22

87 6 0
                                    

A mamãe me enviou para a terapia, devido ao meu fascínio por
filmes de terror sangrentos. Ela pensava que eu era uma psicopata. E, na
verdade, eu só me excito quando estou com medo.
Acho que isso é estar acima de ser uma psicopata, mas o terapeuta
discordou.
Com muita frequência, eu ouvia minha mãe dizer ao meu pai que
eu era uma aberração. Que algo estava errado comigo, que ninguém no
seu juízo perfeito gosta de ficar assustado.
Mas eu gosto.
Eu amo isso.
É por isso que ter um stalker é a pior coisa para alguém como eu.
Eu sou suscetível a desfrutar um pouco demais do medo. Meu amor pelo
horror vai fazer com que eu morra um dia. É como se eu estivesse
destinada a ser caçada.
Ratinha.
Esse nome vai me assombrar.
Eu não sou uma presa. Eu não sou.
— O Satan’s Affair está chegando à cidade novamente, e eles têm
novas casas assombradas — lembra Daya, trazendo-me de volta ao
presente.
O Satan's Affair é uma feira itinerante que vem à cidade todos os
anos, permanecendo por duas noites antes de seguir para a próxima
cidade. Eles montam um monte de casas assombradas e passeios
emocionantes. Daya e eu vamos todos os anos religiosamente.
Depois dos primeiros anos, as casas assombradas se tornaram
previsíveis. Desde então, elas mudam a cada ano, e agora a feira
itinerante tem algumas das melhores casas assombradas do país.
— Você já sabe que eu serei a primeira da fila.
— Sim, nós sabemos, aberração — ela brinca. Apesar do fato
desse ser o jargão favorito da minha mãe, eu não me incomodo mais
com isso.

Muitos homens também me chamaram disso, seguido de pedidos
desesperados para me foder novamente. Ser uma aberração assumiu um
significado totalmente novo há muito tempo. Agora eu tenho a tendência
a gostar do nome.
Daya parte assim que confirmamos os planos para a noite da feira.
Ainda irá demorar algumas semanas, mas o evento tem conquistado uma
base de fãs fiéis e esgota todos os anos. Chegou ao ponto que de tantas
pessoas virem, tiveram que limitar o número permitido para entrar.
Eles tratam isso como um show para evitar a formação de filas fora
do recinto da feira. Uma vez esgotados os ingressos, você não poderá
entrar. Por sorte, eu tenho um gênio da computação do meu lado, e ela
consegue ingressos para nós antes mesmo de eles estarem a venda.
No momento em que a porta se fecha atrás de Daya, meu telefone
toca. Pensando que é Daya me mandando uma mensagem de texto
dizendo que esqueceu algo, pego meu telefone e abro a mensagem sem
reparar quem é.
No segundo em que vejo o texto, minha pulsação para.
DESCONHECIDO: Pronta para o seu castigo, ratinha?
Olho para cima e me deparo com uma tempestade na janela. Ele
não está do lado de fora. Daya está agora mesmo saindo da entrada e
acelerando, seus faróis traseiros desaparecem pelas árvores.
Eu me viro, nervosa, ele encontrou outro caminho para dentro da
minha casa. Ou pode ser que ele já esteja na casa comigo, esse tempo
todo.
EU: Por que você está fazendo isso?
O texto dele não aparece de imediato. Eu espero com o fôlego
suspenso, e quando percebo que estou olhando para o meu telefone,
quase o atiro pela sala. Ele provavelmente está me fazendo esperar de
propósito.
Finalmente, meu telefone toca. Eu me obrigo a esperar um minuto
antes de abri-lo, só para irritá-lo.

Desconhecido: Você me assombra. É justo que eu
retribua o sentimento.
Eu engulo, uma excitação corre por mim enquanto decido como
responder.
DESCONHECIDO: Você é tão bonita quando está
assustada.
Eu deixo cair o aparelho. Envergonhada e rezando para que ele não
visse que corei, olho pela janela novamente. Ele ainda não está lá.
Onde diabos ele está?
Como se estivesse lendo meus pensamentos, entra outra
mensagem.
DESCCONHECIDO: Estou tão perto, posso sentir o
seu cheiro.
Minhas mãos tremem enquanto leio sua mensagem várias vezes.
As palavras começam a se desvanecer quando o pânico se instala. Ele
está aqui na minha casa, em algum lugar. Corro para a cozinha, agarro
minha faca e volto para a sala de estar.
Ele ainda não saiu, mas imagino que sairá.
Com o coração acelerado e as mãos tremendo, eu me sento na
beira da cadeira de balanço, selando meu destino.
EU: Pare de ser um covarde e saia então.
No momento em que envio a mensagem, eu me arrependo. Quero
retomá-la.
Passos soam acima. Eu engulo em seco e olho para cima como se
fosse capaz de ver através do teto e vislumbrá-lo. Os passos se afastam,
indo em direção ao meu quarto.
Meu telefone soa.
DESCONHECIDO: Venha me achar.
Neste exato momento, estou questionando minha sanidade. Sem
pensar, meu traseiro se levanta do assento e dou um único passo em direção à escada. Meu instinto é correr em direção ao perigo, não para
longe.
Deus? Sou eu novamente. Precisamos realmente falar sobre suas
decisões quando você me criou.
Nem tenho certeza se acredito nele, mas se Ele é real, então
alguém precisa bater na mão dele por me fazer do jeito que eu sou.
Felizmente, o bom senso entra em ação, e eu me impeço de subir e
encontrar um homem louco em minha casa. O mais inteligente seria
chamar a polícia.
Não há como ele conseguir sair sem ser visto. A única maneira de
sair desta casa é descendo as escadas. Ele não pode se esconder para
sempre. A esta altura, nem me importa se a polícia não pode pegá-lo.
Desde que outra pessoa tenha provas de que também o viu, isso será
suficiente para que eles me levem a sério.
Outro zumbido.
DESCONHECIDO: Muito assustada, ratinha?
Como se me desafiasse, uma porta bate. Eu me assusto com o
barulho, meu coração pulando na minha garganta. Mesmo se eu quisesse
gritar, não teria conseguido emitir um som.
Meu peito bombeia erraticamente à medida que o medo se torna
mais potente.
EU: Estou chamando a polícia.
Eu posso sentir o julgamento através das paredes. Aqui estou eu,
chamando-o de covarde e desafiando-o a sair. Depois, quando as coisas
mudam, eu ameaço chamar a polícia.
Porque isso é a coisa inteligente a se fazer, idiota.
Então, por que me sinto tão estúpida por dizer isso? Como é
possível?
DESCONHECIDO: Você se lembra do que eu disse da
última vez?
Como poderia esquecer? Quanto mais eu o desobedecer, mais duro
será o castigo. Mordo meu lábio, pensando seriamente em ir lá em cima e encontrá-lo.
Tenho uma escolha a fazer, e já sei que vou fazer a errada.
Eu me rendo e começo a digitar.
EU: Aí vou eu, idiota.
Mantenho meu telefone em uma mão e a faca na outra. De jeito
nenhum vou ser uma idiota de novo e largar a faca. Ela fica firmemente
plantada no meu punho, assim como ficará firmemente plantada na cara
deste cara quando eu o encontrar.
Eu subo os degraus silenciosamente. Embora eu não tenha certeza
se ele realmente se importa de me ouvir chegando ou não. Tenho a
terrível sensação de que mesmo que eu esteja indo para encontrá-lo, ele
vai me encontrar primeiro.
Esse sentimento familiar se instala em meu interior. Isso se agita
como álcool em um estômago vazio. O suor rompe na minha testa e
tenho a sensação de que engoli areia.
Estou aterrorizada pra caralho.
Uma fila de arandelas em cada lado do corredor fornece apenas luz
suficiente para ver que não há ninguém lá. Eu clico na lanterna do meu
telefone e começo no primeiro quarto.
Eu lentamente sigo meu caminho em cada um dos quartos,
verificando imediatamente à minha esquerda e direita antes de entrar
mais. Eu checo atrás das portas e em cada canto do cômodo.
O armário é a pior parte. Abrir a porta e saber que posso ficar cara
a cara com um homem.
Um homem que quer me castigar.
Lágrimas se acumulam em meus olhos quando descubro o
primeiro guarda-roupa vazio. Meu pobre coração está sofrendo de
palpitações extremas neste momento. Eu não acho que todo esse medo
em minha corrente sanguínea seja saudável.
Ainda assim, eu continuo, encontrando os dois quartos a seguir
completamente vazios também.

Assombrando Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora