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Não há nada que você poderia ter feito.
Você não pode mudar o que já aconteceu, cara.
Você não pode salvar todos.
Sou grato a Jay. Eu realmente sou. Não confio em muitos homens
nessa área, especialmente para fazer uma parte do trabalho que tenho
dificuldade em abrir mão, mas não posso estar na ativa e ficar grudado
em um computador ao mesmo tempo. E Jay tem sido mais que eficiente
em ajudar nesse lado do trabalho.
Mas o filho da puta não sabe fazer eu me sentir melhor.
Ele está tentando. Eu entendo.
Mas tenho dificuldade em apreciar seu esforço quando estou
gastando todas as minhas forças para não entrar no Savior e explodir o
lugar inteiro. Se não fosse o fato de que existem pessoas inocentes que
trabalham lá – ou melhor, estão sendo mantidas como reféns – eu faria
isso.
Eu estava lá.
Eu os vi beber o sangue de um garotinho. Um garoto de oito anos
foi sacrificado em algum altar de pedra para receber os novos membros
de um clube pedófilo adorador do diabo e bebedores de sangue.

Nunca vou entender o porquê. Nunca vou entender o desejo de
machucar alguém tão jovem, tão puro, tão inocente. Mas são essas
qualidades que os atraem. Isso é o que atrai o diabo para o anjo.
Eles querem corromper, ferir e contaminar. Causar dor e
sofrimento àqueles que nunca pediram por isso. Essa é a emoção doentia
nisso.
— Ele tinha oito anos, Jay — resmungo com os dentes cerrados.
— Ele tinha uma família. Duas mães, três irmãos e uma irmã. Ele era
amado. Ele foi criado em um bom lar por pais que o amavam. E eles o
sequestraram na porra de uma mercearia, o venderam para o tráfico
humano e o usaram como um sacrifício de merda.
Jay fica calado, parecendo perceber que suas respostas padrão para
fazer eu me sentir melhor são insuficientes.
Eu estava lá.
E não fiz nada para impedir.
Abro a boca, pronto para mudar de assunto quando recebo outra
chamada. Olho para o celular e um rosnado feroz toma conta do meu
rosto.
— Tenho que desligar — falo irritado, desligando o telefone na
cara de Jay e imediatamente atendendo a ligação.
— Daniel. Tão bom ouvir você — saúdo. Como um cobertor
sendo jogado sobre o fogo, meu tom é frio e controlado.
— Zack, desculpe ligar tão do nada. Queria te pedir uma coisa.
Eu me encosto na cadeira, rolando meu pescoço, os músculos
estalando ruidosamente. Meus olhos não se desviam do computador, que
mostra a foto do garotinho morto no último vídeo.
Nunca vou esquecê-lo, mas colar meus olhos em seu rosto me
lembra haver mais por aí na mesma situação. E agora, esse lembrete é a
única coisa que me impede de enlouquecer.
Preciso ser inteligente. Se enlouquecer agora, vou arruinar tudo
pelo qual tenho trabalhado tanto.
— O que posso fazer por você?

— Considere isso uma iniciação preliminar. Estamos decididos
sobre o que vamos jantar nesse sábado, e é realmente especial.
Queremos ter certeza de que não haja problemas, então decidimos ter
um aperitivo na sexta-feira, se você quiser.
Minhas sobrancelhas franzem e um poço de pavor se forma em
meu estômago, como o céu se abrindo e liberando uma chuva torrencial
em uma cidade que está se afogando.
— Que não haja problemas? — repito, meu tom murchando.
— Não leve para o lado pessoal. A maioria dos homens iniciados
estão dentro há anos. Estamos todos apostando aqui, então meus
superiores acharam melhor jantarmos antes.
A Society está me testando. Minha mente já está pensando em
como vou evitar que uma criança morra na minha frente sem matar
todos eles.
— Ah, é? — pergunto com um tom intrigado.
— Tudo o que peço é que na sexta à noite você me encontre em
um jantar que estou organizando.
Sexta-feira é daqui a dois dias.
Minha cabeça gira enquanto tento descobrir o que Dan está
planejando. É algo maligno, sei disso.
— Qual é o propósito deste aperitivo?
Se Dan tem um problema com minha pergunta, ele não me deixa
perceber. E, francamente, não dou a mínima.
Sentindo o desejo tomar conta de mim, mudo minha tela para uma
transmissão ao vivo de câmeras de segurança que configurei em torno da
propriedade de Addie. Ela está em casa, e o carro de Daya ainda está
estacionado do lado de fora de sua casa.
Mais tarde, terei que treinar mais com ela. Repassei várias coisas
que ela deveria fazer se algum dia fosse sequestrada, mas quero ter
certeza de que Addie está totalmente preparada. Não porque planejo
deixá-la ser levada, mas sou uma pessoa realista e lógica, e entendo que
não posso controlar tudo.

Assombrando Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora