VI

7 0 0
                                        

Nico Moretti

27-01-2024

Aperto o cinto de segurança enquanto o avião desce suavemente em direção ao aeroporto de Verona. O ronco dos motores, que já tinha se tornado uma espécie de música de fundo, agora me puxa de volta à realidade. Verona. Não só uma cidade, mas um novo capítulo, uma nova vida. Ao olhar pela janela, vejo as luzes da cidade cada vez mais próximas. Meu coração bate com ansiedade, mas também com uma estranha calma. Eu realmente fiz isso. Deixei tudo para trás.

Quando o avião finalmente toca o solo, respiro fundo. O barulho dos passageiros se levantando e pegando suas malas de mão invade meus ouvidos, mas estou alheio a tudo isso. Meu pensamento está em Ryan, esperando por mim lá fora. O homem que me deu a coragem para fazer o que eu precisava. Desembarco rápido e, depois de um pequeno labirinto de corredores e filas de segurança, estou na área de desembarque.

De repente, vejo Ryan, encostado numa parede com aquele sorriso que só ele tem. Ele abre os braços e, sem hesitar, caminho em sua direção. Não preciso dizer nada. Ele entende. Esse abraço diz tudo.

– Bem-vindo à liberdade, Nico – ele diz, batendo nas minhas costas.

- Valeu, mano – respondo, ainda segurando o ar de alívio no peito.

Saímos do aeroporto em silêncio, Ryan guiando o caminho até seu carro. As ruas de Verona à noite parecem tranquilas, acolhedoras. Mas sinto um nervosismo crescente. Tudo é novo, e essa liberdade que tanto desejei está à minha frente, aguardando para ser conquistada.

...

Acordo de um sono profundo, perdido por um momento no tempo. Olho para o relógio: 18:00. Eu dormi por quase 24 horas. Acordei no quarto de hóspedes do apartamento de Ryan, num estado de confusão e cansaço. Talvez o peso da decisão de ter fugido de Sicília tenha finalmente me atingido, ou talvez fosse só a exaustão de tudo. O silêncio no apartamento é quebrado quando ouço a porta abrir.

– Dormiu como uma pedra, hein? – Ryan entra, rindo. – Já passa das seis, Nico. Tem que se levantar. Hoje é um dia importante.

Eu me sento na cama, ainda com sono.

– Que horas você disse?

– Seis da tarde. Você tem uma reunião com o dono do Oásis hoje. Lembra? Primeiro dia oficial em Verona e você já vai atrás de trabalho.

Levanto-me e me espreguiço. Oásis, o bar que Ryan me mencionou quando ainda estávamos planejando minha vinda. Um teste para ver se eu poderia ser o novo barman deles. Olho para o espelho, ajeito o cabelo e sorrio. Parece simples, mas esse trabalho significa tudo para mim. Um novo começo, uma chance de me firmar.

– Tá bom. Vou me arrumar.

Ryan sorri de canto e sai do quarto.

...

Chego ao Oásis por volta das 19:00. O bar fica numa das ruas menos movimentadas do centro de Verona, mas tem um charme todo especial. O letreiro iluminado em neon dá uma sensação acolhedora, quase mística. Entro, e o ambiente é exatamente o que imaginei: descontraído, com uma iluminação suave que mistura tons de azul e roxo, e uma trilha sonora calma que não sobrepõe as conversas. Eu poderia me acostumar a isso.

No balcão, o dono, Máximo, me espera. Um homem de uns 50 anos, com uma barriga saliente e um olhar que mistura ceticismo e curiosidade.

– Nico, certo? – ele pergunta, estendendo a mão.

A Ironia do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora