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Rafael desce a rua principal, ele estava com tanta raiva e magoado que não conseguiu dormir direito de noite. Além da ressaca que estava martelando sua mente a cada passo que dava. O moreno range os dentes atravessando a rua, a moto seguindo logo atrás; ah sim, Daniel estava seguindo ele a todo momento. Como um cão obediente.

- Rafael! - A voz animada de Filipe grita, o moreno lança um olhar ameaçador para o rapaz. Rafael vira o rosto para o lado, descendo da calçada, ele caminha pela rua, não se importando com Filipe seguindo ao lado dele. - Cara, eu não machuquei você e não fiz nada de errado. Desculpa se você se sentiu ofendido.

Aquela era o ápice da raiva. Rafael para de caminhar e vira, ficando de frente para o rapaz. Filipe ri sem graça e segura nos ombros do moreno, seu sorriso vacila ao perceber o rosto sério do menor.

- Ah, vai tomar no cu, Filipe. Você me sequestrou e agora fica com 'Eu não fiz nada de errado', enfia suas desculpas no cu, seu filho da puta. - Rafael grita empurrando Filipe, seu coração estava acelerado, as lágrimas ameaçavam deslizar dos olhos. A pessoa em quem ele estava tendo confiança, era na verdade a pessoa que ele devia se afastar.

Rafael não podia acreditar que estava sendo enganado a todo momento pelo sorriso encantador de Filipe. Seu coração doía, como se alguém estivesse esmagando ele. O moreno se assusta com alguns fogos de artifício, ele olha por cima do ombro. Daniel estaciona a moto no meio-fio e olha para ambos.

- O casalzinho já parou de brigar? Por que está aqui Filipe? Volte a sua posição. - Daniel diz estreitando os olhos para o rapaz. Filipe suspira baixo e passa a mão no cabelo bagunçado. - Vai logo, é uma ordem.

Filipe resmunga insatisfeito, ele abre a boca para falar, mas fecha vendo Rafael passar por ele, voltando a caminhar. Daniel revira os olhos e segue atrás do moreno, ainda focado no menor, caso ele tentasse fugir. - Mermão, vocês dois são chatos demais.

- Olha a língua, eu tenho autoridade para matá-lo

- Então mata, vai logo. Atira! - Rafael grita parando de caminhar, ele estende os braços, esperando o mais velho sacar a arma da cintura. Daniel zomba descendo da moto, ele se aproxima, a diferença de altura faz Rafael olhar um pouco para cima. Ele engole em seco, abaixando lentamente o olhar para os bíceps de Daniel.

- Você é uma putinha muito atrevido, meu

- Coé, não dormi com você para me chamar de puta.

Ambos se encaram por alguns segundos, a atmosfera tensa sufocando quem passava por perto. Daniel abre um sorriso de canto e volta a ficar sério. Rafael cruza os braços. Os dois ficam parados, esperando qualquer movimento.

- Mermão, vocês são estranhos demais. - A voz suave de Shayene rouba a atenção dos dois. Rafael olha para o lado e força um sorriso para a morena abrindo a porta da adega. - Trouxe sua carteira, Rafael? Meu pai gostou do seu currículo. - Shayene coloca o cadeado no bolso e empurra a porta com grades de ferro.

- Você vai trabalhar nessa adega? - Daniel pergunta incrédulo, ele pisca algumas vezes e nega com a cabeça. Rafael descruza os braços enquanto se aproxima da bela morena. O menor ignora a pergunta, ele tira a carteira de trabalho do bolso da calça de moletom cinza e entrega para Shayene.

- Por que você quer saber? - Rafael por fim pergunta ainda ignorando o mais velho. Daniel suspira pesadamente e aponta para o estúdio de tatuagem do outro lado da rua. Rafael olha para onde Daniel apontava, ele franze as sobrancelhas. - E daí?

- Eu trabalho ali...demite ele, Shayene. Não quero passar meu dia vendo essa cara de cu dele. - Daniel ordena se aproximando da adega. Rafael abre a boca se sentindo ofendido pelas palavras do mais velho, ele bate no peitoral de Daniel.

