Capítulo VI

47 8 11
                                    

Juliette estava tão entusiasmada que até se esqueceu de jantar.

Ela gostou de Leila, mas ficou em dúvida com Rodolffo.  Não quis colocar rótulo mas pareceu-lhe um pouco leviano.

Entraram no avião e ela sentou-se junto de Leila.  Conversaram durante uma parte da viagem e aceitou uns snacks.

- Obrigada.  Nem me lembrei de comer.

- No camarim do show tem sempre comida.  Logo te habituas a estas andanças.

- Será?  É tudo tão diferente do trabalho que tinha antes.  Fechada num escritório ou no fórum.

- Agora é fechada no avião,  hotéis e palcos de espectáculos.   Bem diferente, sim.

- Mana, troca comigo.   Quero trocar ideias com Juliette.

- Que quer saber? - perguntou ela assim que ele se sentou.

- Primeiro que nos tratemos por tu.  Se vamos viver juntos, não há necessidade dessas formalidades.

- Viver juntos?

- É uma maneira de falar.  Há-de haver alturas em que vamos estar muitíssimos dias a trabalho.

- Quantos espectáculos costumas fazer por mês?

- Depende da altura.  Pode ser 10, 20 ou até mesmo 30.

- 30?  Todos os dias?

- Sim.  Nas festas de S. João por vezes acontece.  Eu e o meu parceiro temos uma agenda cheia.

- Ah!  Então é  uma dupla?  E onde está ele?

- Já está no Rio.  Foi mais cedo com a esposa.
Queres contar-me um pouco da tua vida?

- Não tem muito interesse.  Eu sou advogada.   Tinha emprego, família e namorado.  Estava infeliz e mandei tudo às urtigas.

- Assim do nada?

- Do nada não.   Cansei-me de uma relação abusiva, uma família que não me apoiava e um trabalho que já não me satisfazia.

- É.  Assim torna-se difícil.   E como reagiram a essa mudança?

- Não sei.  Vim embora sem falar com ninguém.  Não quero saber da opinião deles.

- Foi preciso muita coragem.

- Não lhe chamo coragem.  Diria que cansei de levar "pancada".  Abri os olhos e tomei consciência de que eu era mais que aquilo.

- E do namorado, não sentes falta?

- Não quero falar desse assunto.  É passado, está morto e enterrado. Vamos falar do que espera de mim.

- Apenas o teu apoio e colaboração.   Eu não sou muito exigente.   Às vezes um pouco chato quando tenho sono ou fome, mas fora isso nada me abala.  Correndo bem os espectáculos, eu fico feliz.

- Cantas há quanto tempo?

- Desde criança.   É impossível nunca ouvires falar da dupla.

- Não.  Como disse não é o género que eu ouvisse muito.

- Quer dizer que este trabalho para ti vai ser fastidioso.  Ouvir o que não se gosta todos os dias é uma penitência grande.

- Não é que não goste.  Quem sabe depois de te ouvir eu mude de opinião.  Sou bastante eclética.

- Eu garanto que daqui a pouco tempo não vais querer ouvir mais nada.

- Convencido.   O meu forró sempre estará em primeiro lugar.  Até porque amo dançar.

- Eu também amo, mas sou um pé de chumbo.  Terei que ter umas aulas à parte contigo.

- O pagamento é extra.  Não estou contratada para professora de dança.

- Mas como assessora...

- A Leila dá-te aulas?  Faz parte das suas obrigações?

- Não são aulas, mas ela dança comigo, sim.

Foram informados que o avião ia aterrar e não  demorou muito para estarem em terra firme.  Uma van esperava por eles para os levar ao hotel.



Parceria de vida.Onde histórias criam vida. Descubra agora