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Depois disso, desligamos, ambas precisando finalizar algum
trabalho, mas minha mente continua divagando.
Na verdade, não estou triste de ouvir falar do destino dos
Talaverra, mas ainda há aquela preocupação mesquinha, na parte de trás
da minha cabeça, de que foi minha sombra quem os matou.
Já faz uma semana que Arch desapareceu e ainda não há sinal da
minha sombra. Não quer dizer que ele ainda não esteja se esgueirando,
mas ele não dá sinal de sua presença
O amigo de Daya montou meu novo sistema de alarme e câmeras,
e tenho vergonha de como tenho sido obsessiva em checá-las desde
então.
A minha parte ingênua espera que agora que eu tenho um sistema
de segurança, ele ficará longe. Mas enquanto eu tomo muitas decisões
estúpidas ‒ muitas mesmo ‒ não sou estúpida o suficiente para acreditar
que ele não vai aparecer aqui em breve.
Eu me espreguiço, gemendo enquanto meus músculos estalam, a
banqueta na minha cozinha pouco ajudando a apoiar minhas costas
enquanto eu escrevo. Tenho trabalhado em um novo romance de ficção
sobre uma garota fugindo da escravidão, e o prazo que estabeleci para
mim mesma está se aproximando rapidamente.
Quando começo a digitar novamente, um rangido vindo de cima
atrai minha atenção. O som imediatamente faz com que meu coração
comece a acelerar. Faço uma pausa, ouvindo qualquer outro barulho.
Vários segundos passam sem nenhum distúrbio. Os únicos sons são a
caldeira de aquecimento e o da leve chuva contra a janela.
Logo quando começo a pensar que estou perdendo a cabeça, ouço
outro rangido vindo diretamente de cima de mim.
Segurando minha respiração, levanto-me lentamente do banco, as
pernas de metal chiando contra os azulejos. Eu estremeço, o som é alto e
desagradável.
Bem, caramba, ainda bem que não me tornei uma espiã. Eu
morreria nesse trabalho.

Rapidamente, vou até a gaveta dos talheres, abro-a e agarro a faca
de açougueiro. Segurar esta arma está começando a se tornar uma rotina
diária, uma da qual estou começando a ficar entediada.
Eu não paro para pensar no que estou fazendo. Subo em direção às
escadas, seguro no corrimão e subo silenciosamente os degraus. Por um
instante, penso no título do filme de terror que eles fariam depois da
minha morte.
Percorrendo o corredor, espreito pelos quartos com as portas
abertas, segurando a faca na minha frente. O corredor é longo e largo,
com cinco dos quartos aqui em cima.
Assim que saio de um dos quartos vazios, ouço um pequeno
baque. Parece vir do meu quarto.
Com a respiração presa, desço pelo corredor, colocando todo o
meu peso sobre as pontas dos pés.
Não faço a menor ideia de como as bailarinas fazem isso.
A porta do meu quarto está fechada. A adrenalina é liberada sem
parar na minha corrente sanguínea, é como injetar heroína na veia.
Ela não estava fechada antes.
Fico do lado de fora da minha porta, olhando para ela como se ela
tivesse um rosto e fosse me avisar do que está lá dentro. Isso seria
totalmente benéfico neste momento.
Não saber o que vou encontrar do outro lado é a pior parte. É isso
que faz com que meu coração bata ferozmente no meu peito e meus
pulmões se apertem.
Será que vou abrir a porta e ver a sombra dos meus pesadelos?
Vasculhando minhas coisas?
Meus olhos se arregalam, percebendo que a porra doentia pode
estar vasculhando a gaveta das minhas calcinhas. O pensamento gera um
tsunami de raiva que me assola, e antes que eu possa considerar as
consequências, eu avanço pela porta.
Ninguém está lá dentro.

A cada registro, suas palavras se tornam curtas e temerosas. Antes
que eu saiba, estou quase rasgando as páginas, tentando encontrar
qualquer indício de quem é seu assassino.
Mas na última página, suas últimas palavras são: ele veio atrás de
mim. Nenhum beijo de batom na página. Apenas essas quatro palavras
assustadoras. Eu viro a página, procurando ver se há algo mais.
Desesperada por elas, na verdade.
Não há mais registros, mas eu noto algo estranho.
Um pedaço de papel recortado sai da lombada do diário. Eu passo
meus dedos sobre ele. Uma página foi arrancada.
Ela escreveu algo importante e decidiu que não valia o risco de
que alguém soubesse? Todos esses três diários são obscenos, cheios de
traições e sexo. Acima de tudo, cheios de amor por um homem que a
perseguia.
Eu olho para cima, encarando à frente, mas sem ver nada.
Quando mamãe partiu, ela foi com a esperança de que eu ouvisse
seus conselhos e saísse do Casarão Parsons.
Mas quando ela saiu por aquela porta, com o cheiro repugnante de
seu perfume Chanel pairando em minhas narinas, eu decidi que não
queria me mudar.
Será que a vovó tinha uma ligação estranha com o casarão?
Possivelmente. Mas se esta casa significava tanto para ela, não me parece
correto vendê-la. Mesmo que isso signifique que eu também tenha um
apego não muito saudável.
E agora, essa decisão já se sedimentou. Não há como este diário
ter caído no chão. No entanto, ele estava ali. E não sei se foi obra da
vovó, ou da Gigi, mas alguém queria que eu lesse estes registros.
Eles querem que eu encontre a pessoa que matou Gigi? Deus, não
consigo nem imaginar como teria sido difícil resolver um assassinato nos
anos 40 com uma tecnologia atrasada. O assassino dela ainda está vivo?
Talvez não importe se ele está ou não. Talvez Gigi queira justiça
pelo seu assassinato, e que o homem que acabou com sua vida muito

Assombrando Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora