Capítulo XV: A visita. Pt 2.

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E então, eventualmente, a manhã se aproximou, e nossos escolhidos também. Sem dúvidas, quando os portões de ouro e mármore se abriram para a passagem da carruagem, o caminho até o palácio estava coberto por pétalas de rosas, lavandas, girassóis, margaridas, orquídeas, velas aromatizadas... Clássicos da Amejitsudo, Lous já esperava, mas não se sentia bem recebida com tudo aquilo, ao contrário, aquele péssimo pressentimento de momentos antes só aumentava, causando dores de cabeça fortíssimas e arrepios. Quanto mais andavam, mais fortes as ondas de dores cresciam. E então, ouviu a voz de uma criança...

– "A liberdade é ilusória, papai. Quem viria me salvar?"

Lous tampou a boca com as duas mãos, segurando um vômito assim que sentiu um cheiro de carne podre e doença se aproximava de suas narinas, a deixando tonta e fraca, a fazendo cair pra frente, de joelhos, no chão. Rio e Umi, que estavam distraídos com o lado de fora, olharam direto para Lous e foram ajudar. A menina não conseguia ouvir mais nada, a não ser ser a conversa entre a criança e pai;

– "Os tratamentos vão ajudar, Goliath." – Goliath, seria o nome da criança, então.

– "Você fala isso há nove anos, papai." – A criança tossiu. – "Eu cheiro tanto à morto, que poderia me enterrar neste instante se não estivéssemos conversando."

– "Goliath, não é bem assim-"

– "A minha 'cicatriz' nunca se cicatrizou. Eu não conheço ninguém a não ser o senhor e a camareira. Eu não posso ver o sol. E o pior, a minha mãe morreu pra eu nascer. Eu sou uma maldição, papai. Deveria ter me abandonado."

– "Goliath, sua mãe foi assassinada, não foi sua culpa!"

– "Então por quê raios eu continuo nesta cama? Por que eu continuo doente? Por que eu sou o motivo do senhor não falar com o vovô? Eu cansei, papai. são milhares de remédios e tratamentos, médicos, ataduras, injeções, transfusões de sangue, roupa de cama nova, perfume... Eu preferia morrer."

Silêncio... mais nada foi ouvido, a não ser um alto zumbido e eventualmente os gritos de Rio e Umi tentando ajudá-la. Estaria certa, então. Deveria ajudar Goliath... mas onde estaria? Quem seria seu pai? Aceitaria tomar o sangue de Lous? Que agonia. Lous se acalmara, e explicara para os dois que foi só um pequeno mal de viagem... mentirosa.

O pressentimento se acalmou, e o trio chegou ao palácio. Ao primeiro passo que deu no grande corredor, Lous reparou em um grande tapete escarlate, paredes de mármore branco e móveis de ouro acompanhados por vasos de flores feitos do mesmo material. Lacaios se aproximaram e pegaram as bagagens de Lous, Umi e Rio. Lous não gostou muito da ideia, porém Umi e Rio se acomodaram. Adentrando mais o palácio, ouviram uma voz ao longe:

– "Meninos!" – Era Jitsu.

Umi mudou a sua feição de sério para alegre em questão de segundos, e correu até Jitsu, que, vamos combinar, estava bem melhor do que quando saiu do bordel. Seu vestido era feito com os melhores tecidos, detalhes banhados a ouro. Seu cabelo preso em um rabo de cavalo clássico. Era acompanhada de duas servas, uma segurava uma bandeja com quatro taças e uma jarra de água de vidro. Enquanto a outra trazia um leque e um tecido leve roxo. As duas pareciam estar distraídas olhando para o chão. Umi não parecia se preocupar muito com isso, estava muito ocupado abraçando Jitsu que ria alegremente. Lous parou Rio, que ia a caminho deles.

– "1: Não comente sobre o que aconteceu na viagem. 2: Preste bem atenção nas moças e os guardas em nossa volta." – A menina sussurrou.

Rio concordou, antes de segurar a mão de Lous e irem ao encontro dos gêmeos.

– "Jitsu." – Lous chamou.

Jitsu olhou para eles, antes de dar batidinhas no ombro de Umi, que a soltou.

– "Lous, como vai?" – Jitsu sorriu.

– "Tudo bem, e você?" – Lous disse um tanto desconfortável, não dava pra ter uma conversa decente com dezenas de pessoas checando de um lado para o outro. – "É realmente necessário tantos guardas? Tem quase uns... vinte, sei lá!"

Jitsu riu, antes de acenar com a cabeça.

– "Não tem problema, bobinha." – Jitsu levantou a mão direita, que estava escondida entre os tecidos de seu vestido luxuoso, revelando a mão coberta de correntes de vinho, é claro. – "Nosso segredinho." – A moça abaixou três dedos, formando um "L" com o indicador e polegar, e então, a serva do lado esquerdo levantou a mão, sinalizando "Shhhh".

Lous deu um sorriso de canto, estava orgulhosa.

– "Passou um tempo brincando de fantoche, hm?" – Rio comentou.

– "É engraçado." – Amejitsudo riu novamente.

– "Não é?" – Lous continuou. – "Mas e aí? Por que chamou a gente?" – Perguntou.

– "Ah, sobre isso..."

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⏰ Última atualização: Sep 24 ⏰

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