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Marcella Rossi

29-01-2024, Verona, Itália

- Parece que vais ficar presa aqui conosco por mais algum tempo - comentou Nico, com uma nota de diversão na voz.

- Essa tempestade não vai parar tão cedo.Eu suspirei, tentando esconder o desconforto.

Estar ali, num espaço tão pequeno, sem a certeza do que dizer ou fazer, mexia com os meus nervos.

Ryan tentou amenizar a situação.
- Não te preocupes, somos bons anfitriões. - Ele piscou o olho enquanto punha mais café para si. - Vou pôr música, quem sabe até fazemos um pequeno almoço reforçado!

Enquanto Ryan seguia animado, Nico sentou-se à minha frente, silencioso por um momento. O seu olhar era intenso, mas não ameaçador, o que me incomodava. Eu não sabia como reagir àquela intensidade. O silêncio entre nós foi interrompido apenas pelo som da chuva e pela voz de Ryan a cantarolar qualquer coisa na sala ao lado.

- Dormiste bem? - Nico perguntou finalmente, de forma tranquila, como se estivéssemos num dia qualquer.Assenti, sem o olhar nos olhos.

- Acho que sim. Obrigada por... ontem à noite. - As palavras saíram-me com mais dificuldade do que esperava. Eu não era de agradecer, não com facilidade.

Ele deu um sorriso de canto, relaxado.

- Não fiz nada que não tivesse que fazer. Estavas a precisar de descansar.

- És de Verona ? Nunca te vi por aqui. - pergunto quebrando o silêncio que pairava no ar.

- Sou da Sicilia. - pude notar uma tristeza repentina.

Achei melhor não entrar em um assunto que me parecia delicado então só simulei um "Hmm"

- Bem eu tenho que ir eu posso chamar alguém para me buscar, obrigada por tudo e agradeça a Ryan por mim.

Eu pego minha mala e telemóvel e me preparo para sair quando Nico agarra meu braço.

- Achas que te vou deixar ir com a tempestade que está lá fora? É muito perigoso. - fala e eu noto a sinceridade nos olhos dele, mas não vou baixar a guarda, não mesmo.

- Porque haverias de te importar?

- Não é importar, é censo se fosse outra pessoa eu não deixaria também ir.

Eu puxei o braço, mas Nico não soltou de imediato. O toque dele não era agressivo, mas firme o suficiente para me lembrar de que eu não sairia tão facilmente. Havia uma tensão palpável no ar. O olhar dele continuava fixo em mim, aqueles olhos escuros que pareciam sempre ver mais do que eu estava disposta a mostrar.

- Não és meu pai para me dizer o que fazer - disse, tentando manter a voz firme.

Ele ergueu uma sobrancelha, divertido.

- E tu és sempre assim? Difícil até quando alguém está a tentar ajudar?

- Ajuda? - sorri com ironia, puxando novamente o braço, desta vez com sucesso. - Talvez seja, ou talvez seja outra coisa.

Nico bufou, passando uma mão pelo cabelo desalinhado.- Não me conheces, Marcella. Não faças suposições.

- Não preciso de te conhecer para saber que não gosto de ser controlada. - As palavras saíram antes que eu pudesse me controlar. Por dentro, meu coração batia rápido demais. A proximidade dele, o calor de sua pele, a tensão entre nós... algo perigoso estava se formando ali.

A Ironia do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora