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Porra de imbecis, cara!
Minha cabeça explode de tão imbecis que esses caras são. Cheguei
aqui bem a tempo de ver Mark de olho em uma boneca comendo um
sanduíche, enquanto sua esposa, Claire, estava sentada bem ao seu lado
observando-o comer uma jovem com os olhos. Ela não parece sentir
nem um pouco de ciúmes, mas está incrivelmente preocupada com a
garota vestida de boneca quebrada.
Preciso juntar todas minhas forças para não seguir até ele e
esmagar sua cabeça naquele banco de madeira até não sobrar nada além
de pedaços do cérebro e ossos. Mas permaneço nas sombras, um olho
em Mark e outro na multidão, procurando pela minha ratinha.
Ela será uma distração hoje à noite, e isso pode me custar caro.
Inclino a cabeça para trás e solto um suspiro. A possibilidade de Addie
encontrar Mark é pequena, mas não impossível. Se ficar bem longe
deles, ela pode conseguir se divertir em segurança.
Mark e seus parceiros vieram aqui com a intenção de sequestrar
uma criança ou duas. Nunca pensei que eles mesmo sujariam as mãos.
Eles são figuras públicas e nunca arriscariam serem pegos.
Percebo que nenhum dos homens está com os filhos, provando que
eles vieram aqui com um plano e não querem um obstáculo. Eles estão
aqui sob o pretexto de passar tempo com suas esposas e nada além. Mas
aposto minha bola esquerda que ele tira fotos e manda alguém para pegar
quem ele achar… apetitosa.
Minha meta hoje à noite é impedir que qualquer tentativa de
sequestro seja bem-sucedida. Tenho vários homens de prontidão
espalhados por todo o festival, de olho em cada um dos parceiros de
negócios de Mark, quem quer que seja alvo deles, e em qualquer outra
atividade suspeita.
E parece que Mark encontrou sua primeira presa.
A boneca quebrada está em uma competição de olhares com Mark,
trocando sorrisos como um viciado e seu traficante. Ela não é de forma
alguma uma criança, mas ela ainda é nova o suficiente para ser vendida
no tráfico humano.

— Estou de olho no Mark — informo. Jay e os outros mercenários
serão capazes de me ouvir pelo fone de ouvido bem encaixado no meu
ouvido.
Mantendo uma distância segura, desvio das pessoas passando para
ter uma visão melhor do rosto da boneca. O sorriso assustador
deformando seus lábios mostram um desafio maior do que palavras
jamais poderiam, desafiando-o a vir atrás dela. Pelo brilho em seus
olhos, ela parece estar indo além de seu trabalho.
Claire também ainda está olhando para a garota, mas o medo está
irradiando de seus poros tão intensamente quanto o blush pintado em
suas bochechas encovadas. Mark não nota, mas parece que a boneca
sim.
Ela salta do banco, pisca para Mark e vai em direção a uma casa
de bonecas assombrada. Mark a segue com os olhos por todo o caminho.
Seu olhar está fixo na bunda dela e ele passa sua língua pelos seus lábios
rachados.
Então, ele tira o celular de seu bolso e faz uma ligação. Aperto os
olhos, dividindo a atenção entre Mark e a boneca que desapareceu
dentro da Casa de Brinquedo da Annie.
Ele fica no celular por um minuto antes de desligar e se virar para
Claire. Sua esposa acena de forma imperceptível, apenas com um único
movimento de seu queixo. O que Claire sabe é um mistério para mim.
Mark pode esconder a maioria de seus negócios, mas imagino que ela
não seja totalmente ignorante sobre como o marido passa seu tempo
livre.
As casas assombradas ganham vida quase imediatamente depois.
Luzes oscilantes brilham das janelas e uma música sinistra enche o ar,
misturando-se com os gritos assustados dos convidados. A fumaça
colorida que flutua pelo campo aberto agora obscurece o interior das
casas.
