Pov' João
-Oi meu amor, sou a Júlia. -Essa moça me diz com um sorriso estremessedor em seu rosto, franzo a testa no mesmo segundo, ela começa a se aproximar e logo me dá um beijo na bochecha.
-Oi. -Digo quando ela se afasta e se senta na poltrona. Então essa é a tal Júlia.
-Meu Deus Jão, fiquei tão preocupada com você. -Ela diz me chamando pelo apelido que minha irmã me deu, passando a mão no rosto e com a outra mão, pegando a minha. -Não acredito que você não se lembre de mim, aposto que quando formos para casa você vai lembrar. -Agora, com um sorriso malicioso descendo a mão pelo meu peitoral machucado, logo resmungo de dor.
-Júlia, você pode me falar sobre a nossa vida antes de tudo isso? -Peço confuso para ela, que logo cruza os braços.
-Você tem duvidas de mim João? Aposto que aquele seu amigo Pedro, deve ter dito coisas para você. Ok, você quer saber sobre nosso passado? Isso é uma coisa, seu amigo Pedro sempre tentou arruinar nosso relacionamento, e no dia do acidente ele tinha brigado com você pois você decidiu não jogar futebol com ele para poder passar o dia comigo. -Ela diz claramente com raiva do rapaz que me trouxe calma a alguns minutos atrás. Sinto algumas pontadas na cabeça, estou muito confuso com o que ela diz.
-Nossa Júlia. -É a única coisa que pude dizer, não sei o que pensar. Meu avô tinha tanta certeza que ela era a minha namorada. Mas ao mesmo tempo, minha irmã também tinha certeza de que Pedro era meu namorado, e ele foi diferente, eu realmente senti algo diferente vindo dele e isso não aconteceu com a Júlia.
-Mas, meu amor, nossa vida não era só isso. Você foi morar no meu apartamento depois de um ano de namoro, em quase todos finais de semana íamos ao La Bife para um tipo de encontro romântico. A gente assistia a Supernatural todo dia antes de dormir e pedalavamos pela manhã. Tudo era perfeito e sei que com o tempo você vai se lembrar, meu bem, basta acreditar. -Ela fala acariciando minhas mãos, me fazendo ficar a cada palavra ainda mais confuso.
-Eu morava com você? -Pergunto, já que Pedro tinha dito a mesma coisa.
-Mora sim! Em um apartamento ótimo e aconchegante. Você vai adorar quando sair daqui. -Ela diz olhando ao redor do quarto. -Quando você voltar para a rotina, sei que você vai se rescostumar com sua nova vida.
-Como assim nova vida? -Pergunto confuso, parece que tudo que ela fala é confuso e que nada faz sentido, mas eu não sei o porque.
-Ué João, pensa um pouco. Você tinha uma vida e de uma hora para a outra você bateu o carro e não se lembra mais, se você não se lembrar nunca mais, você vai ter que começar uma vida nova, vai saber se você já não vai mais gostar das mesmas coisas de antes, né? -Ela fala com um entusiasmo sobre o que eu mais temo no momento. Se eu não lembrar mais da minha vida antes de tudo, vou decepcionar tanta gente.
-Não parece ser tão legal assim. Eu queria na verdade ter a minha vida de antes, por mais que eu não lembre de como era, vendo algumas fotos e pelo o que me falaram, parece que vou ficar muito mais confortável conseguindo voltar para o de antes, não para o novo. -Falo e ela fecha a cara, não entendo o motivo dela ter uma certa confiança de mim ter uma vida "nova".
-Ai João, como você sente isso sendo que nem se lembra? Para de ser tolo. Mas enfim, tenho certeza que daqui a algum tempo tudo vai ficar bem.
Ficamos ambos em silêncio, como se tudo o que ela disse tivesse sido a única coisa da nossa vida, como se ela não tivesse mais o que falar sobre nós. Ou talvez, o choque da situação caiu para ela e ela não saiba mais como lidar exatamente com isso. De qualquer forma, a enfermeira entra no quarto avisando que o tempo para a visita chegou ao fim, Júlia levanta rapidamente sem pensar duas vezes e logo se vira para mim.
-Tchau meu bem, eu vou ver quando consigo voltar, mas espero que logo. -Ela diz e eu sorrio como resposta.
-Tchau Júlia. -Digo e ela fecha a porta já indo embora. Tudo foi muito estranho, como se alguma peça do tabuleiro não se encaixasse, e é tão estranho saber que isso tudo é por minha culpa e isso é tão triste.
Não vejo a hora de poder ir para casa, se é que eu tenho uma. Não vejo a hora de poder me lembrar de tudo, da minha história, amigos, família, namorado, da minha carreira. Isso é uma coisa que ando pensando muito, por que ninguém me falou sobre minha profissão? Será que eu nunca consegui uma de verdade? Eu não aguento mais essas perguntas da minha mente, eu só quero que tudo volte ao normal.
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Acidente | Pejão
Roman d'amourJoão e Pedro estão na melhor fase de seu relacionamento, estão felizes por tudo estar dando certo entre eles e em suas carreiras. Mas a felicidade acaba quando João sofre um acidente e Pedro tenta reconquistar ele.