A Ironia do Destino

V

Marcella Rossi

27-01-2024, Verona, Itália

Acordei de manhã por volta das nove horas, o sol já entrava pelas cortinas brancas do meu quarto. Sabia que aquele não seria um dia qualquer. Hoje eu tinha uma missão importante: organizar, dirigir e apresentar o meu primeiro leilão sozinha. Isso não era apenas um leilão qualquer, era o meu teste, minha oportunidade de mostrar que sou mais do que apenas uma executiva de vendas de luxo. Era um evento esperado, onde obras valiosas e raras de arte e colecionáveis seriam leiloados. Todos os olhos estariam em mim.

Levantei-me, sentindo a ansiedade começando a roer as bordas da minha calma. Fiz meu café, tomei um banho longo e quente, e comecei a planejar mentalmente cada detalhe. Organizei meu dia com precisão cirúrgica. A manhã foi dedicada a revisar o roteiro do leilão e os nomes dos participantes, todos eles importantes investidores ou personalidades do mundo das artes. Entre eles, figuras que eu admirava e outras que intimidavam, mas não deixaria isso me abalar.O evento estava marcado para começar às 23h e deveria terminar por volta da 1h da manhã.

Quando a hora se aproximou, vesti meu vestido vermelho elegante, de cetim e caimento perfeito. Era sóbrio, mas sofisticado, assim como a imagem que eu sempre tento passar. Complementei o look com um colar de ouro branco, um presente da minha avó, e finalizei com um par de saltos prata discretos. Estava pronta.

Dirigi até o local do leilão em um Ferrari F40 vermelho que brilhava sob as luzes da cidade de Verona. Sentir o volante nas minhas mãos sempre foi uma terapia; a potência do carro, o som do motor... era como se cada segundo estivesse sob o meu controle absoluto. Cada rua que eu cruzava parecia um lembrete do quanto eu havia conquistado até ali. Eu estava nervosa, claro, mas aquele carro me lembrava de que eu era capaz de domar qualquer situação. Ou assim eu gostava de pensar.

Cheguei ao evento com pontualidade impecável. O salão de leilões, que pertencia a um dos mais prestigiados empresários de Verona, estava coberto por uma aura de luxo que correspondia à magnitude da noite. Estacionar o Ferrari diante do grande prédio foi uma cena impactante. Sentia os olhares cravados em mim, admirando o carro, admirando a imagem que eu transmitia. Desci do carro, entreguei as chaves ao valet, enquanto meu coração batia um pouco mais rápido. Não de medo, mas da expectativa.

Enquanto entrava, cruzei olhares com diversas figuras conhecidas no mundo dos negócios e da arte. Sorrisos de curiosidade e, alguns, de aprovação silenciosa. Era o momento de mostrar que eu merecia estar ali, no comando de tudo.

Dentro do salão, o ambiente era clássico, com tetos altos, lustres de cristal e uma luz suave que dava um brilho especial às peças que seriam leiloadas. Tudo estava no lugar. Meus assistentes correndo de um lado para o outro, garantindo que cada detalhe estivesse perfeito. Eu respirava fundo enquanto sentia a responsabilidade pesar nos meus ombros.

Enquanto esperava o leilão começar, aproximei-me de uma das mesas de bebidas para me servir de uma taça de vinho. Foi quando uma figura alta e imponente se aproximou de mim. Ele vestia um terno de corte impecável, e seu olhar era quase cínico, com um sorriso malicioso que parecia calculado. Já sabia quem ele era. O nome dele ecoava pelo submundo do crime e dos negócios como alguém a ser temido e admirado em partes iguais. Um mafioso que usava o charme para disfarçar a ferocidade.

- Marcella Rossi, certo? - ele disse, com uma voz carregada de sarcasmo. - O leilão mais esperado da noite. Interessante.

- Que bom - respondi, sem deixar que a leve provocação me abalasse. Olhei diretamente nos seus olhos, firme, como quem sabia lidar com qualquer tipo de homem poderoso.