XI

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   Marcella Rossi

01-02-2024, Verona, Itália

   A manhã começou com uma névoa leve que se erguia sobre Verona, como um pano de fundo perfeito para o que eu esperava que fosse um dia tranquilo, mas meus planos logo caíram por terra. Quando cheguei ao prédio de Letras, notei uma movimentação diferente, uma agitação incomum para um dia comum de aula. Todos pareciam correr para o corredor principal, com risos abafados e olhares intrigados.

   No meio do grupo, eu o vi.

   Nico estava encostado casualmente na parede do corredor, com os braços cruzados e uma expressão que era quase uma mistura de tranquilidade e... algo mais. Ele parecia deslocado ali, como se o ambiente não lhe pertencesse, mas ao mesmo tempo exalava uma confiança impressionante. Assim que nossos olhos se encontraram, ele sorriu, um sorriso fácil, como se estivéssemos exatamente onde deveríamos estar. Algo no modo como ele me olhou causou um pequeno arrepio na espinha, mas forcei-me a ignorá-lo.

- Marcella! - chamou ele, levantando-se da parede e caminhando em minha direção. 

   Tentei manter uma expressão impassível enquanto ele se aproximava, mas, para minha surpresa, Nico foi interrompido por minha amiga Franci, que apareceu do nada, com um semblante levemente surpreso.

- Então... aqui está o famoso Nico! - ela exclamou, com um toque de ironia que não consegui ignorar. - Afinal, você realmente tem um interesse especial pela nossa Marcella?

   O comentário deixou-me desconfortável, mas Nico não pareceu se abalar. Ele riu levemente e cruzou os braços, mantendo o olhar firme no meu, mas havia algo ali, algo que não consegui decifrar.

- Franci, na verdade eu vim fazer uma aula extra,-  respondeu ele, como se isso explicasse tudo. - Mas posso ter meus interesses além dos acadêmicos, claro.

   Franci arqueou uma sobrancelha, e um sorriso travesso começou a se formar nos lábios dela. Eu sabia que ela estava adorando a provocação, mas, naquele momento, tudo que eu queria era desaparecer.

- Que conveniente - murmurei, talvez um pouco mais ríspida do que pretendia. - Mas por que viria assistir à nossa aula de literatura?

   Nico apenas sorriu, e o olhar que ele lançou em minha direção parecia repleto de intenções que eu não compreendia completamente.

- Literatura é sempre interessante. As palavras têm uma força que muitos subestimam - respondeu ele de maneira despreocupada, mas com um toque de intensidade na voz.

   Revirei os olhos, mas antes que eu pudesse responder, a voz do professor ecoou pelos corredores, chamando-nos para a sala. Franci lançou-me um último olhar de incentivo antes de desaparecer na sala, mas não sem antes dar um sorriso cúmplice. Eu hesitei, mas entrei logo atrás dela. Não foi uma grande surpresa ver Nico ocupando uma cadeira no fundo da sala.

   Durante a aula, tentei ignorar sua presença, mas sempre sentia aquele par de olhos intensos sobre mim, o que me deixava inquieta. Ele parecia estar prestando atenção apenas em mim, como se a aula inteira fosse irrelevante e eu fosse o ponto focal de todo o seu interesse. 

   No final da aula, peguei meus materiais e saí rapidamente da sala, mas, para minha surpresa, Nico estava me esperando no corredor, novamente com aquele sorriso que tanto me desconcertava.

- Então, Marcella - começou ele, enquanto se aproximava. - Gostaria de conversar um pouco? Prometo que não mordo.

   Eu o encarei, tentando decifrar suas intenções. Por mais que ele parecesse inofensivo, havia algo no jeito dele que me incomodava, como se ele soubesse algo que eu não sabia, ou pior, como se ele tivesse um plano que eu desconhecia.

A Ironia do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora