11. A pessoa especial.

142 24 4
                                    

Olho as pequenas gotas de chuva escorrendo pelo vidro da grande janela da cozinha.

Passo o dedo pela pedra fria da mesa, olho para a tela do celular vendo quatro e vinte da madrugada brilhando na tela.

Passei horas olhando para o teto do quarto esperando o sono aparecer, meu cérebro parecia não querer parar.

A pergunta de onde tirei coragem para dar encima da Clarisse no carro e o porque não me arrependi disso, ficavam rodando a minha mente.

Nos poucos minutos que consegui manter os olhos fechados as imagens daquela noite voltaram, consegui ver perfeitamente a mulher, mesmo com a aparência dela eu só consegui focar na imagem da adaga em sua mão.

O brilho que ela refletia ou a sensação  de dor que o metal causou quando veio de encontro a minha pele, cresceu em mim naquele momento.

– Safira? — A voz calma e suave de Eve me faz virar a vendo enrolada em um cobertor parada a poucos passos de mim — Tudo bem ?

– Não sei direito. — Falo baixo a fazendo se sentar do meu lado na mesa – Me lembrei daquela noite.

Falo a vendo me encarar levantando uma sombrancelha

– Tinha uma mulher, lá, aquela noite.

– Bom, você pode ter ouvido eu ou a Clarisse te chamando e... — Nego com a cabeça a fazendo se calar.

– Ela conversou comigo Eve, falou meu nome varias vezes, lembro de ouvi-la dizer alguma coisa mas não me recordo o quê foi, e ela tinha uma... — Paro de falar sentido um frio subir por minha coluna se espalhando pelo meu corpo — Uma adaga.

Suspiro olhando para minha amiga que me olha atentamente, como se pedisse para que eu continuasse.

– Consigo ver perfeitamente a adaga, mesmo de longe, o brilho da lamina a forma como ela se destacava ou até mesmo o medo que senti assim que a vi, sinto que algo mudou aquela noite.

Levo minha mão ao meu ombro o sentido latejar enquanto minha pele esquenta como se fosse pegar fogo a qualquer minuto.

– Fala isso por conta do que aconteceu no carro com a Clarisse?

– Em partes sim, não sei o que me deu coragem para agir da forma que agi com ela.

Um relâmpago atravessa a janela me fazendo olhar para fora vendo uma linha branca cortar o céu como se fosse nada.

– Certa vez minha avó me falou uma coisa. — Olho para Eve a vendo sorrir de leve com a lembrança —  Ela falou que algumas pessoas ficam encima do murro, e sempre que se balança acaba mostrando um desses lados, uma santa de um lado e uma safadinha do outro.

Tento em vão segurar o sorriso que apareceu em meu rosto.

– Você é ótima em dar concelhos. —  Falo rindo a fazendo rir também.

– Estou falando sério Safira! Talvez seu desejo pela Clarisse esta falando mais alto que a razão e ele ta te controlando, ou só é falta dos remédios!

Abro a boca fingindo estar surpresa, sentindo meu corpo ficar mais leve.

– Com uma dessas eu vou ate ir dormir. — Falo me levando sendo acompanhada por Eve.

_________________________________________

O vento frio e úmido bate contra meu rosto, enquanto sinto o cheiro fresco do chá de jasmins dentro da pequena xícara em minhas mãos.

  Angelina me chamou para tomar um chá com ela, na desculpa de todos terem saído.

Olho para a piscina em nossa frente, algumas folhas de árvores encima da água se movem lentamente conforme o vento sopra.

Angel Heart - Clarisse la rueOnde histórias criam vida. Descubra agora