Você tá com outra!

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Nathi

Eu estava sentada no sofá da sala e estar enrolada em um cobertor fazia com que o meu medo por trovões diminuísse. A chuva batia forte contra as janelas e o vento era forte e o seu rugido assustador. Mas não era isso que eu prestava atenção. Só conseguia escutar o som das suas vozes.  Não estavam gritando, mas havia algo estranho entre eles, uma tensão pairava no ar. Nunca tinha visto eles daquele jeito.

A voz da minha mãe estava em um tom agudo e a do meu pai baixa, parecendo se sentir culpado. Aquele tom me assustava mais que a tempestade.

A cada trovão as suas vozes aumentavam até que vejo minha mãe chorar e finalmente consigo perceber o que eles estavam conversando:

- Você tá com outra! Você me traiu, traiu a mãe da sua filha, seu arrombado! - os gritos ecoaram por toda a casa

Quê? Meu pai? Traindo minha mãe? Eles dois eram meu exemplo de amor, daquelas coisas que dizemos que queremos ter quando crescermos. E agora minha mãe estava falando que tudo aquilo que eu acreditava, todo o amor que eu achava que meu pai sentia por ela, era mentira?

A discussão intensifica. Os gritos aumento e as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Nunca achei que iria sentir mais medo de algo do que de trovões.

Só queria que tudo aquilo chegasse ao fim. Os gritos. Os trovões. Mas não chegava ao fim. Fiquei apenas debaixo do meu cobertor. Escutando toda a gritaria. Meu pai jurava pela vida deles que era mentira e minha mãe gritava mais alto falando que ele era um escroto e que não queria nunca mais ver ele na vida.

Quando escuto o som de vidro quebrando. Levanto a cabeça por impulso e vejo que minha mãe tinha atirado um copo na parede. Nunca vi seu rosto assim, seu olhar assim, nunca vi ela com tanta raiva, tão desiludida, tão exausta. Meu pai não tinha reação e eu também não. Só queria que minha mãe me acordasse daquele pesadelo e que tudo voltasse a ser igual antes, que ela me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem.

flashback/sonho off

Acordei de repente, o peito arfando, o suor frio escorrendo pela minha testa. Demorei um segundo para perceber que estava no meu quarto, no presente. Mas a tempestade continuava lá fora, mas já sem gritos, apenas o som de batidas na porta que me puxaram de volta à realidade.

Quem diabos estaria batendo na minha porta a essa hora?

Química - MC CabelinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora