Capítulo 3.

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Se passaram quatro dias desde que vi Lucerys pela última vez. Ele havia sumido e só soube nesta manhã que meu noivo estava em Pedra do Dragão. Ouvi por acaso, através de uma conversa entre minha meia-irmã e Daemon que Lucerys retornaria amanhã pela tarde.


Aegon estava bebendo mais do que de costume e fazia de tudo para se ver livre de Jacaerys que o perseguia pelo castelo como um dragão astuto perseguindo seu inimigo. Me diverti muito vendo as fugas malucas de meu irmão.


Outra noite o pobre coitado  acabou tendo que dormir na dispensa após se pegar trancado lá. Segundo Aegon os ratos lhe fizeram companhia e tinha vinho a vontade e Jacaerys não havia o incomodado.


Me vi lendo a mesma página pela quinta vez seguida e então fechei o livro ao chegar ao entendimento que sequer estava me esforçando para entendê-lo. A imagem de Lucerys se materializou em minha mente e me vi suspirando pesadamente ao não ver mais sua marca em meu pulso.


Devo confessar que tenho me sentido estranho desde sua última visita em meu quarto. A forma como o alfa falou comigo, o tom de voz suave e seu toque gentil em minha pele me causaram sessões diferentes das quais eu não conseguia entender muito bem o que era.


E a maneira repentina como ele se foi, como se não estivesse estado em minha frente me fazia sentir um arrepio estranho, ele se foi e deixou um grande vazio em meu peito, o qual está me deixando angustiado. A falta de notícias também era angustiante, nenhuma carta, nenhum aviso, nada.


Mas é claro que não haveria, eu o odiava e vinha deixando mais do que claro meu sentimento por ele.


Guardei o livro na estante e sai da biblioteca. Já estava perto da saída do castelo quando vi Rhaenyra receber uma carta e abri-la apressadamente, como se estivesse tão angustiada quanto eu e então me aproximei da alfa, afim de tentar descobrir se era de Lucerys.


- Lucerys quem mandou? – me surpreendi comigo mesmo, a pergunta saiu rápida e minha voz deixou transparecer preocupação. – Está tudo bem?


A futura rainha desviou o olhar para mim e grunhiu desinteressada.


- Ele chega amanhã. – ela respondeu sem olhar para mim. – Suponho que já tenha escolhido seu terno, já que você não quis se ocupar com a escolha da decoração.


- Não se preocupe, se está com medo que eu possa fugir não tem o que temer. – falei e me afastei em seguida indo até as portas grandes que davam para o pátio do castelo.


...


Cole e Joffrey disputavam de um treino árduo e perigoso, parece que meu sobrinho finalmente havia trocado a madeira por uma lâmina e devo dizer que o pirralho era muito bom.


O vi derrubar Sor Cole e soltei uma risada genuína ao ver o general se rendendo ao ômega e admitindo sua derrota. Ao olhar para meu sobrinho vi um sorriso divertido em seus lábios, me aproximei e o encarei.


- Se você me derrubar te levo pra dar uma volta em Vhagar. – dei um sorriso ladinho o desafiando e me coloquei em posição de combate assim que o vi endireitar sua postura. – Eu não vou facilitar.


- Não lembro de te pedir isso. – Joffrey mal havia terminado de falar quando o ataquei. – Dê o seu melhor, Mond. Mas garanto que hoje verei o por do sol montado na sua jacaroa.


Desviei de sua investida aos risos pelo apelido que ele havia dado a minha dragão e logo depois voltei a atacá-lo novamente. Joff era bom e não facilitava em nenhum momento.


Nossas espadas se choraram no ar e senti que Criston nos observava atento aos nossos movimentos. Vi Joffrey avançar para cima de mim e recuei, mas logo caí no chão por falta de atenção e o vi comemorar em um grito agudo.


...


- Não precisava ter se jogado no chão, sei que mesmo perdendo você iria me trazer com você. – o garoto disse assim que Vhagar alçou voo.


- Quem disse que eu caí de propósito? – perguntei em um sorriso enquanto puxava as cordas da sela. – Você é um convencido.


Joffrey sorriu mas logo se calou. Deduzi que ele estivesse apreciando a paisagem ali de cima e então me peguei sorrindo em silêncio. Era bom estar ali encima sobrevoando a floresta densa e sentindo a brisa fresca batendo em meu rosto.


Temo que não irei poder fazer isso em Driftmark, soube por rumores que o pessoal de lá são muito reservados e não gostam de ter dragões por perto. Meu peito se apertou com esse pensamento e me senti triste em saber que terei que ir embora de Porto Real, o lugar onde nasci e cresci.


E embora ache meu irmão Aegon um bêbado chato e inútil irei sentir sua falta e também de Helaena, ela que é sempre tão calada e distante. O que terei que fazer em Driftmark, será que Lucerys irá me dar uma função ali? Algo que não me fará ser visto com um peso morto, por exemplo?


Assim que o sol se pôs retornamos para o solo e seguimos de volta para o castelo. Meu casamento aconteceria em dois dias e a cada novo minuto que se aproximava eu me sentia mais apreensivo. Mil perguntas se passavam em minha cabeça e eu não conseguia ter uma resposta para nenhuma delas.


Joffrey e eu nos separamos assim que chegamos ao corredor de seus aposentos e dali segui para o meu próprio. Iria tomar um banho e tentar ler alguma coisa para tentar tirar aquela sensação ruim que venho sentindo desde a partida de Lucerys.


Deveria estar contente pelo afastamento do alfa, não faço ideia do motivo que o levou a ir para Pedra do Dragão, poderia ser eu ou não, mas a realidade era que sua presença estava fazendo falta.


Talvez fosse o desejo em tê-lo por perto para que eu pudesse afrontá-lo como vinha fazendo ou talvez sua presença fosse necessária para que eu me sentisse bem.


Não, com certeza não seria a última opção. Eu o odeio e sempre fiz questão de deixar isso muito claro para ele ou qualquer um que viesse a querer saber sobre meus sentimentos para com meu sobrinho.


...


O jantar já havia sido servido quando cheguei ao grande salão. Após o banho acabei pegando no sono e só acordei agora a pouco. Pelos Deuses, isso só poderia ter acontecido por causa da ansiedade ou apreensão que venho sentindo. Nunca fui um ômega frouxo ou desocupado e não começarei a ser agora.


Me vi obrigado a me sentar na cadeira de frente para Daemon e senti seu olhar pesado sobre mim. Apenas o ignorei e comecei a me servir. Enchi minha taça com vinho e comecei a comer minha comida em silêncio.


O clima estava tenso o bastante para pensar que estava em um velório e não  em um jantar familiar.


Rhaenyra tinha uma expressão séria em seu rosto e Daemon parecia entediado em seu assento. Me deu a impressão de que algo ruim teria acontecido e então Lucerys surgiu novamente em minha mente. A imagem do alfa me passou um certo conforto e eu apenas suspirei confuso.


- Gostou dos chocolates que mandei para você, minha samambaia? – me virei para meu sobrinho de repente e Lucerys simplesmente deixou meus pensamentos. – Seu chocolate preferido é o branco, então fiz questão de montar uma cesta com todos eles.


O clima mudou drasticamente.


Flor de samambaia? Esse era o novo apelido de Aegon? Mordi os lábios contendo uma risada e desviei o olhar para meu irmão. Aegon não me olhou de volta mas pude ver claramente seu olhar de irritação.


- Pergunte aos ratos que vivem na dispensa, dei tudo a eles. – Aegon respondeu em uma voz arrastada. – Se estiverem vivos poderão dizer se estavam bons. – o biquinho que se formou nos lábios de Aegon era muito fofo e eu sorri. – Não se compra um amor com chocolates.


- Então me deixe colocar minha semente em seu ventre. – A fala audaciosa do Velaryon pegou todos de surpresa, até Helaena que parecia estar completamente perdida em sua própria bolha ergueu a cabeça o encarando. – Quer prova maior?

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