Tudo começou com uma história contada por um cliente.
"Bom, pelo menos isso explica porquê tem havido tão poucos clientes ultimamente." Disse a irmã mais velha de Maomao, Meimei, que estava reclinada de lado no sofá enquanto colocava uma pedra de Go em um tabuleiro. A aprendiz designada à ela sentou-se do outro lado do tabuleiro, parecendo nervosa, enquanto também colocava algumas pedras nele. Parecia que estavam trabalhando em problemas estratégicos de vida ou morte.
"Homens grandes e importantes não se cansam de coisas estranhas e novas." Joka disse, expirando um pouco de fumaça do cachimbo que tragava.
Maomao, enquanto isso, estava preparando suas ferramentas; suas irmãs pediram que ela fizesse moxabustão para elas. A vida dessas mulheres era difícil, e às vezes elas precisavam de uma pausa para relaxar e desabafar. E isso podia ser feito em dias como hoje, quando não tinham trabalho de verdade para fazer. Meimei disse que foi o homem com quem ela estava jogando Go na noite anterior que lhe contou. Ele alegou que havia alguém ainda mais impressionante do que as Três Princesas da Casa Verdigris por perto, uma jovem mulher que parecia ser uma imortal mística.
"Acho que estamos velhas demais para competirmos com elas hoje em dia." Joka quase cuspiu. "E pensar que eles costumavam nos tratar como joias!"
"Ah, claro." Maomao disse placidamente enquanto instruía Joka a se deitar de bruços. Ela começou a colocar ervas em pontos específicos ao redor do corpo da mulher antes de acendê-las.
"Aahhh..." Joka gemeu sensualmente. Seus dedos dos pés quase se curvaram. Maomao desejou poder tranquilizar sua irmã de que ela ainda era mais do que mulher suficiente.
"Ele disse que o cabelo dela é branco puro." Meimei disse. "E se fosse só isso, bom, você poderia dizer apenas que ela é uma garota com cabelo branco. Mas...segundo ele, os olhos dela são vermelho escarlate também."
Cabelo branco e olhos vermelhos? Isso era realmente incomum. Maomao ponderou com um aceno de cabeça.
Após terminar com Joka, ela começou a colocar a moxa em Meimei. A cortesã esticou uma perna fina para fora da bainha de seu manto. Maomao enrolou o tecido cuidadosamente para que ela não se queimasse, e então acendeu as ervas.
"Não apenas cabelo branco, mas olhos vermelhos também? Então ela é albina?" Maomao perguntou.
"Provavelmente." Meimei disse assentindo juntamente com Joka. A aprendiz que segurava as pedras de Go, incapaz de entender a conversa, puxou a manga de Maomao. Era a garota que quase foi reduzida às lágrimas ao ver Jinshi comendo os gafanhotos. Seu nome, Maomao descobriu, era Zulin. O nome de sua irmã mais velha era parecido com isso, mas ela pretendia mudar seu nome para simbolizar sua ruptura com seu pai. E Maomao não tinha a intenção de se preocupar em lembrar um nome que mudaria em breve.
Maomao encarou a menina, mas quando viu a criança recuar, cedeu: "Muito raramente, uma pessoa nasce sem cor na pele. Sua pele e cabelo são brancos, e seus olhos parecem vermelhos porque você pode ver o sangue dentro deles. Nós os chamamos de albinos."
Isso acontecia com animais também. Cobras e raposas brancas eram consideradas auspiciosas e veneradas como deuses — mas e as pessoas? Maomao tinha ouvido falar de uma terra distante na qual crianças albinas eram consideradas panaceias e às vezes eram devoradas. Ela não deu crédito à história, no entanto. O velho de Maomao, Luomen, disse a ela que o cabelo e a pele brancos não representavam nada mais do que uma ausência de coloração, ou seja, os albinos eram iguais a qualquer outra pessoa.
Uma vez, só uma vez, Maomao pegou uma cobra branca. Era uma das criaturas mais estranhas que ela já havia encontrado. Quanto a essa mulher albina, parecia que o fascínio por ela levou as pessoas a tratá-la como uma imortal. Em outras palavras, ela foi vista como uma aparição auspiciosa, e não como um mau presságio.
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Diários de uma Apotecária (Kusuriya no Hitorigoto) Light Novel 5
RomanceTradução da LN5. Leiam o comentário após o prólogo ;)