capítulo 35

734 84 31
                                    

Rebeca usava apenas um blusão com uma cueca, ela estava deitada na cama acariciando a barriga de Simone que estava deitada no centro da cama, vestindo apenas uma blusa curta e uma calcinha boxing. Seus olhos estavam na barriga de Simone que deitada naquela posição, permitia que elas visualização o pequeno volume ali.

A mais nova avaliava seus pensamentos sobre o fato que Simone não sabia quase nada da sua antiga vida e percebia que ela ainda não estava pronta para falar sobre isso. Já fazia quase dois anos, Rebeca achava que já era a hora dela se abrir com Simone e deixar que ela soubesse que suas inseguranças não eram algo bobo, e sim, traumas de acontecimentos ruins.

Tomando coragem para se mexer na cama para atrair a atenção de Simone, ela aperta os lábios sentindo seu coração se apertar, não gostava de lembrar de Luana ou dos seus pais mas sabia que já era a hora dela se libertar daquilo.

- Simone, podemos conversar? - ela fala com um tom baixo mas firme, atraindo os olhos amendoados para seu rosto.

- Claro. - responde percebendo que Rebeca queria lhe dizer algo. Sentando na cama, Simone vira seu rosto em direção a Rebeca esperando que ela comece a falar.

- Eu acho que você deveria saber mais sobre a minha vida, minha infância e adolescência até a vida adulta.

- Sou toda ouvidos, meu amor. - Rebeca a olha buscando coragem para desenterrar tudo que guardava no fundo do seu ser, querendo largar tudo aquilo por brunna e seus bebês.

- Vou começar pelos meus pais, você já deve saber que eu tenho uma ordem de restrição contra eles... - Simone afirma com a cabeça indicando que sabia por causa de Jonathan - Bom, meus pais iam se divorciar até descobrirem que minha mãe estava grávida e eles decidiram ficar juntos por minha causa, quando eu nasci fui diagnosticada intersexual e meus pais aceitaram até mesmo que bem, eu cresci como uma menina pois meus pais fariam a cirurgia mas não tínhamos dinheiro naquele momento. Nós éramos uma família tradicional, íamos a igreja aos domingos, minha mãe ficava em casa enquanto meu pai trabalhava, assim foi por toda a minha infância até meu pai perder o emprego e termos que nós mudar para a casa de fundo da minha avó Ângela. Eu estava entrando na adolescência quando eles magicamente apareceram com o dinheiro da cirurgia para eu "me tornar uma menina de verdade", disseram eles, quando eu disse que não faria a cirurgia eles começaram a mudar comigo, ficaram mais rígidos e qualquer motivo era uma palavra de ódio deles contra mim. Com isso eu comecei a passar mais tempo com a minha avó. - pausa esboçando um sorriso se lembrando da senhora de cabelos grisalhos e curtos - Me lembro uma vez de estar chorando por meu pai dizer que eu tinha que "ser uma menina de verdade" e minha avó chegou, me abraçou dizendo que não era para eu ligar para as palavras do meu pai pois eu era uma menina completa, era a sua menininha. - algumas lágrimas de saudade daquela mulher aparecem por seu rosto.

Ao ver as lágrimas escorrerem por seu rosto, Simone segura sua mão lhe dando forças para continuar a contar por sentir que Rebeca precisava contar aquilo.

- Passei a maior parte da minha adolescência na casa da minha avó, ela me instigava a estudar e me ajudava com tudo o que ela conseguia, mesmo que não soubesse muita coisa pois não foi alfabetizada. Quando eu falei para ela que passei na federal, nossa ela ficou tão feliz. - seu olhar fica nublado se lembrando do que tinha acontecido em seguida - Mas isso não durou muito, meses depois ela começou a adoecer com rapidez e os médicos não sabiam o que ela tinha.. Minha avó faleceu um mês antes de eu vir para São Paulo.

Rebeca enxuga as lágrimas que escorriam por sua bochecha segurando um soluço, mesmo depois de anos a morte de sua avó ainda doía. Talvez doeria para sempre, ela só teria que aprender a lidar com isso.

- Foi ai que o inferno começou, quando meus pais e meus tios descobriram que minha avó deixou todo o dinheiro no banco e a casa para mim, todos exigiam que eu dividisse com eles. Eu tinha apenas dezessete anos, estava abalada pela morte da minha avó e não conseguia acreditar que a única pessoa que me aceitava como eu era tinha ido. Então em uma noite, eu peguei as minhas coisas e o dinheiro que minha avó tinha deixado, fugi daquele inferno e vim para São Paulo. Na faculdade, eu me mantive com o dinheiro da herança e quando consegui um emprego, guardei cada centavo que minha avó me deixou.

SINGULAR - rebiles (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora