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Repetidamente, ele grita para deixá-lo ir. Sua vozinha falhando,
enquanto ele chora por ajuda.
Eu passo a mão por cima do rosto quando eles enfiam uma faca
curva em seu peito. Eles enchem taças de metal com seu sangue e bebem
a taça inteira de uma só vez.
Eu me forço a observar e suportar a dor, ao lado deste menino.
Porque mesmo que esta alma inocente já tenha desaparecido, isso não
significa que eu não farei tudo o que estiver ao meu alcance para
encontrar justiça para ele.
Quando o vídeo termina, tenho que me virar e respirar fundo
apesar da vontade de vomitar.
— Z? — Eu tinha até esquecido que Jay ainda estava na linha.
— Sim? — respondo, minha voz rouca e baixa.
— Eu... eu não pude assistir, cara. Não consegui fazer isso.
Fecho os olhos e respiro fundo.
— Está tudo bem — digo. — Você não precisa fazer isso.
Jay sabe o quanto me custa ver estas coisas, mas também sabe que
eu me recuso a me afastar delas. É o que a maioria das pessoas faz
quando se trata de tráfico humano. Todos sabem que isso existe, e a
maioria se educa sobre como evitá-lo, mas não conseguem assistir
quando se trata da realidade. Não conseguem ouvir. Não conseguem ver
a depravação. Porque se não olharem, podem voltar à sua vida normal e
continuar vivendo como se não houvesse milhares de pessoas morrendo
por isso todos os dias.
Jay não é uma dessas pessoas, ele está fazendo o que pode. Mas
ele também não tem estômago para isso, e não posso culpá-lo.
Porque eu também não tenho. E, para ser honesto, as pessoas que
conseguem suportar são as que traficam e cometem os crimes.
— São os quatro que temos rastreado? — pergunto.
Jay suspira.
— Não, Mark foi visto em um restaurante ontem à noite com sua
esposa durante o registro na hora do vídeo. Parece que são homens diferentes, mas estes não são identificáveis. Imagino que eles só façam o
ritual uma vez.
Eu aceno com a cabeça, minha mente acelera enquanto tento
descobrir que porra vou fazer.
Há cerca de seis meses, um vídeo vazou na dark web de quatro
homens com vestes pretas realizando um ritual com uma garotinha. Não
tenho certeza se foi arrogância ou o quê, mas os homens mantiveram o
capuz abaixado, sem se importar com os espectadores vendo exatamente
quem eles eram.
Mesmo com o vídeo de baixa qualidade e a iluminação fraca,
consegui identificá-los imediatamente.
Os senadores Mark Seinburg, Miller Foreman, Jack Baird e Robert
Fisher.
Eles cercaram a menina em um altar de pedra, esfaquearamna e
depois beberam seu sangue. A garota ainda estava viva, sacudindo e
gritando com todas as forças enquanto os homens entoavam um cântico
ao redor dela.
O exato mesmo ritual pelo qual o garotinho acabou de passar,
ainda rodando na tela do meu computador. Exceto que neste, os quatro
homens ao redor do menino têm capuzes altos e pontiagudos sobre suas
cabeças, escondendo suas identidades.
Já posso me sentir deslizando de volta para aquele buraco negro do
qual levei semanas para rastejar para fora há seis meses. Isso me colocou
em um dos estados mentais mais sombrios em que já estive.
Eu me tranquei em uma sala e não saí por vinte e seis horas depois
de assistir aquele primeiro vídeo. Eu era fisicamente incapaz de
continuar a viver meu dia a dia normal com o conhecimento de que isto
estava sendo feito com crianças.
Esse desamparo cresceu enquanto eu explorava a dark web e
encontrava milhares de vídeos de pais violando seus próprios filhos. Ao
lado de milhões de outros vídeos de tortura, canibalismo e até mesmo
necrofilia. Muitos desses vídeos acontecem em salas vermelhas, onde os compradores podem direcionar como exatamente querem que a vítima
seja torturada, estuprada e morta.
E esses são apenas os que envolvem crianças.
Esses vídeos em particular foram o que me levou a criar o Z, há
cinco anos. Desde criança, eu tinha um dom para a informática, e
minhas habilidades superaram até mesmo os melhores hackers em
organizações governamentais.
Eu me encontrar na dark web e tropeçar nesses vídeos foi por
acidente. Mas isso mudou a porra da minha vida.
Desde então, não consigo dormir. Sabendo que pessoas doentes
pagam para ver centenas de milhares de crianças sendo submetidas a
essas coisas. Pior ainda, sabendo que as pessoas que cometem os atos o
fazem tanto para seu próprio prazer como para ganho monetário.
E que tantas mulheres e crianças continuam a desaparecer todos os
dias para que possam ser submetidas a essas mesmas coisas.
Desde então, fiz disso a minha missão, encontrar todos e matá-los.
Já matei centenas de pessoas desde então. Localizando predadores dos
quais tenho cem por cento de prova de seu envolvimento no tráfico
humano.
Agora vou trilhar meu caminho pelo governo, começando com os
quatro políticos do primeiro vídeo, e depois continuar meu caminho pelo
resto.
Eu sei exatamente onde eles vivem. O que comem, onde dormem,
cagam e trabalham. Mas o que não consegui descobrir é onde esses
rituais acontecem.
E a cada dia que passa sem essas informações, esses rituais serão
realizados com cada vez mais frequência.
— Conseguimos um endereço IP de quem vazou o vídeo? —
pergunto a Jay, embora eu já saiba a resposta.
— Não, eles cobriram seus rastros. Quem o vazou sabia o que
estava fazendo — responde Jay. Estralei meu pescoço novamente,
rangendo meus dentes contra a dor abrasiva que irradiava dos músculos
tensionados.

Assombrando Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora