Parte Um: III

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Alguns dias se passaram. Hoje é 01 de março, sexta-feira, às 5 da tarde, e neste momento estou a degustar um quinche de queijo acompanhado de chá preto enquanto deslizo o dedo freneticamente sobre a tela do telefone à procura de informações sobre como presentear uma jovem a completar seus dezoito anos; sim, em dois dias, Anna completará 18 anos de idade, e eu me autodeclaro um amigo patético e decepcionante. Minha falta de imaginação leva o melhor de mim e decido fazer uma chamada ao Johann.

«Na verdade, não se preocupe com isto», respondeu meu amigo do outro lado da linha.

«O que isto significa? Já tens algum plano? Não podemos simplesme-»

«Anna vai passear com algumas amigas, e vai dormir fora. Apenas abandona qualquer preparativo que tenhas feito, só a presenteia com alguma bagatela, ela ficará feliz com qualquer coisa vinda de você. Não esperavas uma festinha com um bolinho, certo? Ela vai fazer 18. São 18, senhor Aldane.»

«Certo, certo, eu entendi, não me julgues, pensei que seria uma ocasião especial. Contudo, ela ainda virá para cumprimentar seu tio favorito, não vai?»

«Você é o único tio dela, patife. Ela realmente te considera bastante, me pediu para te avisar que vai te visitar amanhã à tarde.»

«Neste caso, estarei esperando.»

Depois de me despedir e pousar o telefone, me esgueirei na sacada do meu quarto para respirar ar fresco e avivar a mente, entretanto me deparei com uma ventania turbulenta ameaçando trazer uma tempestade.

Passado algum tempo, após fechar as janelas e as cortinas, preparo um Irish Coffee e me acomodo para terminar a leitura do livro emprestado do Johann em que me dediquei nos últimos dias, e agora leio as seguintes palavras:

"Si enim nocui, aut dignum morte aliquid feci, non recuso mori:

si vero nihil est eorum quae hi accusant me, nemo potest me illis donare.

Caesarem appello." [1]

Fecho o livro e volto a colocá-lo na estante, guardo-o na prateleira mais alta; parecia esperar para ser devolvido ao dono original. Tinha sido uma leitura satisfatória, mas fugia das expectativas baseadas na descrição dada pelo meu amigo.


[1] (ATOS 25:11) "Se fiz algum agravo ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles. Apelo para César."

Nuances da Vida de um DiaristaOnde histórias criam vida. Descubra agora