O peso da existência.

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Naruto desviou o olhar, os olhos azuis refletindo uma mistura de emoções conflitantes. Ele respirou fundo, ainda processando tudo o que havia aprendido recentemente.

— Eu acho... acho que na verdade não é tão ruim quanto vocês acham. - O garotinho disse.

Kushina e Minato se entreolharam com preocupação, os corações apertados ao ver o pequeno garoto lutando com sentimentos que ele ainda não deveria carregar.

— Coelhinho... — A voz de Minato era calma, mas havia uma gravidade nela. — A Kyuubi é uma Besta com Cauda, a mais forte de todas. Ela destruiu Konoha em segundos. O poder dela é pura maldade.

Kushina assentiu, o semblante sério. — Eu tive a Kyuubi selada em mim quando eu era mais nova. Foi realmente uma luta conseguir pegar e controlar seu poder. Era tanto ódio... eu pensei que seria consumida por isso. — Ela balançou a cabeça, como se tentasse dispersar as memórias. — E nem vamos lembrar de quando ela tentou matar você pimentinha.

Naruto apertou os punhos, mas ele não estava com raiva de seus pais. Ele só... é que, na verdade, ele estava frustrado. Ele sabe de todas essas coisas, eles lhe contaram tudo sobre a Kyuubi. Sobre a responsabilidade e o medo, mas, como sempre, ninguém via seu lado. Ninguém entendia como era ser ele.

— Quando você é constantemente caçado... quando você é constantemente odiado e usado. Quando você é preso, sem opções de sair, sem ajuda, você tende a odiar tudo. - O pequeno loiro disse, a voz baixa, mas carregada de uma tristeza antiga.

Kushina engoliu em seco, e Minato permaneceu em silêncio, observando o filho com uma dor silenciosa.

— Você sente medo, sente receio, sente raiva, ódio. — Continuou, o olhar distante, perdido em memórias que eles não podiam alcançar. — Você quer ajuda, mas sabe, sabe que, mesmo que você implore, eles não vão te deixar. E se você lutar, só piora.

Ele fechou os olhos, a respiração irregular, enquanto a amargura transbordava de suas palavras.

— E o pior? Você não fez nada. — Os punhos de Naruto se apertaram ainda mais, os nós dos dedos ficando brancos. — Você não fez nada e mesmo assim eles te odeiam. Odeiam sua vida, odeiam sua existência, odeiam o que você representa. Tudo, eles odeiam tudo em você e tudo o que está relacionado a você... até o que nunca pediu pra ser.

As lágrimas brilhavam nos olhos do menino, lágrimas de raiva, mas ele as segurou, recusando-se a deixá-las cair. Ele olhou para os pais, buscando respostas que eles não podiam dar.

— Você pode ter sido Jinchuuriki, mamãe... Mito-sama também. Mas vocês tiveram amor, tiveram amigos. — Ele balançou a cabeça lentamente, tentando processar o que queria dizer. — Eu não. Eu nunca tive isso... e é por isso que eu entendo.

Ele encarou sua mão. Aquela mesma que, uma vez, chegou perto de tocar a grande raposa. Aquela que, por um segundo, quase conseguiu trançar um laço entre eles, firmar uma união.

— Vocês podem dizer o quanto quiserem que somos diferentes, mas... a Kyuubi faz parte de mim. Ela é minha extensão, minha metade, mesmo que seja cheia de ódio. — Seus olhos estavam firmes, cheios de convicção. — Eles sempre nos viram como um só. E talvez... talvez sejamos.

Minato e Kushina o observavam, as palavras presas em suas gargantas. Eles viam a força em Naruto, uma força que cresceu de tantas lutas internas, tantas rejeições. Ele era único, forte de uma maneira que eles jamais poderiam ter imaginado. Mesmo com todo o medo e raiva, havia algo implacável em seu espírito.

Eles sabiam que não podiam mais interferir na vida de seu filho. Não só porque suas existências estavam limitadas àquela fração de chakra, mas porque Naruto já havia aprendido a andar sozinho. Ele havia crescido sem o amor deles, sem apoio, e ainda assim, sobrevivia. Ele se criou e moldou à própria imagem, e eles sabiam que seu caminho estava apenas começando.

Eles tinham orgulho de seu menino. Ele se provou forte, independente, inteligente e de mente aberta, conseguiria conquistar tudo o que quisesse. Eles só esperavam que ele não continuasse sozinho por muito tempo. Nem que fosse a Kyuubi, eles desejavam que seu filho tivesse alguém a seu lado um dia.

O tempo deles estava acabando, eles podiam sentir isso. Eles queriam ficar, ter mais tempo com o garotinho que se parecia tanto com eles, mas entendiam que era a hora. Ambos sorriram então, um sorriso orgulhoso, cheio de amor amor amor

— Você é tão forte filho... - Seu pai disse, acariciando seus cabelos idênticos aos dele.

— Nunca se esqueça Naruto, nós amamos você, sempre estaremos do seu lado. - Falou sua mãe, deixando-lhe um beijo suave em sua bochecha.

Naruto, silenciosamente, deixou que as lágrimas caíssem. Pela primeira vez, sentiu que não estava sozinho, então ele sorriu. Ele estava feliz por ter encontrado seus pais, ter entendido o lado deles, entendido aquela noite.

Seus pais o amavam, e ele os amava também, mesmo que o tempo deles juntos estivesse se esgotando. Ele está feliz por pelo menos ter tido esse momento com eles.

— Nós amamos você coelhinho. - Sussurrou Minato, deixando um toque carinhoso em seu nariz.

Naruto sorriu, as lágrimas escorrendo lentamente. Ele sabia que, mesmo que o caminho fosse solitário, ele não estava mais perdido.

— Eu amo vocês. — Sussurrou de volta.

E, por um breve momento, tudo parecia certo no mundo.

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