Capítulo IX: O cliente misterioso

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Seis meses depois da visita de Abbvel, Lous sempre escrevia cartas a ele, e uma coisa que Lous sempre comentava de que todas as noites em que o bordel ficava aberto, ela toda vez ouvia o mesmo barulho no corredor, e sempre via o mesmo homem comprando os serviços de Amejitsudo, e depois de algumas cartas comentando isso, Abbvel perguntou as características desse homem, e Lous escreveu a seguinte carta:

"Abbvel, acho que até decorei as características daquele homem. Ele é maior do que a Amejitsudo (E olha que a Amejitsudo é alta), os cabelos da cor laranja-cobre, óculos redondos e roupas de boa qualidade. O cabelo não é tão longo; é amarrado em um rabo de cavalo. Os olhos dele cintilam no escuro, um tom de laranja bem claro é projetado em suas lentes. Nunca consegui ver o rosto dele e nem os olhos.

Com atenção e clareza, Lous Tamyog.

PS: Ele usa brincos de prata, em formato de cruz. Ele usa luvas, que no escuro me parecem de couro marrom."

E logo, em questão de semanas, Abbvel veio novamente ao bordel e foi falar com Lous, com cara de preocupado, sussurrou:

– "Lous, você realmente está falando sério sobre essa carta?" – Ele entregou uma carta nas mãos de Lous.

– "Sim, claro que sim, por quê?" – Disse enquanto abria a carta, e naquela carta havia uma foto de um rapaz que correspondia exatamente com as características que Lous houvera descrevido na sua carta, e o mais importante: olhos exatamente iguais aos seus. – "O que é isso? Quem é ele?"

– "É o príncipe, Lous. E ele não tem um bom status. Se ele engravidar a Amejitsudo, ela vai ser obrigada a ir morar no palácio do sexto país." – Disse Abbvel, pálido de preocupação com Amejitsudo, mesmo não a conhecendo nem de vista.

– "Como assim isso é algo ruim? Isso é até uma boa oportunidade para completarmos o plano." – Disse Lous se virando para o balcão para pegar uma bala.

– "Lous, o palácio do sexto país não é lá um bom lugar para uma dançarina de bordel, recém chegada e grávida ter de moradia." – Disse Abbvel, virando Lous para olhar nos olhos novamente.

– "O sexto país não é o país de maior segurança? É o país das forças de frente, é lógico que lá será um bom lugar pra ela." – Lous pôs uma bala em sua boca.

– "Lous, eu não estou falando do país em si, eu estou falando do palácio. A Amejitsudo não vai ser a única grávida de lá, e acredite em mim; as outras dançarinas brigam por atenção. Teve uma vez que eu tive que separar duas grávidas que estavam aos tapas. E outra, você sabe que estar grávida de um filho de Serapphin significa praticamente carregar um deus dentro de si. Isso suga muita energia das mães. A maioria das que vão grávidas, ou morrem no parto com o bebê, ou sofrem aborto."

Lous, ouvindo tudo isso, deu um passo para trás.

– "Eu vou pedir pra ela tomar cuidado." – Disse Lous, percebendo o perigo que poderia estar deixando Amejitsudo se comprometer.

Assim que Abbvel foi embora, Lous foi para o quarto de Amejitsudo e bateu na porta.

– "Amejitsudo?" – Disse Lous do outro lado da porta.

– "Oi, Lous! Pode entrar!"

Lous entrou no quarto de Amejitsudo, um leve aroma de violetas e baunilha, uma escrivaninha ao canto com um vaso de violetas, então era de lá vinha o cheiro. E a encontrou sentada em sua cama, sorrindo e se arrumando feliz. Lous, muito confusa, perguntou:

– "Amejitsudo, por que você tá se arrumando? Hoje nem é dia de bordel."

– "Ah, é que um cliente pagou dia extra."

– "Amejitsudo, eu tenho que te explicar uma coisa sobre o seu cliente."

Amejitsudo, de alegre e sorridente, ficou pálida e logo ficou com cara de preocupada.

– "Lous, como você sabe?" – Disse Amejitsudo, já se levantando da cama.

– "Amejitsudo, para de se vender pra ele. É muito perigoso, você pode acabar engravidando e você sabe o quão difícil foi pra minha mãe quando ela ficou grávida. E você sabe que ele é filho da pessoa que arruinou a nossa vida, e mandou matar as nossas mães. Então, por favor, para."

– "Lous, ele me paga muito bem, e com esse dinheiro eu vou provavelmente conseguir ir embora desse lugar, então eu não vou parar. E se eu acabar engravidando, isso vai ser até melhor pra você; eu vou conseguir entrar naquele palácio e vou te passar informações se isso acontecer. Então para de dar pitaco na minha vida, ouviu?"

– "Amejitsudo, eu sei que a gente não se fala muito bem e tals, mas a gente foi criada junto e eu não quero que você possa correr o risco de-"

– "Lous, só vai embora, viu? Vê se toma conta do Rio, ele não tem tido nas melhores não." – Disse amejitsudo enquanto botava Lous para fora do quarto.

Não tendo muita escolha, Lous saiu do quarto de Amejitsudo e foi para o quarto do Rio, que houvera sido citado em sua conversa antes.

Quando Lous foi para o quarto de Rio, Rio já estava a esperando no corredor, com o rosto um pouco abatido. Lous, comovida e muito confusa, abraçou Rio e o guiou para o seu quarto. Assim que os dois entraram no quarto de Rio, um quarto aconchegante, cheirava à cacau torrado, livros e um violão estavam espalhados pelo quarto e em sua escrivaninha, sua cama tinha dois travesseiros e algumas pelúcias, uma que se assemelhava a Lous, "que fofo e assustador" Lous pensara. A menina o perguntou o que tinha acontecido.

– "Rio, o que aconteceu? Por que você meio abatido?"

– "É que..." – Puxou Lous para mais perto – "Hoje eu sem querer empurrei cinco garçonetes, uma delas acabou com o pulso quebrado, outra descabelada e outra que caiu em cima de um dançarino se queimou com café, o dançarino também..." – Rio pôs o queixo sobre a cabeça de Lous, e continuou – "O Boris me fez ter que ficar de cozinheiro por uma semana, incluindo as louças... Vai ser um saco ter que fazer comida pra quase duzentas pessoas! Pra que tanto funcionário também, hein?"

Lous ficou se segurando para não rir, foi bem difícil pra ela, pra falar a verdade. Mas não deixou de abraçar Rio, pois sabia que de algum modo aquilo era importante pra ele.

– "Como você conseguiu fazer isso?"

– "É que eu estava tocando..." – Muitas vezes o poder de Rio pode sair do controle enquanto ele toca instrumentos sem prestar atenção, porém nunca foi muito longe, graças ao controle de Lous sobre o seus poderes. – "Só que eu não tava naquela salinha que protege o som, ou me ajuda a me controlar... Aí eu sem querer me perdi na música e desafinei, só isso... Só que todo mundo caiu e o Boris me deu esse 'castigo'. Que saco, flor."

Lous continuou tentando segurar o riso, mas eventualmente riu, porém confortou Rio depois com um beijo. Após o beijo, Lous sugeriu que eles saíssem para comer algo fora, já que nos dias que o bordel não abre, Boris se recusa a fazer comida.

No way back homeOnde histórias criam vida. Descubra agora