Não tenho nada a declarar, foi um gatilho o que o senhor disse... acho que estou precisando de férias, minha cabeça está transtornada. — Daniel diz olhando para o delegado, seus olhos sem emoção encarando o homem ler sua linguagem corporal. Tomando o cuidado para não demonstrar vulnerabilidade diante da análise. — Vocês nunca tiveram um momento de estresse?

— Acho que está além de uma mente cansada ou transtornada...está tentando mentir para nós? Levem-no para o interrogatório. — o delegado ordena apontando com a pistola para a sala ao lado. Daniel permanece com as mãos levantadas, os olhos ainda observando Rafael. O moreno inclina a cabeça para o lado, percebendo as pupilas de Daniel se moverem para o lado direito e depois retornarem para frente. Um sinal claro do que ele devia fazer.

Rafael treme, hesitando em seguir as ordens de Daniel ou permanecer quieto perante o delegado. Mas sua hesitação termina quando percebe o olhar frio do delegado para Daniel. Rafael respira fundo e levanta rapidamente, enquanto corre pela brecha direita entre o delegado e Daniel. A ação pega o policial desprevenido, que mira a arma para Rafael. A oportunidade perfeita para Daniel atirar novamente, dessa vez na lâmpada.

Por reflexo o delegado levanta as mãos para se proteger dos cacos de vidro. Bruno levanta na distração e corre, seguindo Rafael. — Para o carro esportivo! — Daniel ordena entrando em luta corporal com o policial, ambas as armas caem no chão.

Rafael olha por cima do ombro, rezando para que Daniel ficasse bem. — Seu namoradinho veio, x9! — Bruno exclama animado, o tumulto e barulho de tiro chama a atenção dos policiais de plantão na delegacia. Rafael olha para os lados, pensando em uma maneira de se livrar dos policiais. Bruno segura no braço de Rafael e o puxa para as escadas da delegacia, os dois descem correndo, a visão das portas abertas da delegacia traz uma sensação de ansiedade em ambos.

Rafael ouve tiros dentro da delegacia ao sair. Seus olhos enchem de lágrimas, os possíveis cenários de Daniel sendo morto a sangue frio passam por sua mente. Bruno se aproxima do carro, seus olhos brilham vendo o quão luxuoso era. — Isso é o sonho de qualquer carioca, neném! — Bruno exclama dando cotoveladas no vidro do carro, ele infla as bochechas ao perceber que o carro era blindado. — Como ele quer que eu entre no carro se não posso quebrar as janelas?

— Quer parar com essas piadas e abrir logo o carro! — A voz irritada de Daniel traz ânimo e revigoramento para Rafael. Ele vira, um sorriso amável cresce no rosto ao ver Daniel segurando o braço, a bochecha vermelha com uma marca de soco, enquanto o braço sangrava pela bala atingida nele.

Bruno abre a porta do passageiro no banco de trás e entra, puxando Rafael com ele. Daniel corre para a porta do motorista, a bala atinge o carro, mas por conta da blindagem, não perfura. Daniel entra no carro e pisa no acelerador. — Mermão, isso come a bateria do carro deixar ligado, Bolacha. Parece que nunca teve um carro na vida.

— Da próxima vez vou deixar eles comerem seu cu na prisão, filho da puta. — Daniel retruca dirigindo em alta velocidade pela rua, subindo em direção a Avenida Santo Amaro.

— Você voltou! — Rafael empurra Bruno para o lado e abraça o banco do motorista, onde Daniel estava. O mais velho cora de leve e olha pelo retrovisor interno para o rosto satisfeito de Rafael. — Eu pensei que você fosse deixar a gente morrer.

— Eu ia, na verdade eu podia ter deixado mesmo. Mas RJ me deve 400 reais e você me deve uma garrafa nova de Absinto que você bebeu tudo.

— Eu sabia que vocês fizeram sexo até não poderem mais, seus vagabundos! — Bruno ri alto, ele se assusta com o barulho das balas atingindo o carro blindado.

— Vou deixar vocês na Borba Gato e tentar despistar os caras. — Daniel resmunga virando rapidamente o volante quando o ônibus quase atinge o carro. Ele respira fundo, controlando a adrenalina.

— Não vai dá, primo, deixa a gente aqui na Adolfo Pinheiro. A Borba Gato está perto, mas a polícia do Alto da Boa Vista já deve estar na sua cola quando entrar naquele lugar. Segue na Avenida Santo Amaro, antes de entrar no Alto da Boa Vista, vira à esquerda e pega sentido Marginal Pinheiros. Se dê, leva o carro, se não, entra na Berrini e pega a linha esmeralda sentido Pinheiros, acho que dá para despistar os tiras assim. — Bruno explica olhando para fora da janela, vendo os ônibus se desviar do carro em alta velocidade.

Daniel entra na contramão, os carros buzinando e desviando. — Boa sorte, Bolacha, vejo você em casa. — Bruno diz segurando o puxador da porta do carro, preparado para abrir a porta e correr para a estação. Rafael levanta a mão dominante e segura no rosto de Daniel, forçando-o a olhar para o lado.

— Fica vivo, por favor...eu te amo. — Rafael sussurra dando um selinho demorado em Daniel. O mais velho pisa no freio, parando quase em cima da moto. Bruno abre um sorriso pervertido e puxa pelo braço Rafael, ele abre a porta do carro e desce correndo, quase derrubando Rafael na rua. O moreno chuta a porta com o pé, fechando-a, e corre seguindo Bruno para a estação Adolfo Pinheiro.

Daniel suspira sonhador e balança a cabeça, voltando ao rosto irritado. — Foco, Daniel. — O mais velho repreendeu acelerando o carro.

[+18] Códigos do CrimeOnde histórias criam vida. Descubra agora