Juliette estava tão entusiasmada que até se esqueceu de jantar.
Ela gostou de Leila, mas ficou em dúvida com Rodolffo. Não quis colocar rótulo mas pareceu-lhe um pouco leviano.
Entraram no avião e ela sentou-se junto de Leila. Conversaram durante uma parte da viagem e aceitou uns snacks.
- Obrigada. Nem me lembrei de comer.
- No camarim do show tem sempre comida. Logo te habituas a estas andanças.
- Será? É tudo tão diferente do trabalho que tinha antes. Fechada num escritório ou no fórum.
- Agora é fechada no avião, hotéis e palcos de espectáculos. Bem diferente, sim.
- Mana, troca comigo. Quero trocar ideias com Juliette.
- Que quer saber? - perguntou ela assim que ele se sentou.
- Primeiro que nos tratemos por tu. Se vamos viver juntos, não há necessidade dessas formalidades.
- Viver juntos?
- É uma maneira de falar. Há-de haver alturas em que vamos estar muitíssimos dias a trabalho.
- Quantos espectáculos costumas fazer por mês?
- Depende da altura. Pode ser 10, 20 ou até mesmo 30.
- 30? Todos os dias?
- Sim. Nas festas de S. João por vezes acontece. Eu e o meu parceiro temos uma agenda cheia.
- Ah! Então é uma dupla? E onde está ele?
- Já está no Rio. Foi mais cedo com a esposa.
Queres contar-me um pouco da tua vida?- Não tem muito interesse. Eu sou advogada. Tinha emprego, família e namorado. Estava infeliz e mandei tudo às urtigas.
- Assim do nada?
- Do nada não. Cansei-me de uma relação abusiva, uma família que não me apoiava e um trabalho que já não me satisfazia.
- É. Assim torna-se difícil. E como reagiram a essa mudança?
- Não sei. Vim embora sem falar com ninguém. Não quero saber da opinião deles.
- Foi preciso muita coragem.
- Não lhe chamo coragem. Diria que cansei de levar "pancada". Abri os olhos e tomei consciência de que eu era mais que aquilo.
- E do namorado, não sentes falta?
- Não quero falar desse assunto. É passado, está morto e enterrado. Vamos falar do que espera de mim.
- Apenas o teu apoio e colaboração. Eu não sou muito exigente. Às vezes um pouco chato quando tenho sono ou fome, mas fora isso nada me abala. Correndo bem os espectáculos, eu fico feliz.
- Cantas há quanto tempo?
- Desde criança. É impossível nunca ouvires falar da dupla.
- Não. Como disse não é o género que eu ouvisse muito.
- Quer dizer que este trabalho para ti vai ser fastidioso. Ouvir o que não se gosta todos os dias é uma penitência grande.
- Não é que não goste. Quem sabe depois de te ouvir eu mude de opinião. Sou bastante eclética.
- Eu garanto que daqui a pouco tempo não vais querer ouvir mais nada.
- Convencido. O meu forró sempre estará em primeiro lugar. Até porque amo dançar.
- Eu também amo, mas sou um pé de chumbo. Terei que ter umas aulas à parte contigo.
- O pagamento é extra. Não estou contratada para professora de dança.
- Mas como assessora...
- A Leila dá-te aulas? Faz parte das suas obrigações?
- Não são aulas, mas ela dança comigo, sim.
Foram informados que o avião ia aterrar e não demorou muito para estarem em terra firme. Uma van esperava por eles para os levar ao hotel.