- Já se olhou no espelho hoje?

Shayene sorri de forma perversa da discussão dos dois, a morena inclina-se no balcão, mostrando um pouco os seios por conta do decote em V da blusa. - Quem briga muito, muito ama, Daniel. - A morena brinca levantando e abaixando as sobrancelhas. Os rapazes se entreolham e desviam o olhar rapidamente.

- Ele não faz meu tipo. - Rafael brinca rindo baixo, o moreno percebeu o sorriso de Shayene ficar maior. Ele engole em seco sabendo que fez uma péssima escolha de palavras. A morena coloca uma mão na bochecha e olha para cima.

- Seu tipo é...'caipira', né? - Shayene pergunta dando ênfase à palavra 'caipira'. Rafael balança a cabeça, suas bochechas ficam vermelhas ao se lembrar da cena no carro. Daniel por outro lado estava sério, encarando o menor balbuciando palavras incoerentes, tentando disfarçar que estava gostando do modo atrevido de Filipe na noite passada. - O que? Pensei que ele tivesse ensinado você a cavalgar ontem de noite.

- Já chega, Shayene. Você vai demiti-lo ou não? - Daniel corta a brincadeira perversa da morena. Shayene ri alto pelo rosto vermelho de Rafael, ela endireita-se e nega com a cabeça.

- Eu? Por que atrapalhar o romance dele com Filipe? Você sabe que aquele bebum ama vim na adega beber até fechar. Só digo uma coisa, se forem fazer sexo faça fora daqui, não quero limpar porra nenhuma no chão ou no balcão. - Shayene diz virando-se, caminhando para dentro do estabelecimento.

Rafael estava encolhido, ele só queria desaparecer daquele momento constrangedor. Daniel cruza os braços, ele desvia o olhar insatisfeito com a brincadeira da morena. Mais fogos de artifício são ouvidos, dessa vez por mais tempo do que o anterior. Daniel olha para a moto e depois para Rafael. - Você fica aqui até eu voltar.

- Você não é meu dono, tenho que ir ao mercado. - Rafael retruca rindo amargamente. Daniel estreita os olhos, ele aponta para a arma na cintura e depois para o peito de Rafael, em direção ao coração dele. - O que? Eu falei para você me matar, mas nem coragem você tem. - Rafael pisca com um olho, ele bate no peitoral do mais velho e fica na ponta dos pés. - Fica triste não, Danielzinho... você é só uma cadela obediente, aposto que esse tal de Ratão ordenou que não me matasse.

Rafael se afasta rindo baixo. A raiva sobe pelo corpo de Daniel, os olhos focados no sorriso do moreno. Como ele queria fazer aquele maldito sorriso desaparecer do rosto do menor. Daniel levanta a mão e agarra o pescoço de Rafael, apertando com força. O moreno segurou no braço do mais velho, as mãos tentando afastar a mão dominante do rapaz do pescoço.

- Daniel... - Rafael sussurra sentindo a falta de oxigênio por conta do aperto no pescoço. O moreno crava as unhas no antebraço do mais velho, tentando fazê-lo soltar. - M-me solta...por favor.

Rafael entra em desespero, os pontos pretos aparecem na visão. O moreno balança as pernas, tentando chutar a virilha do mais velho, o corpo começa a perder forças, a dor de cabeça fica mais forte. Rafael abre a boca para suplicar novamente. Daniel puxa o moreno para perto do rosto, levantando um pouco ele. - Você é muito ridículo. - Daniel zomba empurrando Rafael, derrubando no chão.

Rafael tosse alto respirando rápido, o oxigênio entrando novamente em seus pulmões, as lágrimas escorrem pelo rosto. Daniel se afasta, ele sobe na moto e sorri de forma presunçosa para Rafael no chão.

- Existem regras nesse lugar, obedeça ou será julgado. Aqui é diferente de onde você veio, moleque. Não é uma algazarra. Fica esperto, ou da próxima vez não terei piedade em matá-lo.

[+18] Códigos do CrimeOnde histórias criam vida. Descubra agora