Multidões começam a vagar em direção às estruturas assustadoras,
formando filas do lado de fora das portas ainda trancadas. Mark aperta o
braço de Claire e a puxa do banco, andando rápido em direção à Casa de Brinquedo da Annie. Os comparsas de Mark emergem da multidão
agitada, Jack, Miller e Robert.
Bem, estou fodido.
— Estou vendo todos os quatro — falo baixo.
— Localização? — Jay me pergunta com o som do teclado no
fundo.
Quem quer que seja o dono desse parque não acredita em
segurança. Não tem câmeras em nenhuma parte do campo, forçando Jay
a usar um drone pequeno que paira acima do festival. Ele não conseguirá
entrar em nenhuma das casas sem ser detectado, mas conseguirá
capturar qualquer tentativa de sequestro. — Casa de Bonecas da Annie.
— Nos avise se precisar de nós — diz um dos homens,
Barron. Seu barítono é fácil de o distinguir dos outros.
Abro a boca, pronto para responder, mas então vejo um cabelo
castanho avermelhado já na fila da Casa de Bonecas da Annie.
Puta que pariu.
A boneca quebrada deve estar conspirando com Deus, porque só a
porra de uma intervenção divina juntaria todos eles assim.
***
No momento que vejo Mark tocar no ombro de Addie enquanto
estão na fila, minha barriga gela. Acontece que ele e seus colegas estão
bem atrás dela, e leva menos de cinco segundos para os olhos de Mark
recaírem sobre a bunda de Daya. Foi preciso mais esforço para ele
levantar os olhos e reconhecer quem estava diante dele.
Addie se vira, a surpresa está estampada em seu rosto, seguido de
um forçado sorriso entusiasmado, apesar de saber que o maldito
Guardião da Cripta está atrás dela. Daya olha Mark de cima a baixo com
um brilho indiferente em seus olhos, apesar do sorriso educado
curvando seus lábios.
Observo eles conversando por alguns minutos, Mark com seu jeito
barulhento de sempre enquanto ele a apresenta a seus colegas. Mesmo
agora, conheço Addie bem o suficiente para saber que suor está se acumulando em sua testa. Tenho certeza de que Mark perguntou onde eu
estou, e fico curioso para saber a resposta. Toda essa interação me deixa
rígido, e me preparo para ir até lá.
Eu estava tentando dar espaço para Addie hoje à noite, mas isso
não é mais uma opção. Agora que quatro predadores estão prestes a
entrar na casa com ela, há uma grande possibilidade de Addie e sua
amiga nunca voltarem para casa. Se eu não estivesse aqui, é claro.
Mark pode gostar de mim, mas ele não me respeita. Não mais do
que a Society, pelo menos. E seus colegas não irão nem me considerar
quando estiverem levando duas garotas lindas para uma van disfarçada.
A única coisa na mente deles serão bocetas e notas de dólar.
Eu me aproximo de Mark, passando por um cara que parece ter
torrado em uma cama de bronzeamento como se fosse a Fonte da
Juventude. Não faz sentido, mas claramente ele não tem senso nenhum
se está parado no meu caminho e recusa a se mover depois que me vê
chegando. Por isso, ele acaba de bunda no chão, soltando palavrões para
mim enquanto continuo meu caminho.
Assim que me aproximo, Addie e Daya são conduzidas para dentro
da casa, deixando Mark e seus amigos para trás. As casas têm um limite
de pessoas para evitar que o espaço apertado fique muito congestionado.
Especialmente com pessoas correndo como se suas vidas dependessem
disso.
— Mark! — saúdo em voz alta com um sorriso esticado em meu
rosto. Posso sentir minhas cicatrizes se contraindo de tanto que isso foi
forçado, mas o velho está muito absorto em si para notar.
Mark parece assustado quando se vira para mim, mas assim como
com Addie, ele dá um sorriso tenso.
— Zack! Você conseguiu! Acabei de ver Addie entrar com sua
linda amiga. Ela disse que você foi ao banheiro.
Ratinha esperta. Ela deixou aberta a possibilidade de eu estar por
perto e que poderia aparecer a qualquer minuto. Amo demais essa
garota. Mostro meus dentes de novo.

Assombrando Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora