Soon you'll get better

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Três semanas. Vinte e um dias desde que tudo desmoronou, e Taylor se via novamente de frente com uma sombra que conhecia bem: a melancolia que sempre esteve à espreita, um fantasma que visitava seus pensamentos nos momentos mais quietos. O quarto de hospital tinha se tornado um limbo, um lugar onde tempo e realidade pareciam se misturar, tornando difícil saber onde terminava a dor física e começava a dor emocional.

Ela estava viva, mas o que isso significava? A vida, que antes era cheia de música e movimento, agora parecia uma neblina espessa e opressiva. A cada vez que respirava, sentia o peso das perdas que carregava. O bebê, a relação que quase destruiu, as expectativas que o mundo tinha sobre ela, tudo parecia ter se acumulado até o ponto de ruptura. Ela se perguntava, com frequência, por que ainda estava aqui. E essa pergunta, embora nunca expressada em voz alta, ecoava em seus pensamentos como uma batida incessante, uma melodia amarga.

Taylor olhou pela janela do hospital, observando as árvores balançarem suavemente com o vento, como se o mundo lá fora estivesse em perfeita paz, alheio ao turbilhão dentro dela. Uma parte sua desejava ser como aquelas árvores, enraizada e firme, balançando com o vento sem jamais ser arrancada pela tempestade. Mas ela sabia que sua realidade era diferente. O vento, em sua vida, era sempre uma força destrutiva, arrancando-a de suas raízes e deixando-a à deriva.

Travis estava ao seu lado. Sempre esteve. Nas últimas três semanas, ele não a deixou sozinha por um segundo, como se tivesse medo de que, se ele desviasse o olhar, ela se perdesse novamente para o vazio. Havia uma tensão entre eles, uma dança delicada entre o silêncio e o que não era dito, mas Taylor sabia que ele estava ali — e isso, de certa forma, era reconfortante.

O médico entrou no quarto com o prontuário em mãos, seus passos suaves e compenetrados. Ele olhou para Taylor, depois para Travis, e fez um breve aceno de cabeça. O momento era solene. Taylor sabia o que estava por vir, mas ainda assim, seu corpo ficou tenso. Ela estava prestes a deixar aquele quarto, e com isso vinha uma nova responsabilidade: viver.

-“Taylor, você está sendo liberada hoje,” o médico começou, sua voz calma, mas direta. -"Fizemos todos os exames e, fisicamente, você está recuperada o suficiente para voltar para casa."

Ela assentiu lentamente, sem dizer nada. A palavra "recuperada" soava oca, como se não se aplicasse a ela. Estar fisicamente bem não significava que sua mente e sua alma estivessem.

-“Eu vou te passar algumas recomendações,” o médico continuou, folheando algumas anotações. -“Você precisa de bastante descanso. Evite qualquer atividade física intensa por um tempo. Caminhadas leves são o máximo que pode fazer por agora, sem pressão. Seus medicamentos também serão ajustados. Além dos antidepressivos, recomendamos ansiolíticos para controlar a ansiedade.”

A palavra "ansiedade" quase fez Taylor sorrir de forma amarga. Como alguém poderia chamar aquilo de "ansiedade"? Parecia mais uma escuridão densa que a sufocava a cada respiração.

-“Mas o mais importante,” o médico disse, fechando o prontuário e olhando diretamente para ela, -“é que você precisa de terapia. Sua mente precisa de cuidado tanto quanto seu corpo. Nós vamos encaminhá-la para sessões semanais de terapia cognitivo-comportamental e aconselhamento. Taylor, a depressão não é algo que você pode enfrentar sozinha. E eu sei que você sabe disso.”

Ela suspirou, o som quase inaudível. Terapia. A ideia de se abrir, de falar sobre tudo o que estava preso dentro dela, parecia exaustiva, mas ao mesmo tempo, ela sabia que era necessário. O que ela havia passado, o que ainda passava, não era algo que ela poderia simplesmente ignorar

A melancolia, pensou Taylor, era como uma velha amiga que sempre sabia a hora certa de aparecer. Nos momentos de silêncio, nas noites longas, ela vinha, se sentava ao lado, e sussurrava. Às vezes, parecia que a tristeza era sua companhia mais constante, enquanto a alegria era algo distante, quase impossível de alcançar.

My tears ricochet Onde histórias criam vida. Descubra agora