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O músculo acelerado dentro da minha caixa torácica se liberta e
sobe pela minha garganta.
Eu não consigo olhar. Abruptamente, fico de pé, inquieta,
disfarçando meu nervosismo até que estou quase com convulsões. Eu
preciso... fazer alguma coisa. Distrair-me.
Pegando meu telefone, eu corro pelo corredor, desço as escadas de
madeira rangentes, e entro na minha cozinha.
Está escuro aqui dentro. Estranho. Mas a minha teimosia me
impede de acender qualquer luz.
Ping.
Trêmula, despejo dois dedos do uísque do meu avô em um copo. E
então eu levanto o decantador, notando o quão pouco resta. Idiota.
Engulo a bebida de uma só vez. O sabor é esfumaçado, com uma
pitada cítrica. Arde ao descer por minha garganta, transformando o
interior do meu corpo em um inferno.
Como se eu já não estivesse queimando.
Depois de derramar mais dois dedos e mandar isso para baixo,
tenho coragem de olhar para a tela.
DESCONHECIDO: Ah, ratinha.
DESCONHECIDO: Mal posso esperar para comê-la. Não vai
sobrar nada de você quando eu terminar.
Maldição.
Os calafrios se espalham pelo meu corpo e eu deixo cair o
telefone. Ele atinge ruidosamente a mesa, perturbando o ar parado.
— Deus? Por que você me odeia, porra? — pergunto em voz alta,
minha voz ecoando no ar vazio.
É claro, ele não me responde. Ele nunca me responde. Eu nem
sequer falo com Deus. Estou falando comigo mesma e com os fantasmas
dentro desta casa.
Nem mesmo eles vão me responder.
Que se dane. Eu vou para a cama.

Subo as escadas, desligo a TV e volto para a minha cama, conecto
meu celular no carregador e depois atiro o cobertor sobre minha cabeça.
Aqui embaixo, os monstros não podem me pegar. Eu estou segura.
Intocável.
Ignoro o latejar entre minhas pernas e fecho os olhos, tentando
dormir.
E apesar dos pensamentos esporádicos que flutuam na minha
cabeça, eu consigo me deixar arrastar para um sono inquieto. Eu me
mexo e viro, o cobertor mantendo meu corpo muito quente, mas meu
subconsciente não permite que o ele fique abaixo dos meus olhos.
Em algum momento, no meio da noite, sinto ume pele áspera
deslizando sobre meus braços. Meu subconsciente começa lentamente a
me afastar dos meus sonhos, mas parece que estou presa sob uma forte
neblina.
Algo áspero desliza em torno do meu pulso, sacudindo-me ainda
mais para a consciência. Quando sinto a textura áspera se apertar ao
redor de meu outro pulso, finalmente começo a deslizar de volta à
realidade. Meus arredores começam a aparecer, e mesmo no meu estado
meio adormecido, sei que algo está errado.
Meu rosto parece pressionado, meu corpo está exposto.
Sinto a coberta passar pelos meus seios, pelo estômago e pelos
quadris. Quando o ar frio se instala, fazendo com que meus mamilos
virem pontos duros, eu desperto.
Meus olhos se abrem e minha respiração fica presa na minha
garganta quando vejo uma figura escura assentada entre minhas pernas.
Imediatamente, eu entro em pânico. Meu coração acelera e a adrenalina
dispara.
Vou gritar, mas algo constringe minha boca. Meus olhos ficam
arregalados quando percebo que minha boca está tapada com fita
adesiva.
Me dou conta de várias coisas de uma só vez. Meus braços estão
acima de mim, amarrados à cabeceira com cordas grossas. Eu puxo contra as amarras, tentando desesperadamente escorregar meus pulsos
para fora dos nós, mas sem sucesso.
Eu luto mais, mas meu corpo não consegue se mover muito. Coxas
grossas me seguram enquanto meu stalker se apoia sobre mim, seu rosto
escondido pelas sombras.
Continuo lutando contra a corda, mas só consigo esfolar minha
pele.
— O que eu te disse, ratinha? — pergunta ele, sua voz profunda
quase um sussurro. Eu nem sequer lhe dou uma olhada, meu olhar de
pânico fixado nas cordas que me deixam completamente desamparada.
Que se foda o que ele me disse.
— Me solta! — Eu grito debaixo da fita, mas as palavras saem
abafadas e indistinguíveis.
Ele planta suas mãos sobre meus quadris e me prende à cama.
Choques elétricos viajam da pele dele para a minha, uma sensação que
me faz tremer sob suas mãos calejadas.
O pânico faz com que minha mente entre em parafuso. Eu não
penso mais racionalmente. Meu corpo entra em modo de sobrevivência,
e luto com toda a força que posso reunir.
Mas isso é inútil. Ele é muito grande. Muito pesado. Muito
imponente.
Eu grito de frustração, tentando dar-lhe um chute. Ele ri da minha
tentativa, o som da sua satisfação gelando minha coluna.
Mesmo assim, ainda bufo e sopro contra a fita. Meu cabelo está
em desordem, com vários cachos espalhados pelo meu rosto e limitando
minha visão dele.
Não que eu queira particularmente ver seu rosto de qualquer
maneira. É uma maldita arma.
Suavemente, ele afasta os cachos do meu rosto, com ternura em
seu toque.
— Fascinante que você ainda não aprendeu, eu sempre sigo em
frente com minhas ameaças — sussurra ele.

Assombrando Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora