The Song of the Crow

Capítulo 4

[Abigail]

Uma semana se passa, depois duas.

As manhãs são exaustivas e se arrastam por muito tempo. Dores fantasmas a atormentam à noite, por todo o corpo.

Segundo Miranda, são sintomas normais, desde que sejam suportáveis; um sinal de que seu Cadou está se adaptando melhor a ela. "Calibrando-se para máxima eficiência" foram suas palavras exatas, mas Abigail não quer se demorar muito em seu significado – de algo se movendo e mudando dentro dela.

De qualquer forma, ela está acostumada a cerrar os dentes e se impulsionar para frente, desde que seus olhos permaneçam fixos em seu objetivo. Ela sempre foi ótima em esconder sua luta também...

Mas Miranda consegue ver através dela.

Abigail odeia isso, como ela encara o próprio rosto com aqueles olhos penetrantes – sempre por trás daquela maldita máscara – e simplesmente  sabe ...

"Você não tem dormido. Não fui clara que você deveria me avisar se seu braço começasse a doer?", ela pergunta com aquela atitude imperiosa, como se devesse uma resposta.

“Não é tão ruim assim.” Abigail balança a cabeça.

É o que ela diz a si mesma também, quando está deitada na cama tremendo, seu ser em chamas, como se estivesse sendo dilacerada pelas costuras.

Miranda, é claro, reconhece a mentira descarada pelo que ela é, se aquele olhar gelado for algo para se levar em conta. Mesmo assim, ela é a última pessoa com quem Abigail quer falar sobre qualquer coisa que a esteja incomodando ou machucando. Ela é a última pessoa com quem Abigail quer falar,  ponto final .

E sim, ela definitivamente ainda está amarga por descobrir a verdadeira identidade de Eira.

“Você falaria comigo sobre todo tipo de coisas inúteis por anos, Abigail. É realmente tão difícil falar sobre o que está acontecendo com você agora?” A voz de Miranda fica um pouco mais áspera, mas – de alguma forma – ainda oca e sem cor.

"Eu não falei com  você  todos esses anos", ela enfatiza, encontrando o olhar estreito com o seu.

"Não está na hora de você aceitar que foi?" O tom condescendente de Miranda ultrapassa todos os seus escudos e martela diretamente em seus nervos como um prego enferrujado.

“Eu estava falando com uma  pessoa , não com um anjo enganador olhando para todos por trás de uma máscara.”

E ela sente  tanto prazer nisso, que o pequeno tremor mal é visível na expressão normalmente imutável de Miranda.

Ela espera que muitas coisas aconteçam, nenhuma delas boa, em resposta à sua declaração. Seu braço já está tenso em preparação para a ameaça iminente—

Asas negras se abrem com a força de um furacão;