Sentimentos.

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Ele estava a frente daquela jaula novamente.

Não era a primeira vez, e talvez nem a última. Ele só gostaria que as circunstâncias que lhe fizeram chegar até aqui fossem outras. Menos violenta.

O garotinho, não mais que cinco anos, encarava o vasto escuro que provinha das profundezas daquela imensa jaula. Ela parecia grande, mas o menino tinha a impressão, a sensação, de que mesmo todo aquele espaço não era o suficiente. Era pequeno.

Ele, tão novo, tão minúsculo, sentia-se preso naquele lugar. Quem quer que estivesse lá dentro deveria se sentir pior, independente de seu tamanho.

Talvez seja essa a parte ruim dele? A parte que fez mal a vila? Que fez mal aos aldeões ao ponto de odiarem-no tanto? Talvez essa seja sua parte montruosa? Sua parte besta? Sua parte demônio?

Bem, ele queria que saísse. O que quer que fosse, ele queria que saísse. Era tão grande, mas tão apertado. Ele não queria se sentir preso. Ele odiava, todo mundo odiava. Ele não queria mais se segurar.

Por quê deveria? Se eles chamavam-no de mostro, se ele era um monstro, se ele e todos tinham ciência disso, ele não precisava mais se conter certo? Ele não precisava mais se esconder certo? Ele podia ser ele mesmo, ele podia ir embora.

Sem amarres, sem jaulas, sem contenções. Sem olhares, sem ódio, sem caça. Livre.

Olhos escarlates encontraram os seus. O selo rompido.

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