Parte Dois: VII

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A visita aos aposentos de Aldane elucidou os pensamentos abstrusos que me assolavam, originando uma sucessão de suspiros de alívio inevitáveis. Restava apenas mais um dia dos sete que me foram concedidos, e um mísero dia nunca me pareceu tão pouco como agora.

O gato estava lá. No mesmo lugar e posição em que o encontrei ontem. Impassível.

«Já me decidi», disse sentando-me no sofá à sua frente.

«Tens certeza do que queres?»

«Eu quero – »

«Eu sei o que queres. Situações oportunas desaproveitadas constroem teu Caminho. Voltar no Tempo acarretará um preço alto, estás convicto de que queres isso?»

«Qual seria esse preço?»

«Caro Ludwig, o Tempo em que irias interferir não é o tempo dos Homens: é algo que esse teu medíocre corpo humano não pode suportar, porque teu preço seria tomar a responsabilidade pelas alterações que irias causar na ordem contínua do Tempo, o peso desta responsabilidade é definido pelas leis da Causalidade.»

«Existem outros como tu?»

«Que pergunta estúpida!», grasnou com irritação. «Quantas leis achas que é preciso para reger este Universo? O que vós, humanos, pensais saber é um infinitésimo daquilo que realmente existe, entretanto, vosso devir transcendente poderá vir quando aceitarem a existência Absoluta.»

«Subestimas a humanidade?», perguntei indeliberadamente.

«Na verdade, não. Afinal sois minha fonte de renda e de vida... Algo só existe realmente quando é percebido, não se pode afirmar um evento se não há registros que o valide; consequentemente, ainda existem muitas leis que dependem de vós para virem à existência, para serem percebidas e registradas. Mas sois tão ignorantes...tão...Argh! E ALGUNS OUSAM DESCREVER ESTA IGNORÂNCIA COMO BENÇÃO!»

«Por favor, não te irrites. Acompanhas-me em uma bebida ou preferes petiscos para gatos?»

«Essas tuas facécias não são nada além de imprudentes», após dizer isso, o gato começa a se contorcer e se desfigurar, tomando uma forma humana bem trajada, «contudo, aceitarei uma bebida, sendo essa uma das poucas criações humanas que aprecio. Traga-me a melhor que tiveres.»

Ironicamente, tive um momento agradável com um ser cujo existência é mais que milenar, segundo ele. Assim que ele se despediu, me aprontei para preparar o jantar. Retirava batatas do forno, salpicava salsa no molho e refogava legumes em vinho branco até ser interrompido pelo toque do telefone. Do outro lado, Margaret, a funcionária do orfanato, me cumprimenta com uma voz trêmula.

«Boa noite, Maggie. Qual o problema?» perguntei preocupado, entre soluços, ela me informa sobre a situação de Kyle, um menino de quatro anos que chegou no orfanato ano passado após ter perdido os pais em um acidente de trânsito. Kyle estava agora internado, diagnosticado com apendicite.

Nuances da Vida de um DiaristaOnde histórias criam vida. Descubra agora