A Vila do Papel

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Após viajarem para o oeste por dois dias numa carruagem, eles chegaram à vila que era a cidade natal do médico charlatão. Ela ficava adjacente a algumas montanhas e uma floresta, à jusante da nascente do grande rio que dividia o país ao meio. Valas de drenagem seguiam paralelas ao rio, mas parecia que apenas ervas daninhas cresciam nos campos. Maomao olhava atentamente a paisagem e o charlatão, que adorava conversar, foi gentil o suficiente para explicar. Ele manteve a voz baixa, talvez por respeito à Basen, que estava sentado diagonalmente à frente a eles. Jinshi sentou-se ao lado de Basen, mas o charlatão ainda não tinha descoberto quem ele era.

"Isso é cevada." Ele disse.

"Cevada, senhor? Parece extraordinariamente bem irrigada." As valas corriam ao redor dos campos, mas Maomao não achava que cevada precisasse de tanta água.

Maomao, a gata, estava a seus pés. Ela estava cansada de ficar em sua cesta e alternadamente descansava nos joelhos do médico e espiava pela janela. Já a gata parecia saber quem era Jinshi, e ocasionalmente se aconchegava em seus tornozelos. Basen mantinha distância dela, talvez por nunca ter lidado com gatos antes. Parecia haver muitas coisas com as quais ele não lidava muito bem.

"Essas valas são para a temporada de arroz do verão. Eles cultivam duas safras por ano aqui, arroz e cevada."

"Aaahm."

"Plante arroz em solo inundado e você pode cultivar outra safra no mesmo campo sem esgotar o solo." Acrescentou o charlatão.

Cultivar duas safras no mesmo ano significava tirar muito mais nutrientes do solo — mas a água para os arrozais na verdade restaurava os nutrientes do solo, protegendo-o contra o esgotamento. Uma forma ideal de agricultura para uma área tão abundante em água.

À medida que eles passaram pelos campos, a floresta surgiu, bem como a vila aninhada perto dela.

"Parece haver uma grande variedade de recursos naturais por aqui." Observou Maomao. Tantos, ela pensou, que não parecia haver uma razão convincente para se concentrarem na fabricação de papel; mas havia outros fatores em jogo.

"Quando chegamos aqui, a planície já pertencia a outra pessoa." O charlatão explicou. "Mas eles não tinham dado uma boa olhada na floresta."

Aquela floresta, com a água das montanhas próximas correndo por ela, fornecia os recursos para a indústria de papel da vila. Não havia o suficiente para permitir que eles produzissem em grandes quantidades, mas eles conseguiram ter sucesso ao se concentrarem na qualidade. Felizmente, o rio também servia como uma maneira conveniente de transportar seus produtos. Os dois grupos faziam coisas diferentes, então os moradores se davam bem com os habitantes originais da terra.

"Naquela época o proprietário era um sujeito muito bom." O charlatão informou.

Algo incomodava Maomao, no entanto. Enquanto passavam pelos campos, seus olhos encontraram os de um fazendeiro pisando na cevada. Essa era uma maneira de tornar o grão mais forte, mas a maneira como ele fez isso parecia quase zangada. O olhar que ele lhe deu era cortante, sombrio. Maomao fingiu que não o viu, em vez disso se virou para continuar sua conversa com o médico. Quando chegaram à aldeia, foram recebidos por uma mulher que parecia ter cerca de quarenta anos. A suavidade de seus olhos e a maneira como eles eram meio caídos lembraram Maomao do próprio charlatão. A mulher deve ser a irmã mais nova dele, ela supôs.

O charlatão passou o gato para a mulher, que sorriu e acariciou seu pelo. Ele deve ter dito a ela com antecedência que levaria o animal. Ele evidentemente não a deixou saber que viajaria com uma comitiva inteira, pois ela olhou para Maomao e os outros com surpresa.

"Bem-vindo de volta, irmãozão." Ela disse.

"Obrigado, é bom estar de volta." O charlatão parecia calmo o suficiente, mas lágrimas brotavam nos cantos de seus olhos. Era difícil julgá-lo; o homem estava vendo sua casa novamente pela primeira vez em mais de dez anos. "Eu gostaria de ir visitar os túmulos." Ele disse. "Você sabe, o pai e..."

Diários de uma Apotecária (Kusuriya no Hitorigoto) Light Novel 5Onde histórias criam vida. Descubra agora