O legado do amor.

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Os grandes portões vermelhos se abriram com um rangido, mas mesmo depois disso, nada aconteceu.

O garoto pequeno não se atreveu a se mover, encarando com intensidade os olhos escarlates que o fitavam com curiosidade e receio, sem se aproximar também.

Mesmo depois das grades serem afastadas, mesmo o espaço ficando maior, a sensação de estar preso ainda não havia sumido. A sensação de estar amarrado, acorrentado, separado. Ele ainda sentia isso, e o menino, pequeno, parecia saber que a grande coisa que ainda o encarava sentia o mesmo.

Eles ficaram mais um tempo se observando. Nenhum movimento sendo feito. Até que o garoto minúsculo, em um sussurro de coragem e desejo, estendeu a mão. Os movimentos suaves, lentos, como se tentasse não assustar seu telespectador, apesar de seu tamanho.

Os olhos vermelhos encararam-no com confusão e curiosidade, observando o humano estender a mão e, em um ato de confiança impossível, desviar o olhar. Abaixar a cabeça e, com os olhos fechados, sua feição sem mais nenhuma sombra de medo ou dúvida, continuar com a pequena mão estendida. Como se também esperasse um movimento.

O grande ser ainda oculto observou com fascínio a ação do pequeno humano. A confiança derramada em si, nunca antes oferecida assim, de bom grado, sem desejo de algo em troca, sem querer seu imenso poder, era desconcertante e motivadora ao mesmo tempo.

O oculto moveu-se então, tentando saciar a sua curiosidade e a do pequeno humano também. Seus movimentos calculados, tensos, indolentes, tentando testar as águas e, ao mesmo tempo, não assustar o pequeno.

A raposa agora visível aproximou-se lentamente da pequena mão, seu focinho próximo, podendo sentir o cheiro de mar e sal e areia impregnados na alma do garoto. Cheiro de casa casa casa

Mas antes que a raposa fizesse seu movimento final, o barulho das grades rapidamente se fechando foi ouvido.









— Eu pensei que o selo funcionaria Minato. - Questionou uma voz feminina ao fundo, nervosa.

— Sim, bem, eu esperava que ele tentasse algo assim mais tarde. Além disso, estamos aqui juntos querida, isso não deveria acontecer, algo deu errado no selo.

Naruto finalmente abriu seus olhos, percebendo que os havia fechado novamente. Ele, rapidamente, deu de cara com uma linda mulher de cabelos longos e do tom de vermelho mais bonito que ele já viu. Ela o segurava, com carinho, diferente de todos os toques que ele já tenha sentido antes, e sorriu doce pra ele quando o percebeu acordado.

Atrás da linda mulher, um homem loiro. Era como olhar-se no espelho, porém mais velho e sem suas marcas características nas bochechas. Ele abraçava a mulher ruiva, consequentemente abraçando-o também, fazendo o menino notar que os três estavam sentados no parecia ser o chão.

O garotinho não tinha entendido muito bem. Um minuto atrás ele estava cara a cara com sua aparente contra parte, de frente com o que parecia ser a metade dele que havia sido subjugada, a parte que eles odiavam tanto. Ele estava aceitando-a, recebendo-a, talvez assim ele não se sentisse tão seco, vazio.

E então, de repente, o som das grades se fechando com força e rapidez o tirou de sua espera, assustando a ambos. Naruto abriu os olhos assustado, e apenas deu tempo de ver a grande raposa afastar-se rapidamente da barreira antes que tudo se tornasse escuridão. Ele ainda conseguiu ver o olhar assustado e confuso da grande raposa direcionado a si, compartilhado.

Ele acordou aqui, então. Sentindo pela primeira vez um toque gentil, pela primeira vez um sorriso doce, pela primeira vez o sentimento de amor casa amor

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